O trágico lançamento de um ônibus espacial que mudou a NASA para sempre

A explosão do ônibus espacial Challenger, em 1986, aconteceu rápido, mas deixou marcas que duram até hoje na NASA.

Há trinta anos, o ônibus espacial Challenger explodiu. A tragédia abalou o mundo, que estava ansioso pelo seu lançamento, e fez a NASA repensar os riscos de suas missões.

O Challenger foi um dos primeiros ônibus espaciais a ir para o espaço, após o Columbia. Ele levou para o céu o primeiro homem a caminhar no espaço pelo programa Space Shuttle, a primeira astronauta norte-americana, e primeira dupla de mulheres astronautas.

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Mais tarde, foi o primeiro ônibus espacial a ser lançado durante a noite – ele realizou diversas missões.

O Challenger também foi o primeiro ônibus espacial a explodir, matando toda a sua tripulação.

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Explosão do ônibus espacial Challenger. Imagem: NASA

A manhã do dia 28 de janeiro de 1986 era fria, com pingentes de gelo se formando abaixo da plataforma de lançamento. Conforme a temperatura caía abaixo da tolerância certificada pelos anéis de vedação do ônibus, a equipe de engenharia alertava contra o lançamento em um dia tão frio.

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Gelo na plataforma de lançamento no dia do desastre. Imagem: NASA

Aconteceu rápido demais, apenas 58 segundos após o lançamento. No começo, era apenas uma pequena chama visível no motor direito do foguete. Aos 68 segundos, os tanques externos estavam emitindo um brilho forte.

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O Challenger totalmente engolido pelo brilho do propulsor queimando que escapou de uma ruptura no tanque. Imagem: NASA

O único registro da tripulação percebendo que enfrentava um problema foi o piloto Mike Smith dizendo “uh-oh”. Pode ter sido uma resposta ao súbito deslocamento para o lado no ônibus, ou aos instrumentos mostrando o aumento nas temperaturas dos motores. Aos 73 segundos, todos os motores estavam se aproximando do limite de temperatura, sendo desligados automaticamente.

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76 segundos: fragmentos da sonda dominados pelo fogo. A cor avermelhada é da queima do propulsor do sistema de controle. Imagem: NASA

O ônibus espacial explodiu soltando fogo, fumaça e agente propulsor vaporizado aos 78 segundos. A explosão lançou fragmentos da sonda para longe, rasgando a asa esquerda, a fuselagem dianteira (com a cabine de tripulação), e os motores principais (ainda queimando o agente propulsor) em direções diferentes.

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Grades de fita adesiva no chão permitiram a reconstrução dos destroços. Imagem: NASA

O programa Space Shuttle da NASA acabou entrando numa pausa por 32 meses após o desastre, enquanto a equipe recuperava os detritos e investigava as causas do acidente. Eles reconstruíram os detritos da melhor forma que conseguiram.

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A câmara de descompressão do Challenger, recuperada do Oceano Atlântico. Imagem: NASA

Uma comissão presidencial investigou o acidente, incluindo a primeira mulher astronauta dos EUA, Sally Ride; o primeiro homem a pisar na Lua, Neil Armstrong; e o físico vencedor do prêmio Nobel Richard Feynman. Eles observaram as evidências disponíveis e acabaram identificando uma pequena falha que provocou a catástrofe: um selo de borracha que se fragilizou por causa do frio.

Quando o anel se rompeu nos intensificadores do lado direito do foguete, uma exaustão de ar quente começou a ser liberada. A falha era conhecida desde 1977, mas foi ignorada. Durante o desastre, essa exaustão quente atravessou a caixa exterior de aço do intensificador como um aparelho de solda, e então começou a cortar em direção ao tanque externo. Essa também era uma falha conhecida, com avaliações pós-missão encontrando evidências de erosão durante um voo do ônibus espacial Columbia.

Por fim, o tanque se rompeu em diversos lugares diferentes, uma reação em cadeia que durou menos de um segundo e causou a destruição total da sonda.

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A tripulação durante o treinamento de saída de emergência. Imagem: NASA

A explosão do tanque lançou o orbitador para longe, mas ele voava sem controle algum. Perdida num fluxo de ar supersônico, a espaçonave sofreu um estresse aerodinâmico além do limite e se despedaçou.

A cabine de tripulação na fuselagem dianteira era construída com mais solidez do que o resto do ônibus espacial, e inicialmente permaneceu intacta. A tripulação provavelmente sobreviveu à explosão inicial, e às forças G de serem arremessados para longe.

Os botões no computador de bordo foram apertados, indicando que o piloto Smith fez uma tentativa frustrada de restaurar a energia na cabine da tripulação. A cabine não cedeu, o que fez os investigadores suspeitarem que ela manteve a pressão e a tripulação permaneceu consciente. Mas eles não poderiam sobreviver à queda no oceano com uma força 200 vezes superior à força normal da gravidade.

Todos os sete membros da tripulação morreram. Seus restos mortais foram retirados do oceano dez semanas após o acidente. O astronauta Robert Crippen alugou um barco de pesca para continuar os esforços de resgate após o corpo de Gregory Jarvis se separar do compartimento principal e afundar, conseguindo depois de um tempo recuperar o corpo.

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Os restos mortais da tripulação da Challenger sendo transportados para um avião no Centro Espacial Kennedy. Imagem: NASA

O desastre do Challenger resultou em um grande redesign dos impulsionadores do ônibus espacial. Isso também resultou em uma mudança na estrutura de processos de relatórios e tomada de decisão na NASA para lidar com riscos, apesar de alguns dos mesmos problemas institucionais terem ressurgido algum tempo depois.

Hoje em dia, a data da explosão do Challenger também é o Dia da Lembrança da NASA, para celebrar todos aqueles que morreram na jornada dos voos espaciais.

[NASA]

Imagem de topo: A tripulação do Challenger durante treinamento no dia 9 de janeiro de 1986. Sharon Christa McAuliffe [esquerda], Gregory Jarvis, Judith Resnik, Francis “Dick” Scobee, Ronald McNair, Mike Smith, e Ellison S. Onizuka. Imagem: NASA.

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