Um tributo ao lendário criador de fontes que inspirou o emoji

Hermann Zapf, designer alemão de tipos que faleceu esta semana aos 96 anos, foi o responsável por várias fontes que estão no seu computador.

Quando pensamos nas pessoas que moldaram a história da computação desde seus primórdios, pensamos em inventores, engenheiros, CEOs. Um nome que não costuma surgir nas nossas memórias é o de Hermann Zapf, designer alemão de tipos que faleceu esta semana, aos 96 anos. Mas deveria.

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O nome de Zapf é parecido com o de diversas fontes que talvez estejam aí no seu computador neste exato momento, como Zapfino e Zapf Dingbats — aquela familiar coleção de símbolos e ícones que vai de tesouras a corações.

Zapf foi um dos primeiros designers a levar os computadores a sério e a projetar fontes para eles. Seu trabalho apareceu em algumas das primeiras interfaces gráficas criadas e foi escolhido pessoalmente por Steve Jobs, por exemplo. As fontes dele ainda vêm pré-carregadas em praticamente tudo, como o Microsoft Word, o OS X e o Adobe Reader.

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Mas Zapf não pensava em levar a tipografia para a era digital – sua carreira começou bem antes. Na Alemanha dos anos 1930, ele estava focado em ser um calígrafo, projetando sua primeira fonte aos 20 anos de idade, de acordo com uma grande e detalhada biografia publicada por Jürgen Siebert.

Zapf foi recrutado para o Serviço de Trabalho do Reich e teve que abandonar a caligrafia para trabalhar como cartógrafo durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, ele retomou seu trabalho como calígrafo do ponto que tinha parado.

Mas os mundos da tipografia antes e após a Segunda Guerra eram radicalmente diferentes. Novas tecnologias estavam chegando ao mundo do design, incluindo uma técnica chamada fotocomposição tipográfica — uma nova forma de definir fontes que usava a passagem da luz através de negativos fotográficos. Zapf abraçou a ideia, mas continuou a desenhar fontes caligráficas que pareciam mais manuscritos do que qualquer coisa tecnologicamente radical. Aqui, você pode ver duas de suas invenções: Zapfino e Palatino.

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De acordo com Siebert, na década de 1970, Zapf se envolveu com uma nova fundição, chamada International Typeface Corporation, ou ITC, que surgiu no meio da nova era digital para oferecer fontes não-tradicionais. Este é o lugar onde seu caminho cruzou com Steve Jobs, que estava escolhendo as fontes de sistema para a impressora LaserWriter que o Macintosh estava oferecendo. Jobs escolheu a fonte Chancery, de Zapf, como a única fonte caligráfica tradicional para todo o sistema.

O chefe de marketing da empresa naquela época, Allan Haley, explica a decisão nesta entrevista:

Porque esse era o tipo de letra que Steve Jobs gostava. Simples assim. Embora não fosse um tipógrafo, Jobs apreciava o valor da comunicação tipográfica e tinha uma compreensão um pouco maior que a média sobre tipos e tipografia. A Zapf Chancery era a única fonte de inspiração caligráfica que ele selecionou.

Um conjunto de símbolos personalizados feito por Zapf no final de 1970 também passou pelo crivo de Jobs. E isso foi apenas o começo: o trabalho de Zapf foi adotado pela Microsoft, Adobe e muitas outras empresas de tecnologia que ainda estavam engatinhando naquela época.

A Zapf Dingbats passou a se tornar a base para símbolos de Unicode, e é provavelmente o conjunto de símbolos mais usado hoje. Ela abriu caminho para o emoji, também – muitos deles se baseiam em símbolos do Unicode.

Por que as empresas de tecnologia em expansão na década de 1980 estavam tão interessadas no trabalho relativamente tradicional de alguém como Zapf? A resposta tem a ver com os fundamentos da interação humano-computador, e ainda é relevante para como interfaces gráficas são projetadas hoje.

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Os usuários dos primeiros computadores não estavam acostumados com a ideia de mudar o estilo das coisas que eles escreviam em suas máquinas — imprimi-las, então, nem em sonho. Eles sentiam falta da sensação de trabalhar manualmente com seus projetos. De alguma forma, criar artes gráficas em uma máquina parecia algo errado.

Mas as fontes caligráficas da Zapf eram a prova de como os computadores poderiam replicar a elegância e riqueza da escrita do mundo real em um espaço digital. Em alguns aspectos, suas fontes são a forma mais antiga de esqueumorfismo, tal como o ícone da lixeira e a invenção do “desktop”, o ambiente de trabalho digital.

Uma das minhas primeiras lembranças sobre usar um PC era brincar com o software de fazer cartões da Microsoft, adicionar bordas e alterar a fonte. Parecia mágica, e de alguma forma reproduzia a sensação de criar arte de um modo manual.

Hoje, fontes Palatino ou Chancery parecem ter caído em desuso, já que nossas ideias de como fontes digitais mudaram muito ao longo dos anos. Mas elas ainda estão lá no seu menu, uma lembrança de um designer que entendeu que as palavras poderiam ser tão elegantes em uma tela quanto em um pedaço de papel — e que conseguiu reduzir o abismo entre o velho mundo e o mundo digital, abraçando ambos.

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