Guglielmo Marconi foi um inventor e engenheiro elétrico italiano. Ele é conhecido por criar o primeiro sistema prático de telégrafo sem fios – através de ondas de rádio – e por realizar a primeira radiotransmissão entre Inglaterra e França. Por isso, ele ganhou o prêmio Nobel de Física junto a Karl Ferdinand Braun.
Ele também acendeu as luzes do Cristo Redentor na sua inauguração em 1931: Marconi estava em Roma, e ainda assim conseguiu iluminar o clássico monumento do Rio de Janeiro após tocar o dedo numa alavanca.
Há uma história curiosa sobre Marconi, contada no livro Fulminado por um raio de Erik Larson: uma das suas famosas demonstrações de rede sem fio foi trollada por um inventor que também era ilusionista.
Interceptação
Nevil Maskelyne era o tipo de ilusionista que adorava truques simples de mágica, claramente feitos para divertir, e odiava os que se esforçavam muito para parecer reais. Ele desmascarou diversos espiritualistas e artistas fajutos, e acreditava que Marconi era apenas mais uma dessas fraudes.
Em 1903, durante uma palestra na Royal Society – instituição britânica destinada ao conhecimento científico – Fleming esperava receber uma mensagem em código morse no seu equipamento sem fio ao final da conferência. O remetente da mensagem estaria localizado em uma ilha remota, dizia ele aos palestrantes. Calmo e confiante, Fleming apresentou a palestra e, ao final, o rádio recebeu a mensagem conforme prometido. Mas ela não era o que engenheiro esperava.
A mensagem se iniciou, em código, com baboseiras sobre “um jovem amigo da Itália”, atenuou-se para trechos das peças de Shakespeare, e disso decaiu para insultos e xingamentos. O rádio fora hackeado. O técnico que o operava no momento da palestra fez uma breve busca ocular sobre a plateia e encontrou Maskelyne, com um olhar confiante. Entretanto, não havia maneira de pará-lo sem interromper a palestra.
Como Maskelyne fez isso? Bastou configurar um transmissor simples e uma tecla de telégrafo no salão de música do pai dele, que ficava nas proximidades. Ele ajustou a máquina para transmitir no mesmo comprimento de onda que o equipamento de Fleming, e voilà – foi criada a primeira estação de rádio pirata.
O sinal invasor foi interrompido próximo ao fim da conferência e a mensagem real foi recebida em seguida. Mas já era tarde demais. Quando soube do ocorrido, Fleming ficou ofendido e condenou o “vandalismo” sofrido na palestra em uma carta aberta. Era tudo o que Maskelyne precisava para confirmar publicamente que a confidencialidade que Marconi e Fleming afirmavam oferecer com o rádio era mentira.
Maskelyne x Marconi
No ano anterior, em 1902, Maskelyne já havia revelado essa mesma falha de segurança. Ele ergueu uma torre de rádio de 50 m (!) para ver se conseguia bisbilhotar as mensagens de rádio transmitidas pela Marconi Company, que trabalhava com empresas de navegação. Na época, Maskelyne escreveu: “recebi mensagens da Marconi [Company] com um circuito aéreo de recolha erguido em uma torre de andaime”. (A torre não transmitia mensagens, apenas recebia.)
Por que Maskelyne tinha essa fixação com Marconi? O ilusionista tinha aspirações de trabalhar com telegrafia sem fio: em 1900, ele até enviou mensagens entre uma estação no solo e um balão a 15 km de distância. Mas Marconi tinha patentes sobre essa tecnologia – na qual ele trabalhava há anos – e frustrou os esforços de Maskelyne.
Hoje em dia, muitos hackers chamam a atenção para falhas de tecnologia e brechas de segurança, especialmente se alguém pisar no calo deles – assim como Maskelyne há mais de cem anos. Bem, talvez sem a parte de erguer torres de rádio. [i09 e New Scientist]
Imagens: “The Thermionic Valve and its Developments in Radiotelegraphy and Telephony”, John Ambrose Fleming (1919), p. 216, fig. 126 e Wikipédia.