[Lifehacker] Como hackear o seu cérebro
Você não é quem você pensa que é. Sua personalidade e identidade são significativamente mais maleáveis do que você imagina. Com alguns truques simples, você pode explorar a funcionalidade do seu cérebro para modificar quase qualquer coisa a respeito de você mesmo. Veja como.
Você não é necessariamente a pessoa que pensa ser
Você não é quem você é. Você é o subproduto de muitas influências. Existe um ditado que diz que “cachorro velho não aprende truque novo”, e ele existe por um motivo: quanto mais tempo faz que você é a pessoa que acha que é, mais difícil é mudar. Mas o lance é que é possível mudar drasticamente quem você é. E nem é que seja tão difícil mudar, é que você já desenvolveu padrões e hábitos que tornam mais fácil fazer as coisas do jeito que você já faz. Tentar algo de um modo novo pode ser muito desconfortável e será geralmente bem menos eficiente. Além disso, falta de empolgação com a mudança é geralmente um problema, já que você estará abrindo mão do conforto associado ao seu jeito.
Mas com isso eu não quero dizer que você não nasceu com um conjunto de habilidades inerentes, apenas que a maior parte daquilo que você considera a sua identidade é um produto de influências. Nós temos a tendência de achar que mudanças são difíceis, mas no fim é apenas uma questão de mudar as suas influências. Você provavelmente já ouviu falar da Síndrome de Estocolmo – um termo usado para descrever o processo de vítimas de sequestro desenvolverem emoções positivas em relação aos seus captores. Esta síndrome não acontece por causa de alguma lavagem cerebral feita pelo sequestrador, mas sim porque a vítima se adaptou à sua situação. Se a maioria das pessoas é capaz de se adaptar a algo tão horrível quando estar em cativeiro forçado, também serão capazes de se adaptar a pequenas mudanças positivas em suas vidas. Você pode conseguir mudanças enormes se estiver disposto a fazer algum esforço e arranjar para si as influências adequadas. Vamos ver como fazer isso a seguir, tanto em níveis superficiais quanto profundos, desde instruir o seu cérebro até manipular as suas próprias emoções. Veremos também como o ambiente e as pessoas ao seu redor moldam a sua vida.
A maior parte destes métodos não te fará se sentir confortável, e alguns deles podem ser considerados um pouco malucos por alguns, mas é possível “hackear” o seu próprio cérebro, e veremos aqui algumas maneiras de fazer isso.
Sugestionando o seu cérebro
Sugestionar o seu cérebro é uma técnica incrivelmente simples, já que tudo que ela envolve é que você fale consigo mesmo. Na ponta mais sem graça do espectro, é parecido com auto-afirmação. Na ponta mais maluca, temos algumas semelhanças com programação neurolinguística. Sugestionar envolve recitar um grupo determinado de palavras, projetado para alterar o seu estado mental. Isso não é lavagem cerebral e não vai conseguir te levar a fazer nada que você não queira. O que isso consegue fazer é te colocar em um estado mental que será mais útil para você em uma dada situação ou tarefa.
Antes de entrarmos nas especificidades do ato de sugestionar o seu cérebro, vamos ver por que isso funciona. Se você dissesse a palavra mostarda em voz alta, então visse uma parte da palavra mais tarde, você se lembraria da palavra e do seu significado. Por exemplo, se você dissesse que “a justiça tarda”, você poderia acabar lembrando de mostarda de novo, pela semelhança com a palavra tarda. Se você estiver com fome e gostar de mostarda, poderia até ficar com vontade de consumir um pouco. Este é o mesmo fenômeno te incentiva a comprar uma marca específica de shampoo que você viu na TV mesmo que você 1) nem lembre de ter visto a propaganda e 2) realmente não se importa com marcas de shampoo. É essencialmente assim que o sugestionamento cerebral funciona.
Você não lembra de tudo o que fala, mas isso não significa que o que você fala se perde para sempre. Tudo que é armazenado na sua memória de curto prazo pode não estar imediatamente acessível, mas você só precisa de uma palavra-gatilho para lembrar de algo. Isso é conceitualmente similar a usar acrônimos como uma ferramenta de memorização, mas a ideia não é ajudar você a lembrar de nada. Em vez disso, o objetivo é colocar palavras comuns que, quando separadas, não tenham nenhum valor específico, mas que, quando juntas, tenham um valor associativo que te faça pensar em coisas positivas, tristes, pessoas específicas ou ambições. Se qualquer uma dessas palavras comuns surgir durante o seu dia, você imediatamente associará com um o valor associado ao grupo. Um exemplo:
- dirigir
- fazer
- ir
- construir
- objetivo
- importante
- criar
- comprometimento
- propósito
- entusiasmo
- vontade
- motivação
Esta é uma lista de palavras fortemente relacionadas com ambição. O propósito dela é te colocar em um estado mental ambicioso quando você as ler em voz alta, focando seus pensamentos e sugestionando o seu cérebro a reagir com ambição sempre que estar palavras, ou partes delas, aparecerem durante o seu dia.
Outro exercício envolve pegar uma lista mais curta de termos de sugestionamento e fazer uma frase com eles. Exemplo:
- a
- sorriu
- olhou
- garota
- e
Estas palavras podem formar a frase “a garota olhou e sorriu”, que deve trazer associações de ideias prazerosas para a maioria das pessoas. Construir frases a partir de listas de palavras (que você pode criar) pode ajudar a te colocar no estado mental desejado.
Estes dois métodos podem ser usados para ajudar a sugestionar o seu cérebro. Não são truques de mágica para te fazer sentir felicidade, ambição, coragem ou o que quer que seja, mas podem ajudar a te colocar no estado mental necessário para cumprir melhor as suas tarefas diárias.
Para ler mais a respeito de sugestionamento mental, incluindo alguns estudos bem interessantes, não esqueça de clicar nos links do quadro de referências ao final deste texto.
Usando as suas emoções
Se você já se pegou tomando decisões estranhas ao seu caráter baseado no seu estado emocional — como abusar de sorvete depois de um fim de namoro –, você sabe a facilidade com que os seus sentimentos podem tomar o controle dos seus atos. Em vez de deixar as suas emoções te levarem a tomar más decisões e comportamento irracional, você aprender a compensar por diferentes estados emocionais e a fabricar emoções para alterar o seu “clima”. Para fazer isso, sendo bem direto, você precisa entrar em contato com os seus sentimentos. A ideia não é catar um travesseiro e chorar pela sua infância, mas sim entender o que você está sendo quando você estiver sentindo aquilo, qual a causa raiz desse sentimento, e o que você pode fazer a respeito. Vamos ver aqui como você pode fazer para dissecar o seu estado emocional e usá-lo a seu favor, assim como aprenderemos a fabricar emoções para alterar o modo como você se sente.
Faça uma aula de teatro
Você não vai conseguir controlar as suas emoções se não entendê-las, e uma das melhores maneiras de entender as suas emções é fazer uma aula de atuação. Para alguns, isso pode parecer divertido, enquanto pode parecer o inferno na Terra para outros. Ame ou odeie, um um curso de teatro é uma das melhores maneiras de explorar como e por que você sente certas coisas. Seu objetivo deve ser encontrar uma turma que te deixe desconfortável sempre. Na minha experiência, qualquer curso que ensine a técnica Meisner faz bastante efeito se você se esforçar bastante com os exercícios. Pode ser lento, tedioso e desconfortável, mas é capaz de trazer à tona emoções que nem você estava ciente de ter.
Fique desconfortável
As suas emoções não estarão em força total se você não estiver fazendo nada, então você precisa se colocar em situações de desconforto para trazê-las à tona. Isso não significa que você deva forçar para que se sinta horrível, mas sim que você deve sair e fazer coisas que sempre resistiu por ter medo dos lados ruins. Conhecer pessoas novas é algo que deixa a maior parte das pessoas desconfortável, e é um ótimo primeiro passo, especialmente se for algo tipo um primeiro encontro. Experimente coisas novas que te assustam. Se você notar que está grudado no sofá e não quer levantar, faça o oposto. Passe um tempo com pessoas que você não gosta. Vá ver um filme que você tem certeza que vai odiar. Suas experiências não serão prazerosas, mas elas devem incitar emoções que você depois poderá analisar e compreender melhor.
Mantenha um registro de como você se sente
Como em um dicionário abreviado, cada vez que você tiver uma reação emocional a alguma coisa, anote. Não precisa incluir detalhes, apenas a emoção experimentada e uma possível causa. Por exemplo, eu fico extremamente irritado quando estou com fome. Eu perco a paciência com enorme facilidade quando estou com fome, então sempre que eu me percebo pensando coisas irracionais (e às vezes raivosas), eu me lembro que estou com fome e que logo vou comer. Assim, o “babaca” que errou a lata de lixo e não percebeu aparece claramente como resultado do meu estômago vazio. Antes de começar a prestar atenção, eu nunca havia reparado em como eu era babaca quando estava com fome. Eu pensava simplesmente que eu era um babaca. Este é um exemplo simples, mas o ponto é: preste atenção em como você se sente e nas outras questões presentes no seu ambiente, assim você descobrirá que é fácil gerenciar e controlar as suas emoções negativas.
Atue emoções de frente para o espelho
Fabricar emoções é difícil. Depois de entender as suas, fica um pouco mais fácil, mas ajuda ser capaz de lembrar fisicamente como se sentir em cada emoção. Todos nós sabemos como sorrir, por exemplo, mas você provavelmente pode encontrar mais sorrisos falsos do que verdadeiros nos seus álbuns de fotos. Se você não sabe como criar um sorriso autêntico (também conhecido como sorriso de Duchenne), isso vai ser bem óbvio para qualquer um ao seu redor.
A maneira mais fácil de aprender a fingir expressões é praticá-las na frente do espelho. Você pode ir tentando e vendo como fica, assim você já sabe imediatamente se as suas emoções falsas estão convincentes ou não. Você também vai perceber que a sensação física de criar uma emoção autêntica é diferente da de criar uma que pareça falsa. Por exemplo: um sorriso real pode ser identificado mais pelos olhos do que pela boca. Quando alguém dá um sorriso genuíno, os seus olhos ficam enrugados dos lados, criando os famosos “pés de galinha”, porque um músculo novo é usado. Você vai acabar lembrando desta sensação e será capaz de replicá-la longe do espelho depois de um pouco de treino.
http://www.youtube.com/watch?v=EYL64yzO4bM
Não é necessariamente fácil brincar de fazer emoções na frente do espelho, mas também não é tão difícil como você deve estar pensando. Se o seu objetivo é simplesmente aprender a sorrir melhor, você vai conseguir isso se ficar simplesmente se observando por um tempo. Eventualmente vai ficar tão ridículo qie você vai ter que rir. Se você for menos paciente, pode tentar fazer caretas ou coisa ridículas em geral para tentar rir mais rápido. Se você estiver confortável com isso, pode pedir para um amigo ajudar. Para outras emoções, você só precisa encontrar uma fonte para ela e trazê-la à tona na frente do espelho. Se você já utilizou as técnicas citadas anteriormente, talvez já tenha uma reserva. ALternativamente, assista a um filme que te faça rir ou chorar e vá para a frente do espelho fazer isso. (Sim, é algo absolutamente estranho para se fazer, mas vai funcionar. Se você está interessado em produzir raiva, provavelmente consegue chegar lá em sem muito esforço, apenas reclamando de alguma coisa para si mesmo ou para um amigo ao telefone.
Praticar emoções em frente a um espelho será estranho e constrangedor no início, mas depois de algumas tentativas você pegará o jeito e será capaz de criar expressões autênticas sempre que quiser ou precisar. Estas expressões sem dúvida surgem a partir de emoções genuínas, então repetí-las pode te fazer mesmo mais feliz/triste/bravo/etc, por causa da repetição. Se você precisar alterar o seu humor e estado mental, a habilidade de falsificar até que se torne verdadeiro será muito, muito útil.
Pense na sua saúde
Qualquer coisa que você fizer será muito mais fácil se você estiver com a saúde em ordem. E isso vale para a saúde mental e física. Estes métodos não serão muito efetivos se você estiver depressivo. Você também os achará difíceis se não estiver dormindo e comendo bem, além de praticar uma quantidade razoável de atividade física diariamente. Você pode fazer praticamente tudo melhor se estiver com o corpo e a mente bem cuidados, então não veja nada que está neste texto como uma solução para os problemas da sua vida. Tudo que está escrito aqui parte do pressuposto que você toma cuidado de si mesmo e geralmente começa os dias com o pé direito. Se você não se sente muito bem na maioria dos dias, precisa tomar conta desses problemas antes de decidir fazer truques mentais consigo mesmo. Saúde em primeiro lugar.
Referências: