Giz Explica: é correto usar o mesmo carregador para vários dispositivos?
A revolução da computação móvel pode ter nos libertado de gadgets que precisam estar sempre ligados na tomadas – mas nossas baterias uma hora acabam. E com um carregador para cada gadget, agora existe uma mistura variada de cabos de alimentação agrupados em tomadas elétricas. Veja como limpar esse ninho de rato e recarregar a maioria dos seus gadgets usando apenas alguns cabos.
“Mas eu uso microUSB em quase tudo”, diz você. Só que nem todos os cabos microUSB são criados iguais: o carregador pode até se encaixar no seu dispositivo, mas não significa que você deve usá-lo. Diferentes smartphones e tablets têm diferentes requisitos de corrente elétrica: se vier muita corrente do carregador, o gadget pode sofrer danos; se for pouca, o dispositivo vai demorar uma eternidade para carregar.
Isso é válido também para outros tipos de conector. Enquanto o iPhone 3GS e o iPad 3 possuem um conector de 30 pinos, seus carregadores fornecem energia a taxas completamente diferentes. Usar o mesmo carregador para muitos gadgets, se não causar danos, pode levar à frustração.
Tensão igual, corrente diferente
Esta é a mesma premissa válida para sistemas domésticos de fusíveis. Colocar um fusível 20A em um circuito 15A pode fritar tudo o que for conectado a ele; colocar um fusível 15A em um circuito 20A vai explodir os fusíveis, um após o outro, porque eles não foram feitos para lidar com essa toda essa carga. Tudo só funciona como deveria quando a corrente elétrica é igual.
Isto costumava ser um problema muito maior por conta dos muitos carregadores proprietários, e dos muitos conectores para cada dispositivo (como na imagem acima). Felizmente, o advento do USB mudou tudo isso, e vem proporcionando uma padrão fácil de seguir. Todos os cabos USB carregam na mesma tensão de 5V, não importando se ele tem 30 pinos ou um plugue microUSB, seja ele da fabricante original ou de terceiros.
Isso significa que, se os volts, amperes e conectores forem compatíveis, uma tomada de parede da Apple pode carregar um aparelho da HTC tão facilmente quanto um da Samsung (só o cabo é diferente, o que não interfere em nada). No entanto, nem sempre os volts, amperes e conectores são compatíveis – é aí onde as pessoas entram em apuros.
Como eles têm a mesma tensão de 5V, os carregadores USB precisa de outro meio de levar energia (medida em watts) mais rápido para aparelhos maiores. Para fazer isso, o sistema aumenta a corrente (medida em amperes):
- a maioria dos cabos USB limita a corrente em até 1,5 ampere;
- mas novos carregadores para iPad podem entregar 2,1 amperes;
- enquanto a porta USB padrão do seu laptop fornece só 0,5 ampere.
É por isso que um carregador de 1A não é eficaz em um iPad de 2,1A, por exemplo: o dispositivo consome energia no mesmo ritmo que a recebe.
Como saber se estou usando o carregador correto? Confira o texto pequeno escrito na parte de trás do carregador, e você verá que ele diz algo assim: “Saída: 5,0 V – 0,7 A”. Então veja seu aparelho: na parte interna – ou na traseira, caso ele seja lacrado – você verá um texto semelhante. Por exemplo, “Alimentação: 3,7 V – 1 A”.
Um carregador de 0,7A serve para um celular de 1A? Sim. No entanto, caso seu gadget exija muito mais corrente que seu carregador pode fornecer, a recarga vai demorar muito: o carregador de 0,7A não seria adequado para um iPad (2,1A), por exemplo.
Além dos volts e amperes, a terceira métrica para se ter em mente é a frequência. No Brasil e América do Norte, tudo funciona a 60Hz; enquanto na Europa muitos países usam a frequência de 50Hz. Felizmente, a maioria dos eletrônicos mais modernos possuem conversores integrados, que permitem que o dispositivo funcione em ambas as frequências, assim como são bivolt e usam tanto 120V como 220V.
Como carregadores inteligentes funcionam
Se tudo isso soa muito complicado, a boa notícia é que, pelo menos, o carregador que você está usando para carregar seu celular ou tablet provavelmente sabe o que está fazendo. Carregadores inteligentes são aqueles que utilizam um pequeno chip CMOS para monitorar e gerenciar o estado de carga (SoC) e estado de saúde (SoH) das baterias equipadas com um chip semelhante.
Isto existe na maioria das baterias secundárias no mercado, e é onipresente entre os sistemas de íons de lítio. Este recurso permite que as baterias possam carregar sem que você fique de olho nelas, e sem o medo de que elas superaqueçam ou explodam: quando elas chegam no 100%, o carregador fornece apenas uma carga lenta para mantê-la cheia.
O processo de carregamento dessas baterias ocorre tipicamente em três fases. Na primeira fase, de corrente constante, despeja-se uma grande quantidade de tensão e corrente na bateria. Como a bateria está quase vazia, há pouco perigo de superaquecimento. A taxa de absorção natural da bateria – a tensão e corrente máximas que podem aguentar sem superaquecimento – muitas vezes é obtida nesta fase.
Assim que a bateria enche a 80% da capacidade, o carregador reduz a corrente mas mantém a tensão de entrada – esta é a segunda fase, de tensão constante. Isto permite que a bateria quase atinja, sem superaquecimento, a capacidade plena. No entanto, a corrente cai continuamente à medida que a bateria se enche, ou seja: os 20% finais exigem uma quantidade significativamente maior de tempo do que os primeiros 20%.
A fase final, a cerca de 85% a 95% de capacidade, é conhecida como float: uma carga lenta destinada apenas para assegurar que a capacidade seja mantida em até 100%, e não passe disso.
Faça a conexão
Quando você tiver certeza de que seu dispositivo está usando o carregador certo, tudo o que resta é garantir que seus cabos USB estejam equipados com o conector adequado. Então use um carregador para seus celulares, e outro para seu tablet.
Mas o microUSB que acompanha um celular funciona muito bem com outros: se você tiver mais de um celular, pode usar o mesmo carregador para ambos sem problema. Isso vale mesmo para celulares com conectores diferentes, como iPhone e Androids: use o mesmo plugue, e troque apenas o cabo.
Em resumo? Embora você possa usar o mesmo carregador para vários dispositivos, você provavelmente não deveria. Não a menos que você quer estragar o seu gadget, ou esperar uma vida inteira para que ele recarregue.
[Lifehacker – Battery Stuff – Wise Geek – Apple – iLounge; valeu Phloclo23, via Whitenoise]
Imagens por: Olga Popova/shutterstock; showice/shutterstock; optimarc/shutterstock