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O Google rastreia onde você esteve mesmo com o Histórico de Localização desativado

Quando um usuário opta por pausar o rastreamento de dados de localização do Google na opção “Histórico de Localização”, a gigante das buscas continua coletando e armazenando informações desse tipo. É quase um truque de ilusionismo, suficiente para fazer quem se preocupa com segurança e privacidade tomar medidas mais drásticas. • Como Facebook, Google e […]

Quando um usuário opta por pausar o rastreamento de dados de localização do Google na opção “Histórico de Localização”, a gigante das buscas continua coletando e armazenando informações desse tipo. É quase um truque de ilusionismo, suficiente para fazer quem se preocupa com segurança e privacidade tomar medidas mais drásticas.

Como Facebook, Google e Microsoft usam truques para que o usuário prefira escolher “eu aceito”

Seguindo um post de K. Shankari, pesquisador da Universidade de Berkeley, a Associated Press decidiu verificar o que é exatamente preciso fazer para desativar a gravação do seu histórico de localização ao usar produtos do Google. A agência de notícias descobriu que os controles de usuários podem ser bem confusos, se você não estiver prestando atenção.

Todos os apps do Google têm uma opção para desativar o rastreamento e o armazenamento dos seus dados de localização de um jeito ou de outro. Você pode entrar em um labirinto de dados próprios, histórico de buscas, configurações de anúncios e mais coisas no hub de gerenciamento de controles de privacidade.

O jeito mais fácil de ajustar as preferências de localização é ir aos controles de atividade usando um navegador — pode ser em um computador ou um em celular. Você verá vários tipos de rastreamentos de atividade com botões liga/desliga. Um deles é o “Histórico de Localização”. Aparentemente, essa deveria ser a configuração óbvia para quem quer que o Google pare de lembrar as vezes que seguiu seus movimentos pelo mundo.

Mas isso não é o suficiente. Baseado na categoria e na descrição, é totalmente compreensível que alguém acredite que desligar isso seja o suficiente para proteger suas informações de localização. De fato, a página de suporte do Google para o Histórico de Localização diz exatamente isso: “Com o Histórico de Localização desativado, os lugares que você frequenta não são mais armazenados.”

Na verdade, não é bem isso o que acontece. Essa configuração só faz com que o Google pare de colocar seus dados de localização em uma linha do tempo visual, baseada nas suas interações com serviços. Para fazer a empresa parar de armazenar lugares em que você esteve ao usar seus vários aplicativos, você precisa pausar a configuração chamada “Atividade na Web e de Apps”.

A descrição dessa preferência poderia fazer você acreditar que ela tem mais a ver com resultados de busca personalizados. No entanto, a mesma opção também controla o rastreamento de dados de localização que, associados com algumas buscas, podem mostrar propagandas mais precisas quando você procura alguma coisa como “cookies de chocolate”.

Você pode encontrar aqui para ver instruções detalhadas sobre como deletar o histórico completo armazenado pelo Google. Depois de ir em “Minha atividade” e “Excluir atividade por”, o processo é bem auto-explicativo.

A AP procurou Jonathan Mayer, cientista da computação formado em Princeton e ex-chefe de tecnologia do escritório executivo da FCC (equivalente da Anatel nos EUA), para se certificar que seu entendimento sobre as práticas do Google estava correto. Mayer colocou um de seus pesquisadores de pós-doutorado, Gunes Acar, para andar por diversos lugares de Nova York levando consigo um telefone com o Histórico de Localização pausado. Depois disso, ele subiu um mapa das atividades que foram registradas.

Mayer disse à AP que acha que o que o Google está fazendo é errado. “Se você permite que o usuário desative uma coisa chamada ‘Histórico de Localização’, isso deveria desligar todas as coisas que registram um histórico de localização.”

Mas a verdade é que uma análise de pesquisadores de Princeton e evidências diretas não são tão necessárias. O próprio Google admite que é assim mesmo que o sistema funciona. Um porta-voz declarou à AP:

Há diversas maneiras diferentes pelas quais o Google pode usar a localização para melhorar a experiência do usuário, incluindo o Histórico de Localização, a Atividade na Web e de Apps e, no nível do dispositivo, os Serviços de Localização. Nós fornecemos descrições claras e controles robustos sobre essas ferramentas. Assim, as pessoas podem ligar ou desligar, bem como deletar seus históricos a qualquer momento.

“Descrições claras” e “controles robustos” são as frases centrais aqui. O Google tem um monte de controles, menus, explicações, pop-ups, termos de serviços e políticas de privacidade ao longo de todos os seus produtos. É objetivamente confuso.

Quando eu fiz uma revisão do que o Google estava coletando sobre nós e tentei desativar todo o histórico de localização usando um iPhone, minha experiência foi bem diferente daquela da AP.

Eles receberam um pop-up em que se lê “Nenhum dos seus apps do Google vai poder armazenar dados de localização no Histórico de Localização” — uma mensagem sorrateira, que é tecnicamente verídica.

Nós vimos um aviso mais longo, que era levemente mais claro sobre as intenções do Google de continuar coletando dados de localização. Pode ser simplesmente porque nós acessamos os controles por um método diferente do que a AP usou em seus testes. Mas a questão continua: isso não deveria ser tão confuso.

Procurado sobre o assunto, o Google mandou a seguinte declaração ao Gizmodo:

O Histórico de Localização é um produto do Google que é inteiramente opcional, e os usuários têm controles para editar e apagar as informações ou desligá-lo a qualquer momento. Como nota a matéria, nós garantimos que os usuários do recurso saibam que, ao desativar o produto, nós continuamos usando a localização para aprimorar a experiência com o Google ao fazer coisas como buscas ou rotas.

Não é uma descoberta pioneira, feita por uma delação ou uma denúncia. É basicamente uma prática que estava escondida bem diante de nossos olhos. Bastava prestar mais atenção, e quase ninguém fazia isso. E, convenhamos, não deveria ser necessário ficar tão atento assim.

Imagem do topo: Getty

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