Ciência

Inflamação em Covid-19 grave tem relação com fungos da microbiota, diz estudo

Cientistas identificaram alta quantidade de fungos no intestino de pacientes com a doença, o que se manteve em pessoas com Covid longa
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

O desequilíbrio de fungos no intestino pode contribuir para um quadro de inflamação excessiva em pessoas com Covid-19 grave ou longa. Foi o que descobriu um novo estudo, publicado na revista Nature Immunology, ao analisar a microbiota de pacientes com a doença. 

Por meio de estudos anteriores, cientistas e médicos já sabiam de três informações chave para a nova pesquisa. A primeira delas é que a inflamação impulsiona uma manifestação mais grave da Covid-19

A segunda, que muitas pessoas com a doença têm intestinos com composições microbianas alteradas e barreiras protetoras prejudicadas. E, por fim, a terceira informação é que algumas pessoas que tiveram Covid-19 também contraíram infecções fúngicas perigosas nos pulmões.

A partir disso, eles buscaram compreender como esses aspectos poderiam se relacionar e qual mecanismo eles controlam.

O que diz a pesquisa

Primeiramente, pesquisadores examinaram o sangue de 91 pessoas hospitalizadas com Covid-19 grave. Depois, compararam as informações com dados de outros 36 indivíduos que nunca testaram positivo para o Sars-CoV-2.

Como resultado, descobriram que aqueles que estavam contaminados pelo coranavírus, produziram cerca de quatro vezes mais anticorpos contra três espécies de fungos comuns no intestino.

De modo geral, alta prevalência de anticorpos sugere que essas pessoas tinham quantidades elevadas desses fungos – entre eles, a conhecida Candida albicans

Ainda, em alguns desses pacientes havia uma ligação entre o número de anticorpos e a quantidade de neutrófilos no sangue, que são células imunológicas com potencial de desencadear inflamação.

Em outra amostra, desta vez das fezes de 10 pessoas com Covid-19 grave, os resultados mostraram que abundância de Candida estava positivamente correlacionada com a gravidade da doença. Além disso, a presença de algumas espécies de fungos, especialmente a C. albicans, foi capaz de ativar o sistema imunológico.

Em complemento, os pesquisadores também realizaram testes em ratos de laboratório. De início, eles infectaram os animais com Candida albicans extraído de pessoas com Covid-19 grave. 

Depois, contaminaram os ratos com o Sars-CoV-2. Por fim, puderam confirmar o que as etapas anteriores sugeriam: mais neutrófilos invadiram os pulmões dos animais e ativaram uma resposta inflamatória.

Ao darem a esses ratos um medicamento antifúngico, o número e a atividade de neutrófilos diminuiu.

E a Covid longa?

O estudo também descobriu que pessoas com Covid-19 grave continuaram a ter níveis elevados de anticorpos contra C. albicans em seu organismo muito tempo depois de se recuperarem da doença. 

Isso sugere que as mudanças na microbiota intestinal também podem contribuir para a inflamação associada à Covid longa.

Contudo, os pesquisadores concordam que mais estudos são necessários para investigar a ligação entre os fungos intestinais e a Covid-19. Ainda é preciso esclarecer se o desequilíbrio de fungos precedeu ou é o resultado da doença.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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