Praticamente todo mundo que gosta de espaço e tem bastante dinheiro está tentando ir para Marte em um futuro próximo. Mas antes que qualquer pessoa alcance o Planeta Vermelho, há várias preocupações, mais notavelmente a de que nossos corpos não foram construídos para viver em uma caixa de areia estéril com uma fina atmosfera. Mas a jornada em si para Marte é uma preocupação tão grande quanto. E um desanimador novo estudo sugere que essa viagem poderia aumentar os riscos de os passageiros desenvolverem câncer — risco possivelmente duas vezes maior do que especialistas achavam anteriormente.
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A pesquisa, liderada por Frank Cucinotta — professor do departamento de física da saúde e ciências diagnósticas da Universidade de Nevada, em Las Vegas — afirma que modelos atuais de risco de câncer por voos espaciais de longa duração são incompletos. Para dar um contexto, astronautas no espaço estão expostos a raios cósmicos galácticos enquanto estão lá em cima — afinal de contas, eles não têm a magnetosfera da Terra para protegê-los de partículas prejudiciais. Esses raios cósmicos são preocupantes, já que podem causar dano e mutação ao DNA, e, obviamente, quanto mais tempo alguém fica no espaço, mais exposto fica a essas partículas. O trabalho foi publicado na edição de maio deste ano da Scientific Reports.
Os modelos atuais de risco da NASA afirmam que o câncer por radiação vem principalmente de raios cósmicos que bagunçam nosso DNA, mas o novo modelo dessa equipe de pesquisadores sugere que a realidade pode ser bem pior. Após estudar tumores em ratos, os pesquisadores acreditam que as células danificadas por raios cósmicos poderiam na verdade impactar outras células saudáveis ao redor delas, como um efeito dominó mortal.
“A exposição a raio cósmico galáctico pode devastar o núcleo de uma célula e causar mutações que podem resultar em cânceres”, explicou Cucinotta, em um comunicado. “Descobrimos que as células danificadas enviam sinais para as células não afetadas em seu entorno e provavelmente modificam os microambientes dos tecidos. Esses sinais parecem inspirar as células saudáveis a mutar, causando então tumores ou cânceres adicionais.”
O pior de tudo é que os trajes espaciais não serão de muita serventia.
“Explorar Marte vai exigir missões de 900 dias ou mais e inclui mais de um ano no espaço profundo, onde exposição a todas as energias de íons pesados de raio cósmico galáctico são inevitáveis”, disse Cucinotta. “Os níveis atuais de defesa contra a radiação iriam, no máximo, diminuir modestamente os riscos de exposição.”
Claramente, mais pesquisas terão de ser conduzidas para confirmar o quanto estarão em risco os exploradores de Marte e o que pode ser feito para protegê-los dos raios cósmicos (ratos não são humanos, afinal). Mas para acrescentar só mais uma camada de notícia, Marte tem uma atmosfera superfina — menos de 1% da espessura da atmosfera da Terra —, então vai expor as pessoas a ainda mais radiação após o pouso. Esperamos que tudo isso seja resolvido em breve, antes que as colônias marcianas se iniciem, ou então isso pode ser desastroso.
Imagem do topo: NASA