Google faz 25 anos: IA é ameaça e esperança para a companhia
Larry Page e Sergey Brin fundaram o Google em setembro de 1995. Comandaram a companhia até dezembro de 2019, quando decidiram deixar o dia a dia da empresa e permanecer apenas como principais acionistas e membros do conselho.
O afastamento da dupla teve de ser interrompido em dezembro de 2022, quando eles foram chamados para reuniões de emergência na sede, em Mountain View (Califórnia). O objetivo era discutir uma tecnologia que passava por um salto de desenvolvimento: a inteligência artificial.
Dias antes das primeiras reuniões de Page e Brin com altos executivos do Google, uma companhia relativamente desconhecida, a OpenAI, divulgou o ChatGPT — um chatbot alimentado por inteligência artificial que interage com humanos e é capaz de oferecer explicações e respostas complexas sobre qualquer assunto.
Inteligência artificial não é um tema novo para as Big Techs – o próprio Google já usava ferramentas alimentadas por IA em diversos produtos.
Mas o lançamento do ChatGPT, que trazia uma inesperada sofisticação e, consequentemente, atraiu uma avalanche de usuários, ligou o alerta de Sundar Pichai, CEO da Alphabet, holding que controla o Google, e dos demais executivos da empresa.
O ChatGPT poderia ser a maior ameaça à galinha dos ovos de ouro do Google: o seu buscador, que abocanha mais de 90% do mercado de sistemas de buscas.
Assim, todo o modelo de negócios do universo de buscas (links patrocinados, como uma busca é apresentada ao usuário etc.), seria bastante afetado por ChatGPT e semelhantes.
Após uma apresentação conturbada no início do ano, em março o Google liberou o acesso, inicialmente apenas nos EUA e no Reino Unido, para o Bard, a sua ferramenta de IA.
Em julho, os brasileiros também passaram a usar esse chatbot treinado em um grande modelo de linguagem (LLM, na sigla em inglês) desenvolvido pelo Google.
Um quarto de século
Em 4 de setembro deste 2023, cerca de dez meses depois daquelas primeiras reuniões emergenciais em que participaram Page e Brin, o Google completa 25 anos de vida.
A companhia fundada em uma garagem na Califórnia não apenas se transformou em uma gigante avaliada em mais de US$ 1,5 trilhão, mas mudou radicalmente como o ser humano se comporta diante de um computador.
Praticamente tudo o que fazemos online, da pesquisa de um produto à conexão com serviços (sem falar no revolucionamento da publicidade), tem as mãos (ou os bits) de algum engenheiro do Google.
Este é o cenário em que o Google vai assoprar as 25 velinhas: uma companhia poderosíssima pode ser ameaçada por uma tecnologia que tornou-se popular há apenas alguns meses, a inteligência artificial.
Mas a mesma inteligência artificial pode ser considerada, também, uma esperança, uma maneira de a companhia se rejuvenescer para os próximos 25 anos.
É isto o que o Giz Brasil pescou a partir de uma entrevista com Bruno Pôssas, vice-presidente de engenharia da Busca do Google. Veja a seguir a íntegra, concedida por email.
Giz Brasil – Em quais e quantos produtos do Google a IA está presente? Qual é a avaliação de desempenho deles? Como eles mudaram o Google enquanto empresa?
Bruno Pôssas – Já se passaram sete anos em nossa jornada enquanto empresa ‘AI-first’, ou seja, desde que colocamos a inteligência artificial como um elemento central de nossos produtos e serviços. Neste momento, vivemos um ponto de inflexão que, para nós, é animador. Temos a oportunidade de tornar a IA ainda mais útil para pessoas, empresas e comunidades.
Alguns de nossos produtos mais populares no Google foram criados inteiramente usando tecnologias de inteligência artificial, como reconhecimento óptico de caracteres e aprendizado de máquina. Uma das primeiras aplicações de larga escala de aprendizado de máquina na busca do Google ocorreu em 2001, quando um modelo foi incorporado ao sistema de verificação ortográfica. E inúmeros outros produtos do Google já utilizam IA – do Gmail (filtragem de spam, preenchimento automático etc.) ao Google Tradutor (compatível em mais de 130 línguas e idiomas com recursos de conversão de texto em fala), Lens e Assistente. Como resultado, são muito melhores e mais úteis para bilhões de pessoas.
Em fevereiro deste ano, anunciamos o Bard, uma ferramenta de AI conversacional, que está em fase experimental e vem evoluindo, graças ao feedback de nossa comunidade de usuários. Ao longo dos últimos meses, avançamos rápido nas melhorias e adicionamos novos recursos para potencializar a criatividade, aguçar a curiosidade e aumentar a produtividade das pessoas. Em julho, expandimos o experimento em mais de 40 idiomas, incluindo o português do Brasil.
No Google Cloud, nossa divisão de nuvem, as empresas têm se apoiado em nossas tecnologias baseadas em IA para aprimorar seus serviços, assim como desenvolver novos. Uma das soluções mais procuradas pelas empresas é o Vertex AI, nossa plataforma de aprendizado de máquina, que tem sido adotada para ajudar a resolver diferentes desafios de negócios, como por exemplo, apoiar os clientes com recomendações de produtos que atendam às suas necessidades e preferências.
Giz Brasil – Podemos dizer que a inteligência artificial será tão importante para o Google como foi o sistema de buscas? A inteligência artificial pode, no futuro, substituir ou mudar drasticamente a maneira como fazemos buscas na internet?
Bruno Pôssas – Temos 25 anos de experiência dedicados à ciência e ao desenvolvimento da busca como a conhecemos hoje. Essa dedicação trouxe maneiras completamente novas de explorar as informações do mundo ao longo do tempo, incluindo pesquisas visuais com o Lens ou que combinam imagem e texto por meio do Multisearch.
E, como a IA vem evoluindo rapidamente, estamos focados em nossa missão de organizar as informações do mundo e torná-las universalmente acessíveis e úteis.
Novos avanços nesse campo estão nos ajudando a transformar a maneira como as informações são organizadas, ajudando as pessoas a examiná-las e entendê-las com maior facilidade, agilidade e profundidade.
Giz Brasil – Como o Google se prepara para disputar o mercado de inteligência artificial com concorrentes como OpenAI e Meta, entre outros? Quais são as vantagens do Google?
Bruno Pôssas – Temos um longo histórico com IA. Em 2016, nosso CEO, Sundar Pichai, transformou o Google em uma empresa que prioriza a IA, porque vimos, e continuamos a ver, essa tecnologia como a maneira mais significativa de cumprir nossa missão.
O projeto de pesquisa Transformer, publicado em 2017, que, juntamente com nossos importantes avanços em modelos de difusão, é a base de muitos dos aplicativos e modelos de IA generativa que estamos começando a ver hoje, não apenas no Google, mas também em toda a indústria.
Estamos entusiasmados com o poder de transformação dessa tecnologia e com as novas maneiras úteis de aplicá-la. Desde pesquisas científicas até integrações de produtos projetados para facilitar o dia a dia, incluindo a aplicação da IA para fazer a diferença na vida daqueles que mais precisam, estamos comprometidos com inovações e tecnologias responsáveis que beneficiam toda a humanidade.
Estamos convencidos de que as inovações habilitadas pela IA, que estamos focados em desenvolver e entregar com ousadia e responsabilidade, são e serão cada vez mais úteis e têm o potencial de ajudar e melhorar a vida das pessoas em todos os lugares – isso é o que nos motiva. E estamos animados para compartilhar algumas novas experiências inovadoras em 2023 e além.