IA assiste a vídeos de Minecraft por 70 mil horas e se torna jogador experiente

Game de mundo aberto movimenta uma produção de conteúdo extensa na internet. Uma inteligência artificial se aproveitou disso para aprender a jogar
Imagem: Divulgação

Quem jogou já jogou Minecraft sabe que produzir uma picareta de diamante pode ser uma tarefa complexa. Não faz ideia do que estamos falando? Aí vai uma introdução rápida: no jogo em que o mundo é feito de blocos, a principal forma de obter matéria-prima é destruindo coisas.

Você pode tentar fazer isso com sua mão, mas, como na vida real, é muito mais fácil se você tiver a ferramenta certa. Picaretas mais resistentes conseguem destruir materiais mais duros. E, como você bem sabe, não existe nada mais rígido na natureza que o diamante.

Mas tem um problema: a pedra preciosa é muito rara de encontrar, e, com uma dose de sorte, pode ser achada apenas em grandes profundidades. Por isso, jogadores têm o hábito de buscar por diamantes logo no começo do jogo — e, assim, garantir que terão uma picareta de respeito desde o início, facilitando a vida em mundo aberto.

Dito tudo isso, aí vai a notícia: uma inteligência artificial conseguiu jogar Minecraft e produzir a sua própria picareta de diamante num tempo parecido com o que um jogador experiente faria. São uma série de passos, que demoraram mais ou menos 20 minutos para o robô reproduzir.

Quem criou a inteligência artificial foi a OpenIA, organização sem fins lucrativos dedicadas à pesquisa e desenvolvimento desse tipo de tecnologia desde 2015, que recebeu um investimento bilionário da Microsoft.

O mais legal foi a maneira como a tal inteligência artificial conseguiu aprender a ser um minerador de respeito. Bastou que assistisse a milhares horas de gameplay de usuários humanos para quem conseguisse repetir os movimentos necessários.

Entre se locomover pelo mundo, lutar para encontrar uma fonte de diamantes, destruir árvores para coletar madeira, montar uma estação de trabalho e combinar recursos para produzir a picareta, são mais ou menos 24 mil ações diferentes, feitas com teclado e mouse.

A técnica usada foi a de aprendizado por imitação, em que, basicamente, um robô assiste a exaustão alguém fazendo alguma coisa — e tenta repetir com a mesma qualidade. O problema é que, até então, humanos tinham que assistir aos vídeos selecionados e marcar os minutos dos vídeos em que cada ação era executada. Tudo para facilitar a vida da IA que vai aprender: com essa receita de bolo, a máquina sabia exatamente o que cada ação resultava.

No novo teste, pesquisadores encontraram uma forma de pular essa etapa, deixando o aprendizado totalmente na mão da inteligência artificial.

A técnica em questão foi batizada “Video Pre-Training” (VPT). Primeiro, humanos foram contratados para jogar Minecraft, e tiveram suas ações (como clicar com o mouse e dar comandos com o teclado) gravadas em vídeo. Então, criou-se um banco de vídeos com mais de 2 mil horas de duração, em que cada ação no jogo era associada aos movimentos na vida real. Depois, a IA assistiu a 70 mil horas de gameplay disponíveis na internet.

Trata-se de uma técnica de aprendizado de máquina diferente da “tentativa e erro”, em que o computador “bate cabeça” ao tentar executar uma tarefa de maneiras diferentes e falhando muitas vezes no processo — até encontrar a fórmula correta. Como explicou a MIT Technology Review, esse tipo de abordagem faz sentido para tarefas práticas, em que há uma missão clara. Mas isso deixa de fazer sentido quando tomamos como exemplo o Minecraft, game de mundo aberto que dá total autonomia para que o jogador siga seu próprio caminho, sem ter um objetivo específico.

Os testes mostram como o YouTube pode servir como um banco de dados de respeito para treinar inteligências artificiais com o auxílio de vídeos. Como a internet é a terra dos tutoriais, há muitas aplicações a serem exploradas.

A ideia é que, no futuro, a lista de possibilidades cresça, e robôs consigam aprender de forma autônoma, via vídeo, também outras tarefas — como navegar por páginas na internet em busca de uma informação específica ou fazer compras online, por exemplo.

Guilherme Eler

Guilherme Eler

Editor-assistente do Giz Brasil, são-carlense e vascaíno. Passou pelas redações de Superinteressante, Guia do Estudante e Nexo Jornal.

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