Groenlândia pode ter sido um mar de magma nos primeiros anos da Terra
Há bilhões de anos, partes da Groenlândia possivelmente eram um mar de magma, um nítido contraste com o gelo visto lá hoje. É o que indicam pesquisadores que encontraram sinais de isótopos da Terra primordial e borbulhante em rochas de basalto perto de Nuuk.
Acredita-se que no início de sua história, a Terra tinha um grande oceano de magma; é uma etapa comum na evolução dos planetas. Mas, graças à tectônica do planeta, restaram poucas evidências de como era essa versão da Terra.
A pesquisa, publicada na sexta-feira (12) na revista Science Advances, descreve assinaturas de isótopos de ferro e tungstênio de rochas de 3,7 bilhões de anos. Esses sinais são indicativos de elementos do manto da Terra no primeiro meio bilhão de anos da formação do nosso planeta.
“A questão que me motivou foi: se achamos que o estágio do oceano de magma foi importante para a história da Terra, por que não há evidências geológicas disso?” disse Helen Williams, geóloga da Universidade de Cambridge e principal autora do artigo, em uma chamada de vídeo. “E se nós realmente tentássemos caçá-las diretamente?”
A Terra está constantemente limpando as placas tectônicas com sua atividade geológica; o local na Groenlândia é o primeiro a indicar um mar gigante e ardente. Na verdade, o local de pesquisa em Isua (perto da calota glacial da Groenlândia) é o mesmo que virou notícia alguns anos atrás, quando possíveis estromatólitos – fósseis de bactérias, a vida mais antiga conhecida na Terra – foram identificados lá.
No entanto, a atividade magmática registrada nas rochas teria ocorrido centenas de milhões de anos antes de tais micróbios se estabelecerem, quando a Terra e a Lua tinham acabado de se tornar objetos distintos. (Na verdade, é mais fácil encontrar informações sobre o oceano de magma olhando para a Lua.)
Quando o oceano de magma finalmente esfriou, alguns de seus componentes mais profundos se cristalizaram em pressões muito altas a mais de 643 km abaixo da superfície da Terra, disse Williams.
Então, como você caça um antigo oceano de magma, há muito tempo solidificado e resfriado? Encontrando assinaturas geoquímicas que indicam as circunstâncias em que se formaram.
Williams disse que havia correlações positivas entre os isótopos detectados e um indicador para condições de alta pressão, o que deu à equipe “muita confiança” em seu resultado.
Muito mais trabalho de pesquisa será necessário para encontrar outras geoassinaturas que indiquem como era a situação do magma inicial, oceânica ou não. Devido à tendência natural da Terra de limpar sua história, através de mudanças tectônicas ao longo do tempo, não sabemos a data exata do oceano de magma estudado, ou quanto do planeta ele teria coberto.
Os pesquisadores pretendem analisar outras formações de basalto para obter mais evidências. Foto: RICHARD BOUHET/AFP via Getty Images (Getty Images)
“Não está claro exatamente quão uniforme é o interior da Terra, como o interior pode ter mudado ao longo do tempo e como quaisquer regiões anômalas podem ter surgido”,disse Stephanie Brown Kerin, geóloga do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e que não é afiliada ao artigo recente, em um e-mail.
“A maioria dos trabalhos, mas não todos, tende a se concentrar nos processos de placas tectônicas na criação de regiões anômalas, então estou animada para ver novos estudos tentando encontrar evidências de outros processos, por exemplo, oceanos de magma, que pensamos que poderiam ter ocorrido na Terra muito cedo.”
No futuro, os pesquisadores pretendem analisar outras rochas de formação lenta, como a pluma de basalto do Havaí, de acordo com Williams.