Invasão de peixe-leão no Brasil atinge fase preocupante
Natural dos oceanos Índico e Pacífico, o peixe-leão é uma das espécies invasoras que prejudica diversos ambientes marinhos. Eles crescem e se reproduzem rapidamente, devorando peixes que não acostumados ao predador recém-chegado.
Peixes-leão têm espinhos venenosos em seu dorso e geralmente poucos predadores naturais nas novas áreas em que eles se estabelecem. Eles também são muito adaptáveis a diferentes ambientes e tipos de alimentação. Daí a dificuldade em erradicá-los.
O primeiro registro do peixe na costa brasileira, ao norte do Amapá, aconteceu em setembro de 2020. Desde então, pesquisadores monitoram a presença da espécie por aqui – e alertam sobre sua disseminação para o sul do país. Agora, alguns disseram à revista Science que a invasão atingiu uma nova fase preocupante.
O peixe-leão apareceu no oceano Atlântico na década de 1980, provavelmente depois que alguns indivíduos escaparem do comércio de aquários. Do Golfo do México, eles se espalharam para a costa leste dos Estados Unidos e para o Caribe, onde bagunçaram as cadeias alimentares de recifes de corais e outros ecossistemas.
Eles chegaram à América do Sul por volta de 2010. Então, alguns fatores retardaram a propagação do peixe para águas brasileiras: uma confluência de correntes oceânicas que vão do sul para o norte do Atlântico e a água doce vinda do rio Amazonas. Só que essa barreira geográfica não resistiu por muito tempo.
Em 2020, indivíduos da espécie apareceram no Arquipélago de Noronha. Desde então, o peixe-leão seguiu em direção ao sul e começou a se multiplicar. Só entre março e maio de 2022, houve 72 avistamentos ao longo de 240 km da costa brasileira. Hoje já são 360.
À época, o ecologista marinho Marcelo Soares afirmou, à National Geographic, que o peixe-leão invadiria toda a costa brasileira até 2024 se ações urgentes não fossem tomadas. Agora, os peixes chegaram em áreas onde correntes oceânicas seguem para o sul do Brasil, o que pode acelerar a propagação de larvas. A expectativa atualizada é que a espécie chegue à região até o fim deste ano.
Um estudo publicado na revista científica Global Change Biology mostrou que pelo menos 29 espécies de peixes endêmicas das águas brasileiras são particularmente vulneráveis ao peixe-leão. O perigo de extinção é maior entre os animais que vivem em ilhas oceânicas – como no arquipélago de Fernando de Noronha, a 350 quilômetros da costa – e ocupam uma área muito limitada.
Os cientistas brasileiros alertam para a necessidade de medidas urgentes para evitar a extinção de espécies endêmicas e reduzir a bagunça causada pelos peixes-leão em ecossistemas marinhos. Apesar disso, eles esperam que a espécie se torne comum por aqui, assim como aconteceu no Caribe, e ocupem o papel de peixes como as garoupas.