Um novo ensaio clínico parece mostrar que uma forma específica de intervenção precoce pode reduzir o risco de crianças desenvolverem transtorno do espectro do autismo (TEA) à medida que envelhecem.
Ele descobriu que bebês de alto risco, cujos pais receberam a intervenção, passaram a ter taxas mais baixas de diagnóstico quando completaram três anos, em comparação com famílias que receberam tratamento padrão. Embora seja apenas um único estudo, os resultados podem apontar para um grande passo em relação à promoção de saúde.
Sintomas do autismo
Essa é uma condição complicada, tanto em suas causas suspeitas quanto em seus sintomas. As influências genéticas e ambientais, como a exposição à poluição do ar durante a gravidez ou na primeira infância, são consideradas fatores de risco importantes. Já os sintomas podem variar em gravidade e apresentação, mas tendem a incluir atrasos no desenvolvimento, problemas com interação social, comportamentos repetitivos, sensibilidade ao toque, luz e som e problemas digestivos. De acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças, cerca de uma em 54 crianças nascidas hoje desenvolve o autismo.
Os cientistas chegaram perto de desvendar os fatores de risco do TEA e descartaram outros (como vacinas infantis) nos últimos anos. Além disso, há vários tratamentos disponíveis para essas pessoas, como terapia da fala, treinamento de habilidades sociais e programas para ajudar as crianças a melhorar seu aprendizado de desenvolvimento. Mas, até o momento, não há maneiras conhecidas de prevenir ou reduzir a gravidade em indivíduos de alto risco.
Como funcionou a pesquisa?
Esse novo estudo foi conduzido por pesquisadores da Austrália e do Reino Unido que têm trabalhado em um programa para famílias em risco. Eles o chamam de iBASIS – Vídeo Interação para Promover a Paternidade Positiva. A intervenção pretende ensinar aos pais a melhor forma de apoiar e responder ao comportamento existente de seus filhos de maneiras positivas, ao invés de tentar desviá-los de daqueles considerados inadequados. Após o curso, os pais recebem feedback de seus conselheiros — que observam como eles interagem com seus filhos em vídeo.
Pesquisas anteriores sugeriram que a prática poderia ajudar crianças. Mas o novo estudo, publicado na JAMA Pediatrics, pretende ser a primeira análise que mostra o benefício em um ambiente de ensaio randomizado, muitas vezes considerado o padrão das evidências científicas.
Eles recrutaram famílias de 103 crianças com idades entre 9 e 14 meses, que mostraram sinais precoces de risco de TEA em testes de desenvolvimento. Em seguida, eles randomizaram as famílias em dois grupos: um que passou por um programa iBASIS-VIPP de 6 meses, além dos cuidados padrão que as famílias nesta situação são oferecidos, e um que recebeu apenas cuidados padrão para crianças em risco de TEA — que pode incluir seminários de informação ou terapia comunitária. Embora as próprias famílias soubessem em qual grupo elas pertenciam, os médicos não sabiam.
Resultados
Aos 3 anos de idade, cerca de 7% das crianças no grupo de intervenção foram diagnosticadas com TEA, em comparação com cerca de 21% no grupo de controle.
“O uso de iBASIS-VIPP resultou em três vezes menos diagnósticos de autismo aos três anos”, disse o autor do estudo Andrew Whitehouse, em um comunicado da University of Western Australia. “Nenhum teste de intervenção preventiva em bebês aplicado antes do diagnóstico mostrou, até agora, esse efeito.”
Embora os resultados do estudo pareçam impressionantes, eles ainda são baseados em uma amostra pequena. Também é importante notar que o iBASIS-VIPP não foi feito para ser uma cura para o autismo, nem os pesquisadores o estão anunciando como tal.
No geral, não houve diferenças entre os grupos em quantas crianças mostraram sinais de desenvolvimento atípico, com base nos testes que fizeram – apenas na frequência com que preencheram os critérios para TEA. Em outras palavras, a intervenção pode ter reduzido a gravidade dos problemas de desenvolvimento que essas crianças poderiam experimentar, mas não os preveniu totalmente.
“As crianças que caíram abaixo do limiar de diagnóstico ainda tinham dificuldades de desenvolvimento, mas ao trabalhar com as diferenças únicas de cada criança, em vez de tentar combatê-las, a terapia apoiou efetivamente seu desenvolvimento durante os primeiros anos da infância”, disse Whitehouse.