Lagarto marinho de 66 milhões de anos tinha dentes de “chave Philips”

Há 66 milhões de anos, os oceanos eram o lar de animais que hoje nos parecem monstros marinhos bastante convincentes. É o caso do mosassauro, um lagarto com nadadeiras e cauda de tubarão, e que dividia o planeta com os dinossauros. Parentes distantes de bichos como os dragões de Komodo, as cobras e iguanas, os mosassauros eram um grupo extremamente diverso.

Agora, cientistas liderados por Nicholas Longrich, da Universidade de Bath, no Reino Unido, descobriram uma nova espécie de mosassauro a partir de um fóssil encontrado no Marrocos. Com duas vezes o tamanho de um golfinho, e dentes em forma de chave Philips, o Stelladens mysteriosus surpreendeu a equipe. 

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“Não é como nenhum mosassauro, ou qualquer réptil, nem mesmo qualquer vertebrado que já vimos antes”, disse Longrich, em comunicado. As descobertas apareceram em um estudo publicado na última terça (16), na revista Fossils.

Segundo os pesquisadores, a maioria dos mosassauros tinha dentes com duas cristas serrilhadas em forma de lâmina. Além disso, elas ficavam na frente e atrás dos dentes, ajudando o animal a cortar o que quer que estivesse comendo. O S. mysteriosus, no entanto, tinham de quatro a seis dessas lâminas nos dentes, que lhes conferiam um formato de estrela. Confira na imagem abaixo:

Dentes da espécie recém-descoberta eram pequenos e com desgaste nas pontas. Imagem: Nicholas Longrich/Reprodução.

Dieta do lagarto ainda é um mistério

Como vários dentes neste formato aparecem no fóssil de Marrocos, a equipe acredita que não se trata de uma patologia ou mutação genética. Os dentes de chave Philips estariam relacionados a um modo específico de se alimentar – ou a uma dieta específica que demandava tais dentes. 

Porém, não está claro o que o Stelladens comia. É um formato inédito, afinal, então os paleontólogos não podem retirar pistas do registro fóssil ou dos animais atuais para entender por que os dentes do mosassauro são assim.

São dentes pequenos, robustos e com desgaste nas pontas. Por isso, estas características parecem descartar a hipótese de que o animal se alimentava de presas de corpo mole ou fortemente blindados – porque sua mordida não seria tão forte assim. “Isso pode sugerir que ele comia algo pequeno e levemente blindado (amonites de casca fina, crustáceos ou peixes ósseos), mas é difícil saber”, afirma Longrich.

Talvez o animal estivesse se alimentando de animais estranhos e extintos que viveram no Cretáceo Superior – período de 100 a 66 milhões de anos atrás – e preenchendo um nicho ecológico que simplesmente não existe hoje, segundo a equipe.

A nova espécie do lagarto marinho tinha duas vezes o tamanho de um golfinho. Imagem: Nicholas Longrich/Reprodução.

Os mosassauros apareceram e evoluíram durante o Cretáceo Superior até desaparecerem no grande evento de extinção que também afetou os dinossauros, e foi desencadeado pela queda de um asteroide na Península de Yucatán, no México.

O novo estudo mostra que, mesmo depois de anos de trabalho nos sítios arqueológicos do Cretáceo no Marrocos, novas espécies continuam sendo descobertas. “[Estes sítios] oferecem uma imagem incomparável da incrível biodiversidade que existia pouco antes da grande crise do fim do Cretáceo”, disse Nour-Eddine Jalil, pesquisador da Univers Cadi Ayyad, no Marrocos.