Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz identificaram os fatores que podem agravar a covid-19 em pessoas que também vivem com HIV. Entre eles, estão idade avançada, etnia não branca, o não uso de terapia antirretroviral e baixos níveis de CD4, células que coordenam a resposta do sistema imunológico. Os resultados estão publicados em artigo na “Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical” nesta sexta (8) e indicam que o controle inadequado do HIV é um fator crucial na gravidade da covid-19, o que evidencia a necessidade de garantir acesso universal ao tratamento.
A pesquisa analisou dados de mais de 36 mil casos de coinfecção por HIV e Sars-CoV-2 no Brasil em 2020 combinando informações epidemiológicas, sociodemográficas e clínicas dos pacientes. O diferencial do estudo foi utilizar uma grande amostra de indivíduos, incluindo casos leves e graves de covid-19.
Como novidade, a pesquisa mostrou que a idade média dos casos graves foi inferior a 50 anos, o que sugere um envelhecimento precoce em indivíduos que vivem com HIV. Entre a população geral, o alto risco de complicações para covid-19 foi registrado após os 60 anos de idade. Além disso, a elevada prevalência de casos graves entre indivíduos de etnias não brancas e de menor escolaridade ressaltou desigualdades sociais e raciais que podem agravar a covid-19 nesses grupos, avalia Flávia Alvarenga, uma das autoras do artigo e pesquisadora da USP.
O estudo destaca também a necessidade de aprimorar o sistema de informação em saúde no Brasil, facilitando a coleta e análise de dados para futuras pesquisas sobre a coinfecção dos pacientes. “A interoperabilidade de dados na saúde ainda é incipiente no Brasil, inclusive entre o sistema público e privado. Isto se torna uma vulnerabilidade importante, pois deixamos de ter insumos para gerar respostas rápidas para os problemas sanitários”, afirma Alvarenga.
A expectativa da pesquisadora é que o estudo possa inspirar um atendimento de saúde mais eficaz para grupos minoritários e socialmente vulneráveis. “Esses resultados reforçam a importância de políticas públicas voltadas para o diagnóstico precoce do HIV e a adesão ao tratamento, visando minimizar o impacto da covid-19 nesse grupo”, explica Alvarenga. O próximo passo do grupo de pesquisa será comparar a evolução da covid-19 grave em pessoas com e sem HIV e avaliar os efeitos da vacinação contra a covid-19 na população com que vive com o vírus.