Jurassic Park te enganou: a visão do T-Rex não era baseada em movimento

Todos sabemos que Parque dos Dinossauros tem um monte de erros científicos, mas isso não impediu que ele se tornasse um dos filmes mais populares de todos os tempos. E tem aquela famosa cena em que um Tiranossauro Rex está atacando um jipe durante uma tempestade. Enquanto o dinossauro ataca, o Dr. Alan Grant, um […]

Todos sabemos que Parque dos Dinossauros tem um monte de erros científicos, mas isso não impediu que ele se tornasse um dos filmes mais populares de todos os tempos. E tem aquela famosa cena em que um Tiranossauro Rex está atacando um jipe durante uma tempestade. Enquanto o dinossauro ataca, o Dr. Alan Grant, um respeitado paleontólogo, diz para a neta do criador do Parque: “Não se mexa! Ele não pode nos ver se nós não nos mexermos”. Bom, essa afirmação está incorreta. O T-Rex não só conseguia ver mesmo que o alvo não estivesse se movendo, como também há evidências de que ele tinha uma visão excelente, provavelmente melhor que a das águias e gaviões modernos.

Dinosaur-Flares

Essa história da visão do T-Rex ser baseada em movimento que aparece no filme de 1993 inspirou uma boa quantidade de pesquisas sobre o assunto. O professor Kent Stevens da Universidade do Oregon iniciou o Projeto DinoMorph em 1993. Seu objetivo era desenvolver “um meio para criar modelos digitais simplificados — mas cientificamente úteis — dos esqueletos dos dinossauros”. Usando tecnologia digital, ele queria recriar visualizações de animais extintos, incluindo o Tiranossauro Rex. Depois de palestrar numa conferência em Toronto em junho de 1993 (o filme estreou nos cinemas dos EUA em 11 de junho de 1993), ele fez uma visita ao Museu Real de Ontário e encontrou o importante paleoartista norte-americano Garfield Minott. O artista estava trabalhando numa reconstrução em tamanho real do T-Rex e deu a Steven sete esculturas de cabeças terópodes (dinossauros bípedes e carnívoros) também em tamanho real, incluindo as do T-Rex e do Velociraptor.

Usando esses modelos, uma ponteira de laser, uma placa de vidro e globos oculares de taxidermia, Stevens fez alguns experimentos para determinar o campo de visão, a percepção de profundidade e a visão binocular (a área que pode ser vista usando os dois olhos ao mesmo tempo) dos dinossauros. Os resultados desse estudo foram publicados em 2006. Realizando um teste chamado “perimetria inversa”, Stevens avaliou quão bem um T-Rex seria capaz de ver objetos de vários formatos. Quanto mais ampla é a visão binocular de um animal “melhor é sua percepção de profundidade e maior é sua capacidade de distinguir objetos, mesmo que eles estejam imóveis ou camuflados”.

Stevens determinou que a visão binocular de um T-Rex abrangia 55 graus — maior que a dos falcões. Stevens continuou a pesquisa com outros dinossauros terópodes e determinou que a maioria deles tinha visões binoculares similares às das aves de rapina modernas.

Outra descoberta recente confirmou que a visão era um dos melhores sentidos do T-Rex: cientistas determinaram que ao longo do tempo o focinho do T-Rex foi se alongando e ficando mais estreito, os ossos da cabeça do dinossauro foram mergulhando para dentro e seus globos oculares ficaram cada vez maiores. Embora estruturalmente a cabeça e os olhos do T-Rex pareçam preparados para uma boa visão, a questão permanece — quão boa era a visão desse dinossauro? Por isso Stevens usou estudos sobre parentes distantes do T-Rex, incluindo a águia, as galinhas e o crocodilo, para criar um modelo do globo ocular do dinossauro. Ele estava tentando determinar a acuidade visual (nitidez da visão) e a maior distância a que um objeto poderia estar e ainda poder ser visto pelo dinossauro. De acordo com as descobertas do pesquisador, levando em consideração os melhores casos, o T-Rex tinha uma acuidade visual cerca de 13 vezes maior que a do ser humano moderno. Para referência, uma águia tem cerca de 3,6 vezes a acuidade visual de uma pessoa. Além disso, determinou-se que a visão do T-Rex permitia que um objeto se mantivesse relativamente claro mesmo que estivesse a seis quilômetros de distância. Humanos só conseguem ver objetos claramente se eles estiverem a até 1,6 km. Como Stevens explicou “com o tamanho de seus globos oculares, [o T-Rex] não poderia deixar de ter uma visão excelente”.

É claro que, no filme (e também no livro, que traz uma explicação mais completa), afirma-se que para trazer os dinossauros de volta à vida, os cientistas precisaram de mais DNA para preencher algumas lacunas. No livro, eles decidem misturar o DNA dos dinossauros com o de pássaros, lagartos e sapos. No filme, eles usam somente DNA de sapos para poderem martelar um fato importante para o enredo: certas espécies de sapos podem mudar de gênero quando há uma população significantemente menor de algum sexo num ambiente. Assim, poderia ser que os dinossauros do filme fossem mais sapos do que os dinossauros históricos. Se é esse o caso, a pergunta que podemos fazer é “a declaração do Dr. Grant no filme é mais sobre um sapo do que sobre a visão do T-Rex?”. Indo um pouco mais fundo, essa frase dita no filme pelo Dr. Grant nos dá uma pista sobre qual espécie de sapo eles devem ter usado:

Eles fizeram uma mutação no código genético do dinossauro e o misturaram com o DNA de um sapo. Alguns sapos africanos conseguem mudar de sexo espontaneamente  quando um ambiente tem menos representantes de um determinado sexo.

O sapo mais comum com essa habilidade de mudar de gênero é o Hyperolius argus. Assim como outras espécies de sapo, esses têm pupilas horizontais e não conseguem enxergar o espectro vermelho. É documentado que os sapos têm alguma dificuldade para ver presas que não estão se movendo, mas isso não significa que eles são completamente cegos para elas. Além disso,  humanos (e outros tipos de presa) se movem mesmo quando pensam que estão completamente parados — respirando, tremendo, tendo tiques involuntários. E, por fim, como Kent Stevens disse quando perguntaram para ele sobre a questão da visão do T-Rex não ser capaz de detectar aquilo que não está em movimento, “se você estivesse suando de medo a uma polegada das narinas no um Tiranossauro Rex, ele detectaria você ali”.

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Além de uma boa visão, o T-Rex também tinha ótimos sentidos de olfato e audição. Na verdade, seus imensos bulbos olfativos, quando comparados com o tamanho do seu cérebro do dinossauro, indicavam que ele tinha um olfato equivalente ao dos abutres modernos, que são capazes de sentir o cheiro de carniça a quilômetros. Agora, a grande polêmica sobre os T-Rex gira em torno da velocidade deles. Vários cientistas acreditam que a velocidade máxima dos tiranossauros ficava entre 27 e 40 quilômetros por hora. Isso faria com que a cena do jipe ficasse um pouco menos dramática.

Bônus:

  • Os braços do T-Rex eram pequenos em relação ao seu corpo, mas cada braço de um dinossauro adulto podia levantar mais de 1.800 quilos.
  • Acredita-se que o parente mais próximo do T-Rex que ainda existe são as galinhas, que originalmente foram domesticadas não para servirem como alimento, mas para as rinhas de galo.

[Imagem via]

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