Google e o poder mortal dos dados
Semana passada, quando o Google mostrou seu navegador GPS em fase beta, as ações da Garmin, TomTom e de outras empresas no setor de GPS despencaram. É difícil competir com programas gratuitos do Google, mas o problema delas é outro…
A TomTom é dona da Tele Atlas, que dirige pelas ruas do mundo para fazer mapas, e até recentemente era uma grande provedora de mapas para o Google. A Nokia é dona da única grande concorrente, a NavTeq, que também já forneceu mapas para o Google. Mas veja o Google Maps agora, e você vai reparar que todo o mapa dos EUA tem só um copyright: do Google.
O Street View não é só um jeito legal de reunir imagens reais para acompanhar os dados do Google Maps. Aparentemente, era uma forma de passar pelas mesmas vias que já estavam no Google Maps, rastreando-as com equipes próprias do Google, e — através de eficiência e força bruta — dispensar as caras licenças de mapas. O Google já mapeou os EUA, e com certeza vai mapear o restante do mundo em breve.
Isto é só um exemplo oportuno do crescimento monstruoso do Google, e a destruição que ele causa. Qualquer negócio que vende dados ou pacotes para consumo público pode, um dia, passar pela mesma situação. A questão não é competir ou não com o gigante: é fazer ou não negócios com ele. Em ambos os casos, existe a chance de ser destruído.
A Garmin pode ter uma relação há tempos com a Navteq, mas eles não são donos de nenhum mapa. Como eles vão competir com um app gratuito do Google se eles ainda têm que pagar pelos mapas? (Pior, a Garmin ainda fabrica navegadores GPS, onde os lucros são superpequenos.) A TomTom é dona dos mapas, mas cobra 100 dólares pelo próprio app porque eles também ganham dinheiro licenciando mapas para montadoras de carros, para fabricantes de GPS na concorrência e para serviços na web — por exemplo, o Google. Antes, o Google era uma fonte gorda de receita para a TomTom; agora o Google é um esperto competidor.
Se uma oferta específica de dados era a única coisa mantendo a TomTom e outros prestando serviço para o Google, quem vai ser o próximo a cair do cavalo?
Eu sempre tive medo de aranhas quando era criança, não por causa das oito patas ou dos olhos bizarros, mas pela maneira que elas matam a presa. Elas colocam a presa em uma posição conveniente, depois usam o veneno para paralisar as partes internas da vítima, até ela virar somente um objeto com olhos vidrados. Ser morto assim é meu pior pesadelo; talvez eu deva perguntar à TomTom como é essa experiência.
Eu sou fã dos produtos do Google, e os uso todo dia. Isto não é um ataque à concorrência do Google, mas uma explicação da inovação destrutiva que tornou a empresa muito grande em pouco tempo. (Isto também é um aviso para tomar cuidado com quaisquer entidades que fiquem fortes assim, especialmente se quiserem fazer negócios com ela.) Outros predecessores, como a Microsoft, também passaram por uma fase de crescimento explosivo, e também criaram de repente uma dependência global, mas algo como o Google nós ainda não vimos. O setor de GPS não é o único que será consumido pelas mandíbulas do Google antes do tempo.
Nós já vimos a desvalorização das suítes de produtividade que deixou a Microsoft rica; nós já vimos como as experiências do Google com a Apple e outras ajudou-o a criar plataformas de telecomunicações (tanto móveis, como o Android, como completamente virtuais, como o Google Voice) que ameaçam a existência dos antigos parceiros da empresa; nós já vimos como o Google oferece, sem cobrar um centavo, fotos, vídeos, notícias de agências e outros produtos antes de alto valor, desfazendo a noção de escassez que permitiu provedores de "serviços" ganharem um bom dinheiro.
Então quem será o próximo? Quais outras marcas paralisadas terão o mesmo destino da Garmin e da TomTom? Os bancos de imagens Corbis e Getty? As agências de notícias Reuters e AP? As empresas de entretenimento Warner e Disney?
Esta é uma história já contada, e que provavelmente será recontada, mas vale estudar o básico desta história — mesmo que eu esteja escrevendo tudo isto no Google Docs. Eu nunca falei com uma aranha, mas tenho certeza de que elas não são más, apesar do que as histórias infantis nos contem. Elas só fazem o que a natureza manda, e fazem isso muito bem.