por Bruno Izidro
Imaginem a seguinte cena: você está no ponto de ônibus esperando que ele passe logo. Quando chega, percebe que os outros dois ônibus atrás também são da mesma linha. Então, você fica lá, todo indeciso em qual subir. Foi mais ou menos essa situação que muitos jogadores passaram quando Battlefield 1, Titanfall 2 e Call of Duty: Infinite Warfare foram lançados com somente uma semana de diferença entre um e outro.
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O jogo da Dice saiu em 21 de outubro, os titãs da Respawn logo depois, no dia 28 do mesmo mês, enquanto o Call of Duty nosso de todo ano foi lançado em 4 de novembro. A estranha proximidade das datas de lançamento pode até deixar financeiramente desesperado quem quer jogar todos, mas também possibilita fazer paralelos interessante entre eles.
O trio fecha um 2016 excelente para games de tiro, que viu o renascimento de Doom e o surgimento da sensação Overwatch. Ao mesmo tempo, os três jogos podem ser vistos como exemplos da busca por uma renovação no gênero. Talvez isso explique como cada um deles chega a fugir um pouco dos padrões de jogos de tiro.
Battlefield 1: uma viagem à Primeira Guerra Mundial
Um exemplo bem claro disso acontece quando Battlefield 1, que já tenta se diferenciar por se passar na pouca explorada Primeira Guerra Mundial, coloca o jogador no controle de tanques e aviões, dando um destaque importante aos veículos. A campanha solo, que mostra diferentes fronts em várias fases da guerra, possui segmentos inteiros em que atravessamos lama, sangue e trincheiras em enormes veículos blindados na França ou voamos pra cima de zepelins no céu de Londres.
Isso não só faz sentido pelo contexto histórico, já que essas máquinas foram avanços bélicos na época, como diversifica a jogabilidade muitas vezes repetitivas dos jogos de guerra. Claro, o jogador ainda continua atirando em coisas e algumas das novas mecânicas parecem meio estranhas (eu tenho quase certeza que consertar um tanque de guerra não é só girar uma chave inglesa algumas vezes, como aparece no jogo), mas essas pequenas mudanças de foco acabam sendo o que mais chamam a atenção e o interesse de quem joga.
Além de que, no fim das contas, essas novidades no gameplay acabam também dando mais força aos momentos tradicionais de tiro. Foi assim que, logo após ficar um tempo só atirando com um tanque, me senti empolgado por pegar uma sniper no alto de um moinho de vento e eliminar soldados inimigos que haviam tomado uma vila. Se Battlefield 1 fosse somente uma longa jornada só com um rifle ou pistola em mãos, nem o ambiente de primeira guerra salvaria ele de ser maçante.
Titanfall 2: Escalar, atirar e… viajar no tempo?
A quebra de padrão acontece com mais força ainda em Titanfall 2, algo que o primeiro jogo já tentava fazer com a verticalidade de escaladas pelas paredes. Agora, a continuação só se aproveita melhor desse aspecto, principalmente no inédito modo campanha. Por boa parte da história que acompanhamos do piloto Jack Cooper e seu Titã BT há essa alternância entre seções com movimentação rápida de escalada e de troca tiros com inimigos, sejam eles outros humanos, robôs ou animais selvagens do planeta Typhon.
Porém, onde Titanfall 2 realmente impressiona é quando introduz uma inesperada mecânica de viagem temporal. Com o apertar de um botão é possível alternar entre o presente e o passado de uma instalação que sofreu algum tipo de acidente. A novidade é tão bem-vinda quanto pilotar tanques e aviões em Battlefield 1, só que essa viagem no tempo tem um impacto muito maior no jeito que passamos a jogar, fazendo Titanfall 2 parecer quase um jogo de plataforma em primeira pessoa.
O mais importante ao analisar como Titanfall 2 diversifica e inova sua jogabilidade é perceber que esses outros elementos não excluem as partes de tiro no jogo. Em vez disso, elas são incorporadas e trabalham lado a lado para proporcionar uma experiência diferente, mas não ao ponto de o descaracterizar como um FPS. Afinal, estamos falando de um jogo da Respawn, estúdio formado pelos desenvolvedores originais de Call of Duty. Por falar nisso…
CoD Infinite Warfare: Ao infinito, mas não muito além
Dos três jogos de tiros lançados nesse fim de ano, Infinite Warfare era aquele que mais precisava se renovar. Não adiantava só mudar a temática para combates no espaço, já que pelo menos 3 milhões de jogadores não estavam botando muita fé no novo Call of Duty. Esse é o número de dislikes que o trailer de anúncio do jogo recebeu no YouTube, uma demonstração clara de que a fórmula CoD não estava mais agradando.
Bom, não dá para dizer que o estúdio Infinity Ward não tentou sair um pouco do padrão, pelo menos no modo single player. Na campanha – bem curta, por sinal – o jogador se torna o comandante de uma das últimas grandes naves de defesa da Terra, a Retribution, que passa a servir como um hub central para o jogo. A partir dela, é possível acessar um mapa com todo o sistema solar e escolher missões paralelas ou continuar com a história principal.
Essa estrutura, por si só, dá uma dinâmica bem diferente e animadora do que as já manjadas fases lineares que estamos acostumados. Além disso, são nas missões paralelas que encontramos os momentos mais interessantes no novo Call of Duty, porque apresentam partes bem sacadas com tiroteio no espaço e em gravidade zero.
Junte isso com batalhas com naves caóticas e rápidas e Infinite Warfare se transforma em uma versão mais Star Wars de pilotar aviões de Battlefield 1. Uma inesperada e bem-vinda guerra nas estrelas em primeira pessoa.
Tudo isso mostra o real interesse de reinvenção de Call of Duty. Só que também evidencia o quanto o multiplayer do jogo erra em não aproveitar nada desses elementos que animam na campanha solo. Talvez por isso, Infinite Warfare seja a maior decepção quando o comparamos com os outros dois jogos.
Mesmo que no multiplayer de Titanfall 2 a mecânica de viagem no tempo também não seja aproveitada, o ritmo rápido e a verticalidade dos parkour pelas paredes, fora as lutas entre titãs, são mais que o suficiente para deixar as partidas sempre divertidas.
Já em Battlefield 1, o inédito modo Operações se inspira em batalhas reais entre Tríplice Aliança e a Tríplice Entente: um lado defende enquanto o outro ataca pontos de interesse e o uso dos tanques e aviões fazem uma diferença enorme para o progresso das partidas. Além do mais, assistir um zepelim em chamas caindo do céu é sempre impressionante.
Madeeeeeeeeira
Cada um à sua maneira e de forma mais ousada ou tímida, Battlefield, Titanfall e Call of Duty estão ficando menos FPS. E isso é ótimo. Não porque jogos de tiro em primeira pessoa são ruins, mas porque se prender a somente esse elemento pode acabar limitando a experiência dos jogos, que podem ser bem mais que isso.
Para séries grandes e anuais como Battlefield e Call of Duty, manter a atenção dos jogadores fica complicado a cada ano e transformar os jogos em algo mais diversificado parece ser o que nos aguarda daqui pra frente. Só vamos torcer para que esses ônibus do hype agora passem pela parada de lançamentos de forma mais espaçada da próxima vez. Assim poderemos aproveitar melhor a viagem.
Os três jogos estão disponíveis para PS4, Xbox One e PC. As cópias de Titanfall 2 e Battlefield 1 foram cedidas pela EA/Warner Bros. Call of Duty: Infinite Warfare foi cedido pela Activision.