Kim Gordon: a juventude sônica chega aos 70 anos

Baixista e vocalista do Sonic Youth, grupo-símbolo do rock alternativo desde os anos 1980, chegou aos 70 anos neste 28 de abril. Listamos aqui 9 momentos especiais de sua carreira
Imagem: Reprodução/Girl in the band

O rock tem algumas mulheres firmes, independentes, talentosas, feministas e joviais que entraram na indústria da música já maduras. Isso faz com que muitos se surpreendam ao saber suas idades. Uma delas é a americana Kim Gordon, que foi baixista e vocalista do Sonic Youth, grupo-símbolo do rock alternativo desde os anos 1980. Kim chegou aos 70 anos neste 28 de abril.

Como? Aquela imponente loira de beleza angulosa e olhar duro é septuagenária agora?

Sim, aquela Kim de um quarteto de Nova York chamado “juventude sônica” (na tradução mais ao pé da letra possível) tem 70 agora. Faz parte de um clube de outras gigantes do rock (independentemente de gênero) como Debbie Harry, cantora do Blondie, que estreou em disco aos 31 anos e hoje ainda é espetacular aos 77. Ou Chrissie Hynde, que surgiu com sua banda The Pretenders aos 28 e atualmente está com 71 anos.

Kim Althea Gordon, nascida em 28 de abril de 1953 em Rochester, estado de Nova York, sempre se interessou por artes e música. Em Nova York, a cidade, expandiu seus talentos junto a artistas plásticos e músicos fora do padrão.

Formou o núcleo do Sonic Youth com o “namorido” – depois, marido mesmo – Thurston Moore, guitarrista e vocalista principal (pelo menos nos primeiros anos da banda), e o também guitarrista Lee Ranaldo. Kim assumiu o contrabaixo e cantava ocasionalmente.

A banda tinha uma proposta conceitual: tocar rock com afinações diferentes nas guitarras que geram dissonâncias inesperadas e distorcidas por pedais e amplificação. De vanguarda. E certamente não para qualquer ouvido.

Kim era co-líder do grupo. Não estava ali por ser bonita, por usar minissaia ou por ser a companheira de vida do guitarrista. Estava em pé de igualdade com os homens. Mesmo que ainda fosse vista como a “garota da banda” naqueles tempos até mais machistas que hoje. Kim sempre bateu seu pé feminista contra isso.

No Sonic Youth, todos eram progressistas, pró-feminismo, pró-causas sociais – talvez por isso tenha doído tanto para Kim descobrir em 2011 que Thurston tinha suas amantes por aí como qualquer reaça cafajeste. O divórcio só seria finalizado em 2013.

A mágoa com o ex-marido e ex-parceiro de banda  transparece na abertura de sua autobiografia “A Garota da Banda”, publicada no Brasil pela editora Rocco em 2015.

Ali, Kim relembra o último show da existência do Sonic Youth no festival SWU, em Paulínia (SP). em 12 de novembro de 2011. Um compromisso firmado anteriormente que ela enfrentou com o coração ainda sangrando.

Pós-Sonic Youth, Kim Gordon faz um pouco de tudo que envolva criação. Música, vídeos, filmes, livros, grife de roupas legais. Além de sua autobiografia e do mais visual “No Icon”, de 2020, Gordon foi uma das organizadoras de uma coletânea de ensaios feministas sobre música, “This Woman’s Work”, publicado em 2022 nos EUA.

A seguir, alguns grandes momentos de destaque para Kim Gordon na carreira do Sonic Youth.

1- “I Dreamed I Dream” (EP “Sonic Youth”, 1982)

A estreia da banda em disco foi num EP (extended play) de cinco faixas lançado em 1982. Ainda ganhando confiança, Kim Gordon, aos 29 anos, tem seus primeiros vocais registrados nesta faixa, dividindo a função com o guitarrista Lee Ranaldo.

“Me sentia limitada como cantora. Quando a banda começou, eu tentei uma abordagem vocal rítmica e falada, mas às vezes desenfreada, por causa de todas as diferentes afinações de guitarra que usávamos. Quando você ouve discos antigos de R & B, as mulheres neles cantam de um jeito muito intenso, mandando ver. Em geral, porém, as mulheres não têm realmente a permissão para mandar ver. É como a famosa distinção entre arte e artesanato: arte, e desequilíbrio, e ultrapassar limites, é uma coisa masculina. Artesanato, e controle, e delicadeza, é para as mulheres. Culturalmente, nós não permitimos que as mulheres sejam tão livres como elas gostariam, porque isso é assustador. Nós ou rejeitamos essas mulheres ou as consideramos loucas”, escreveu Kim em sua autobiografia.

2- “Freezer Burn/I Wanna Be Your Dog” (álbum “Confusion Is Sex”, 1983)

Uma faixa com duas músicas; A barulhenta “Freezer Burn” faz uma transição abrupta para uma cover ao vivo do clássico da banda The Stooges, do vocalista Iggy Pop. O jeito de cantar falando de Kim Gordon se reveza com bons gritos eventuais (outra marca dela).

O vídeo não é de 1983, mas de uma apresentação de TV durante a turnê do álbum “Daydream Nation” em 1988/89.

Um bônus: Kim divide os vocais com o próprio criador de “I Wanna Be Your Dog”, numa palhinha de Iggy Pop num show do Sonic Youth em Londres, em 1987.

3- “Shadow of a Doubt” (álbum “EVOL”, 1986)

Uma música misteriosa com nome de filme de Alfred Hitchcock.

4- ” ‘Cross the Breeze” (álbum “Daydream Nation”, 1988)

Uma faixa em andamento “cavalaria desembestada” em que Kim Gordon berra de forma muito expressiva.

5- “Addicted to Love” (álbum “The Whitey Album” sob o pseudônimo Ciccone Youth)

Meio como piada, meio a sério, o Sonic Youth fez um álbum sob o nome Ciccone Youth para associar seus experimentos sonoros ao pop de topo de parada de sucessos. E prestar tributo a Madonna (que aparece na capa), cujo sobrenome é Ciccone.

Além da cover de “Into the Groove”, de Madonna (que vira “Into the Groovey” neste LP) , a banda faz outra reinterpretação de um hit pop: Äddicted to Love”, do cantor Robert Palmer, que ficou famosa pelo videoclipe em que o astro é acompanhado por uma banda de modelos de minivestidos pretos.

Kim Gordon canta e é a diretora deste clipe irônico com o visual do clipe original de Palmer.

6- “Kool Thing” (álbum “Goo”, 1990)

Um dos melhores rocks e um dos melhores clipes do Sonic Youth. Participação especial do rapper Chuck D, do Public Enemy.

7- “Tunic (Song for Karen) (Goo 1990)

Mantendo sua fascinação com o pop descoberta com a experiência do Ciccone Youth, Kim e a banda prestam homenagem à cantora Karen Carpenter (1950-1983), da suave dupla romântica The Carpenters.

8- “Bull in the Heather” (álbum “Experimental Jet Set, Trash and No Star”, 1994)

Deliciosa batida, com o tema de bateria e chocalho lembrando o de “Mary, Mary”, de The Monkees, depois sampleada pelos rappers do Run-DMC nos anos 1980.

9- “My Friend Goo” (álbum “Goo”, 1990)

Conceito. Para encerrar esta seleção de clipes, aí vai Kim Gordon num vídeo assumidamente amador em que ela dubla a música com som ambiente que parece vir de um rádio-gravador. Hoje ela faria sucesso no Tik Tok…

 

Marcelo Orozco

Marcelo Orozco

Jornalista que adora música, cultura pop, livros e futebol. Passou por Notícias Populares, TV Globo, Conrad Editora, UOL e revista VIP. Colaborou com outros veículos impressos e da web. Publicou o livro "Kurt Cobain: Fragmentos de uma Autobiografia" (Conrad, 2002).

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