Cultura

Jimmy Page, 80 anos: 10 momentos com e sem Led Zeppelin

Mais um gigante do rock octogenário, guitarrista fez muita coisa além de fundar a banda-símbolo da década de 1970
Imagem: Livro "Led zeppelin all the songs"/Reprodução

O guitarrista inglês Jimmy Page chegou aos 80 anos neste 9 de janeiro – o mais novo gigante octogenário do rock. Sua maior obra? O Led Zeppelin, é claro. A banda que fundou no fim dos anos 1960 para, com três companheiros excepcionais, dominar o mundo na década seguinte.

Fotos de Page com sua roupa de dragão e uma guitarra Gibson Les Paul dourada ou a Gibson SG de dois braços estão entre as mais fortes imagens-símbolo da década de 1970 e da história do rock em geral. 

Imagem não é tudo. E o Led Zeppelin conquistou o mundo com seu som. Na maioria das vezes pesado e calcado no blues. Em outros momentos, acústico com inspiração de folk britânico e música do norte da África e da Índia.

O Zeppelin apenas não foi a única de muitas coisas que Jimmy Page fez na vida. É a maior porque ele não alcançou os mesmos píncaros de glória sem ter ao lado os vocais de Robert Plant, o baixo e os teclados de John Paul Jones e a bateria mastodôntica de John Bonham.

Mas Page trabalhou bastante, embora seus lançamentos sejam bissextos desde o fim do Zeppelin em 1980 com a morte precoce de John Bonham. 

Com a breve lista abaixo, tentaremos dar uma geral do que o rapaz fez na carreira.

1- Jimmy Page: “Rumble” (Rock & Roll Hall of Fame, 2023)

Começaremos pelo mais recente. Em 3 de novembro último, em Nova York, Jimmy Page apareceu de surpresa para tocar no evento do Rock & Roll Hall of Fame para homenagear um de seus ídolos, o guitarrista americano Link Wray (1929-2005). 

Com sua guitarra de dois braços, Page tocou uma versão bem distorcida e barulhenta de “Rumble”, fiel ao original lançado em 1958. Para aquela gravação de 65 anos atrás, Wray furou os falantes de seu amplificador para obter a distorção suja que desejava.

Com seu clima ameaçador, “Rumble” chegou a ser proibida em rádios dos EUA porque supostamente incitava brigas de faca entre gangues de adolescentes.

A faixa instrumental foi fundamental para que Jimmy, então um garoto de 14 anos que já tocava guitarra aqui e ali em bandas, se tornasse o músico que viria a ser. O rock pesado do Led Zeppelin é filho direto de “Rumble”.

O amor de Page por essa música ficou eternizado no documentário “It Might Get Loud”, de 2009 (batizado de “A Todo Volume” no Brasil). Em sua casa, o roqueiro pinça o compacto de “Rumble” de sua coleção, bota na vitrola e começa a curtir com prazer a música diante da câmera, fazendo até “air guitar”.

É um momento sublime que demonstra o poder que uma música pode exercer sobre uma pessoa.

2- The J.G. Skiffle Group: programa “All Your Own” (TV britânica, 1957)

Um ano antes de se apaixonar por “Rumble”, o garoto Jimmy estreou aos 13 anos num programa da TV britânica em 6 de abril de 1957. Membro do grupo The J.G. Skiffle Group, Page tocou “Mama Don’t Want to Skiffle Anymore” e “Cottonfields”.

O skiffle era um estilo rudimentar a meio caminho entre o folk e o rock’n’roll, muito popular entre garotos ingleses nos anos 1950 porque era barato de fazer, utilizando até instrumentos improvisados. The Quarrymen, a primeira banda de John Lennon, também era um grupo de skiffle.

3- Jimmy Page: entrevista para canal ITV (1963)

Em 2014, a emissora britânica ITV descobriu em seus arquivos uma entrevista feita em junho de 1963 com o jovem Jimmy Page, de 19 anos. O rapaz conta que toca guitarra e seu sonho é ganhar dinheiro com música para poder sustentar seu trabalho com arte.

4- Jimmy Page: “The Session Man” (1965)

Dois anos depois da entrevista à ITV acima em que dizia querer viver de música, Jimmy Page era o músico de estúdio mais atarefado do Reino Unido. Ele tocava para quase todo mundo, de artistas pop até bandas de rock novas que seriam muito faladas nos anos seguintes, como The Who e The Kinks.

Em 2021, o canal Yesterday’s Papers, no YouTube, reuniu imagens de época e alguns dos principais discos em que Page tocou sua guitarra. O vídeo acima tem legendas em inglês.

5- The Yardbirds: “Stroll On” (filme “Blow Up”, 1966)

Page finalmente ficou estafado com tanto trabalho como músico de estúdio. E aceitou com gosto um convite inusitado: entrar para a já famosa banda The Yardbirds para tocar baixo no lugar de Paul Samwell-Smith, que saiu para se tornar produtor de discos.

O convite veio do amigo e guitarrista Jeff Beck, que tinha assumido a guitarra-solo da banda em 1964 depois da saída do fundador Eric Clapton.

O Page baixista durou pouco. Logo ficou muito claro que ele era muito melhor guitarrista que Chris Dreja, que cuidava dos acordes de base para que Beck brilhasse. 

Page e Dreja trocaram de instrumentos e os Yardbirds passaram a ter dois dos principais solistas do Reino Unido em sua formação. 

Mas a linha de frente Beck-Page gravou apenas o compacto “Happenings Ten Years Time Ago”/”Psycho Daisies” em novembro de 1966. 

Esse breve momento com Beck e Page juntos acabou registrado no filme “Blow-Up”, do diretor italiano Michelangelo Antonioni, cujo protagonista era um fotógrafo em Londres. 

O personagem entra numa casa de shows e lá estão os Yardbirds tocando “Stroll On”, um remake mal disfarçado de “The Train Kept A-Rollin'”, rock dos anos 1950 que a banda já tinha gravado antes.

Antonioni queria The Who no filme para ter uma cena com Pete Townshend quebrando sua guitarra. The Who não topou e os Yardbirds pegaram a chance. Quem quebra a guitarra em cena é Jeff Beck. Uma guitarra tosca que certamente ele nunca tocaria na vida real.

O melhor momento de Page no filme é um sorriso.

6- The Yardbirds – Happenings Ten Years Time Ago (programa “Beat Club”, 1967)

Com a saída de Jeff Beck, Jimmy Page assumiu as rédeas da banda e tentou prosseguir. Mas o prestígio que a banda teve entre 1964 e 1966 esfarelou rapidamente. Ainda assim cumpriu compromissos como um show para o programa da TV alemã ocidental “Beat Club”, do qual saiu o clipe acima.

Em 1968, a banda se desmanchou e apenas Chris Dreja ficou junto a Jimmy para o que viesse. Page teve a ideia de formar um The New Yardbirds, inicialmente para cumprir algumas datas pendentes.

Na busca por um vocalista e um baterista, Page viu Dreja desistir do novo projeto. Assim, o guitarrista acabou recrutando um colega dos tempos de músico de estúdio, John Paul Jones, que tinha feito o arranjo de cordas para “She’s a Rainbow”, dos Rolling Stones, em 1967.

Com Jones assumindo o baixo, Jimmy logo descobriria dois ex-membros da minúscula e obscura Band of Joy: o vocalista Robert Plant e o baterista John Bonham. 

Os primeiros shows desse quarteto ainda foram sob o nome The New Yardbirds. Mas demorou quase nada para eles perceberem que o nome era uma furada. Até porque o som que a formação vinha criando era muito diferente e bem mais pesado que a antiga banda de Page. 

Então Page lembrou de um nome que o baterista Keith Moon, do The Who, criou numa noitada qualquer. Moon queria largar sua banda por causa das brigas de Pete Townshend com Roger Daltrey e sugeriu montar com Jimmy Page uma banda chamada Lead Zeppelin (zepelim de chumbo), que seria pesada mas capaz de voar.

Page adotou o nome com o charme de derrubar a letra “A” de “lead” para que a pronúncia “léd” (do substantivo “lead”, chumbo) jamais fosse confundida com “líd” (do verbo “lead”, que tem o sentido de liderar, conduzir).

7- Led Zeppelin: “Whole Lotta Love” (Live at The Royal Albert Hall 1970) [Official Video]

O Led Zeppelin lançou dois álbuns em 1969 e estourou em rádios com a maliciosa “Whole Lotta Love”, na qual Page se divertiu ao enriquecer um riff de guitarra descaradamente chupado do blues com uma overdose de efeitos na guitarra na parte do solo.

Em 1970, quando lançou seu terceiro álbum, o Zeppelin se apresentou no tradicional Royal Albert Hall, em Londres, e botou toda sua energia nessa versão de seu maior hit até então.

Depois viriam pelo caminho “Stairway to Heaven”, “Black Dog”, “Rock and Roll”, “Kashmir” e muito mais. Mas essas são outras histórias.

8- Jimmy Page: “Lucifer Rising” (1972)

O interesse de Jimmy Page pelo ocultismo e pelo lendário bruxo britânico Aleister Crowley (1875-1947) se desenvolveu na década de 1970 até virar uma obsessão durante algum tempo.

Esse hobby levou Page a topar colaborar com o cineasta maldito britânico Kenneth Anger, famoso pelo livro “Hollywood Babylon” (com escândalos da terra do cinema) e o filme “Scorpio Rising”.

Em 1972, Page compôs, gravou e entregou uma sinistra trilha sonora para o novo filme de Anger, “Lucifer Rising”. A obra cinematográfica ficou emperrada por vários motivos até 1980, quando foi lançada como um curta-metragem de 28 minutos.

Além do vídeo-áudio acima para a música-título, há este outro com todo o material gravado por Page para o filme devidamente remasterizado:

9- The Firm: “The Chase” (ao vivo, 1984)

O fim do Zeppelin não estava nos planos quando John Bonham morreu em setembro de 1980 por overdose de vodca. Os três sobreviventes decidiram que não fazia sentido prosseguir sem o baterista, que era tão importante para o som do Led Zeppelin.

Jimmy Page só saiu do casulo em 1982 com a trilha sonora que compôs, tocou e lançou como álbum-solo para o filme “Desejo de Matar 2” (“Death Wish II”), do ator de ação Charles Bronson.

Em 1984, Page formou uma nova banda com o vocalista Paul Rodgers (ex-Free e Bad Company): The Firm. No show em dezembro de 1984 no Hammersmith Odeon, em Londres, The Firm tocou a instrumental “The Chase”, que foi a faixa principal da trilha de “Desejo de Matar 2”.

10- Page & Plant: “Kashmir” (ao vivo, 1994) 

Em 1994, os antigos parceiros Jimmy Page e Robert Plant resolveram se divertir um pouco tocando juntos numa quase volta do Led Zeppelin – ao que consta, John Paul Jones nem foi consultado sobre esse projeto. Era o auge dos programas “Unplugged MTV” (“Acústico MTV” na emissora brasileira), mas a dupla fez sua versão própria de um acústico.

No show que se tornou o álbum e o DVD “No Quarter: Jimmy Page & Robert Plant Unledded”, lançado ainda em 1994, Page e Plant apresentam uma das mais fantásticas músicas do Led Zeppelin com o acompanhamento de uma orquestra egípcia conduzida pelo maestro Hossam Ramzi.

O transe promovido pela composição de inspiração árabe e hindu com o acompanhamento dos músicos egípcios proporcionou uma força intensa que rivaliza com as versões registradas do próprio Led Zeppelin.

Marcelo Orozco

Marcelo Orozco

Jornalista que adora música, cultura pop, livros e futebol. Passou por Notícias Populares, TV Globo, Conrad Editora, UOL e revista VIP. Colaborou com outros veículos impressos e da web. Publicou o livro "Kurt Cobain: Fragmentos de uma Autobiografia" (Conrad, 2002).

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