O devastador terremoto de magnitude 7.8 que atingiu o Paquistão nesta semana matou centenas de pessoas – números atuais falam em 515 mortos. Enquanto o país se recupera, o mundo se fascinou com um efeito colateral do desastre: o terremoto foi tão poderoso que criou uma nova ilha.
O satélite Earth Observing-1 da NASA capturou o nascimento da ilha na costa de Gwadar, no Paquistão, após o terremoto. Este pedaço de terra é rochoso e emite um gás inflamável, e cientistas estão o chamando de “vulcão de lama”.
Ele não deve durar muito tempo, então é melhor você não planejar uma viagem para conhecê-lo. A denominação “vulcão de lama” foi dada devido a algumas características da ilha: uma terra espessa misturada com pedras e sujeira foram lançadas à superfície por pressão sísmica próxima à costa. A ilha tem cerca de 75 metros de largura e 18 metros de altura. Segundo o jornalista local Bahram Baloch, “peixes mortos foram encontrados na superfície. E em um dos lados ouvimos o som de vazamento de gás.”
Um fenômeno parecido com esse já ocorreu no passado no mesmo Paquistão, mas a ilha formada não durou muito tempo. Após um terremoto na década de 1940, uma ilha foi encontrada na costa de Karachi, de acordo com o sismologista John Armbruster. Como era em sua maior parte sedimento, ela começou a erodir nas ondas do oceano e em alguns dias simplesmente desapareceu. O mesmo aconteceu em 1968.
Nós podemos testemunhar mudanças drásticas no planeta em tempo real – furacões redesenhando as costas, vulcões explodindo – mas não é comum observarmos um novo pedaço de terra simplesmente aparecer no meio da água. No entanto, desastres naturais podem mudar radicalmente nossos ecossistemas, remodelar as fronteiras geopolíticas e criar novas formas de terra, como neste caso.
A ilha deve desaparecer em breve, mas não há dúvidas de que grandes terremotos podem muito bem mudar a forma do nosso planeta: os fenômenos recentes no Japão, Chile e Indonésia mudaram radicalmente as placas tectônicas da Terra e a rotação do planeta inteiro foi afetada, diminuindo nossas 24 horas diárias em alguns milissegundos. Algumas vezes podemos observar essas mudanças acontecendo. O terremoto de 2010 no Chile foi tão poderoso que causou mudanças dramáticas no Oceano Pacífico, levantando a superfície do mar em cerca de dois metros. Isso chegou a afetar o ecossistema de algumas criaturas, de leões marinhos a algas.
Em uma escala menor, um terremoto próximo ao Parque Nacional de Yellowstone em 1959 resultou em um deslizamento de terra que derramou uma imensa quantidade de terra no Rio Madison, criando uma represa natural. Em poucas semanas, o rio bloqueado preencheu um lago com 50 metros de profundidade. Quando você visitar o Quake Lake, como o lago é agora chamado, você pode ver os esqueletos de árvores mortas ainda salientes na água.
As mudanças nas fronteiras entre água e terra podem transformar a sorte de uma área em instantes: quando uma costa é alterada, o habitat de plantas e animais pode ser destruído, dando espaço para novas espécies de instalarem no local. Se a mudança atingir pessoas, os novos residentes agora terão acesso a recursos diferentes – como, por exemplo, menos terras agrícolas ou mais enseadas de pesca.
Mas a questão mais interessante para uma ilha instantânea é a sua implicação política: a quem ela pertence?
Grandes rios têm a rota modificada durante uma inundação, naturalmente, criando ilhas que podem desaparecer na próxima vez que a água subir – ou então podem se manter por décadas. Um exemplo conhecido é a Bloody Island, uma pequena barra de areia no Rio Mississippi, que surgiu pela primeira vez em 1798. Devido ao seu status aparentemente temporário, nem o estado do Missouri nem Illinois alegaram que a ilha fazia parte do seu território, criando uma espécie de terra sem dono do ponto de vista legal. Isso fez com que a ilha se tornasse um local ideal para duelos locais – e daí veio o seu apelido. Ela não estava em nenhuma jurisdição – então literalmente estava fora da lei. (Mas em 1837 uma nova barragem fez a ilha fazer parte oficialmente de Illinois, acabando com toda a diversão).
Como a ilha formada no Paquistão está bem próxima à costa, é seguro afirmar que faz parte dos limites marítimos do país. Mas e se fosse descoberta fora desses limites e cheia de recursos? Quais são os protocolos ou precedentes para um caso assim?
Ferdinandea, por exemplo, uma montanha submarina na costa da Sicília, atingiu o status da ilha em 1831 após uma erupção vulcânica que empurrou sua elevação a 60 metros acima do nível do mar. Seu surgimento gerou uma disputa entre a Sicília, França, Espanha e Inglaterra, com todas reivindicando a ilha. Turistas viajaram para lá e um hotel foi planejado. Mas Ferdinandea erodiu abaixo do nível do mar, evitando um incidente internacional. Mas uma nova erupção similar poderia fazer essa ilha ressurgir na superfície – e gerar novas disputas sobre a sua soberania.
Isso se tornaria um problema maior conforme o aumento dos niveis do mar ameacem mudar as nossas costas e transformar a forma como medimos nossos limites geográficos. Muitas ilhas desapareceriam completamente, e novas também apareceriam com mais frequência – não por causa de terremotos ou vulcões, mas sim por causa da terra alta completamente coberta de água.
[Imagem de topo: AP/Governo local de Gwadar. Imagens: NASA Earth Observatory, Science/AAAS, USGS, Missouri Digital Heritage, Centro Meteo Italiano. Fontes: BBC News,Live Science, USGS, Live Science, New York Times]