Humanidade destruiu 97% dos ecossistemas da Terra, diz estudo

Os ecossistemas intactos que a equipe responsável pelo estudo identificou estão no Congo, Tanzânia, na Floresta Amazônica, Sibéria e no sul do Chile.
A fumaça de um incêndio ilegalmente aceso na reserva da floresta amazônica, ao sul de Novo Progresso, no estado do Pará, Brasil, em 15 de agosto de 2020. Foto: Carl De Souza (Getty Images)

Um recente estudo publicado nesta quinta-feira (15) no Frontiers in Forests and Global Change, trouxe um dado bem preocupante: apenas 3% da superfície do nosso planeta ainda se qualifica como “ecologicamente intacta”, com habitats ainda não modificados e espécies animais originais saudáveis sem risco de extinção.

Esse é um quadro muito mais triste do que o pintado por avaliações anteriores, que apontaram esse número muito mais alto, estimando que 20% a 40% da superfície ainda estaria intacta. Mas essas análises, focadas especificamente na integridade do habitat, foram baseadas principalmente em imagens de satélite, que não fornecem muitos detalhes sobre o que está acontecendo no solo.

“O trabalho de campo realizado por muitas pessoas mostra claramente que há espécies que foram perdidas nessas áreas de habitat intacto — carnívoros grandes e médios e herbívoros grandes e médios em particular”, disse Andrew Plumptre, que dirige o Key Biodiversity Areas Secretariat e foi o autor principal do estudo, por e-mail ao Gizmodo. “Alguns foram perdidos ou diminuídos em número por causa da caça pelas pessoas, alguns perdidos devido à introdução de espécies invasoras, como cães e gatos, e alguns devido a doenças.”

Em vez de simplesmente examinar imagens aéreas para o relatório, Plumptre e sua equipe também sobrepuseram mapas de destruição humana de ecossistemas com mapas que indicam onde as espécies animais são muito poucas para manter um ecossistema saudável ou desapareceram completamente de suas regiões originais.

Para avaliar a integridade, os autores usaram três critérios. Por isso, partindo de estudos anteriores, eles observaram a integridade do habitat, uma medida de quanta influência os humanos tiveram sobre os habitats. Eles também observaram a integridade da fauna, que é um indicador de quantas espécies originais de uma região desapareceram desde os tempos antigos (especificamente desde 1500 d.C.). E eles avaliaram a integridade funcional, que determina onde as espécies são abundantes e capazes de cumprir seus papéis ecológicos como predadores alfa, dispersores de sementes ou outras funções. Observando essas duas últimas medidas, os ecossistemas terrestres não estão muito bem.

“A integridade da fauna foi de 2,9% da superfície, e a integridade funcional de 2,8%”, disse Plumptre. Isso significa que 97% da terra foi destruída pela indústria, caça, introdução de espécies invasoras ou outros impactos antrópicos. Os únicos ecossistemas intactos que a equipe identificou estão no Congo, Tanzânia, Floresta Amazônica, Sibéria e no sul do Chile.

E não para por aí: a equipe descobriu que apenas 11% das terras ecologicamente intactas que identificaram são protegidas pelas leis de conservação dos países. Uma porção ainda menor — apenas 4% — é coberta por áreas-chave de biodiversidade, isto é, áreas onde a União Internacional para a Conservação da Natureza diz que é particularmente importante preservar a vida selvagem.

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Contudo, nem tudo está perdido. Os autores descobriram que um componente essencial ausente em grandes áreas de terras intactas é o desaparecimento de algumas espécies-chave, especialmente os grandes mamíferos. Alguns deles foram completamente extintos, mas outros ainda sobrevivem em outros lugares. Nesses casos, os autores dizem que reintroduzir apenas um pequeno número (entre um e cinco) de espécies que desempenham funções cruciais em certas áreas poderia trazer até 20% das terras do mundo de volta à integridade ecológica.

Os autores identificam seis importantes locais globais onde esse método pode ser frutífero: leste da Rússia, norte do Canadá, Alasca, Floresta Amazônica, deserto do Saara e a floresta tropical do Congo. Nessas áreas, embora as populações de espécies tenham diminuído, ainda há bastante folhagem original e habitat ao redor para sustentar os animais que forem reintroduzidos.

O estudo argumenta que precisamos de uma nova maneira de pensar sobre a saúde ecológica. No momento, dizem os autores, a restauração se concentra principalmente na restauração de habitats degradados. Isso é importante, mas não é o suficiente. “Devemos também pensar em restaurar as espécies para recuperar a integridade ecológica em mais partes da Terra”, disse Plumptre.

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