Laptops em sala de aula podem fazer a diferença – mas não exatamente do modo que você imagina
O OLPC (One Laptop Per Child) tem como objetivo levar laptops baratos para escolas de todo o mundo – inclusive no Brasil, com o programa Um Computador por Aluno – a fim de auxiliar na educação de crianças. Disso você já sabe. Mas qual é o impacto real do projeto? Muitos tentaram medir isto, mas finalmente surgiu um estudo grande que compara escolas com o laptop XO na sala de aula a escolas em geral. O resultado:
Basicamente, o impacto é restrito: em escolas com OLPC, os alunos não se saem melhor em testes de idioma e matemática; não estão faltando menos por causa do computador; nem mudaram hábitos de leitura e lição de casa. O que mudou: eles ficaram mais espertos – ganharam mais habilidades cognitivas, como você vê a seguir.
O estudo do IADB foi realizado no Peru, um dos países que adotou mais fortemente o OLPC no ensino. Participaram do estudo 319 escolas em pequenas comunidades pobres. Elas foram divididas em dois grupos: no primeiro só entram escolas com OLPC; enquanto o segundo grupo representa escolas em geral (algumas com OLPC, a maioria sem).
Os pesquisadores aplicaram testes em 15 alunos de cada escola, escolhidos aleatoriamente. São dois tipos de teste: um mede o nível de idioma (espanhol) e matemática; e o outro mede habilidades cognitivas, como raciocínio abstrato, fluência verbal e velocidade de processamento mental.
Resultados e problemas
O teste de rendimento acadêmico, do que se espera aprender na escola, decepcionou: “não há efeitos estatisticamente significantes em Matemática e Linguagem” no grupo que usa OLPC, dizem os pesquisadores. Eles lembram que não há um modelo pedagógico ligando o OLPC aos objetivos de ensino das escolas. Ou seja, o software que acompanha o laptop não tem a ver (diretamente) com o currículo de ensino – aí fica difícil pro laptop ajudar no rendimento acadêmico.
Os testes de habilidade cognitiva, no entanto, foram positivos: escolas com OLPC se deram bem melhor nos três testes. “Os resultados sugerem que a maior interação com tecnologia melhorou as habilidades cognitivas em geral”, diz o estudo. E o efeito é grande: é como se, em média, os alunos com OLPC tivessem estudado cinco meses a mais que os alunos em geral. Eles não melhoraram o desempenho escolar, mas ficaram mais espertos.
No entanto, não há efeitos relevantes em número de matrículas, presenças/faltas, tempo de leitura ou de lição de casa. E o rendimento acadêmico não é diferente por causa do OLPC. Por que o efeito é limitado? Os alunos estão usando bastante o OLPC; os professores foram treinados para usar o laptop em sala de aula; e o roubo de equipamentos é mínimo (0,3% dos laptops).
Há dois grandes problemas. Primeiro, a falta de acesso à internet: praticamente nenhuma escola, com OLPC ou sem, tinha acesso à rede – é muito caro porque as escolas são muito isoladas. (Todas as escolas dos dois grupos tinham energia elétrica, no entanto.)
Segundo, o laptop não tem projeto pedagógico: ele deve ser usado em aula, mas não foi pensado para as aulas. Tanto que os pesquisadores sugerem aos governos unir o laptop ao currículo, não simplesmente colocá-lo nas escolas e esperar a magia acontecer. Algo que eles também sugerem: melhorar a educação investindo no professor, não em equipamento novo.
O OLPC é a base do programa Um Computador por Aluno (UCA). No Brasil, nós já vimos os desafios e benefícios do projeto: ele pode reduzir faltas, aumentar o engajamento e trazer benefícios ao professor. No entanto, é preciso lidar com problemas como roubos e falta de acesso à internet. As escolas de Piraí (RJ) mostram como o UCA pode dar certo, mas ainda não conhecemos um estudo compreensivo para medir o impacto do OLPC no Brasil. [IADB via The Economist via The Verge; valeu, Pedro!]
Fotos por Kent Quirk e One Laptop Per Child/Flickr