Nova espécie de louva-a-deus perfura sua presa com uma pata que parece um garfinho

Um pesquisador encontrou na floresta tropical do Peru um tipo de louva-a-deus que ainda não havia sido documentado. A espécie se diferencia pelo seu método de capturar presas, com patas afiadas.
Carrikerella simpira comendo uma mosca. Foto: Yony Callohuari

Os louva-a-deus são predadores de elite na emboscada, agarrando suas vítimas com um ataque relâmpago usando seus membros da frente. Mas uma espécie recém-descrita não segura sua presa em um ‘abraço’ espinhoso: ela perfura a vítima, usando longos espinhos ásperos, e os segura como se fosse um pedaço de pão no fondue.

Os novos louva-a-deus foram descobertos na floresta tropical montanhosa do centro do Peru, onde a espécie, sem dúvida, viveu durante eras. Foi somente nos últimos anos que Julio Rivera, um entomologista da Universidade Santo Inácio de Loyola em Lima, começou a estudar esses insetos de perto.

A primeira vez que ele encontrou a espécie foi há cerca de duas décadas, quando viu um macho. Agora, Rivera conseguiu capturar uma fêmea viva e passou a reproduzi-los no seu laboratório, utilizando a técnica de kokedama para plantas.

A análise cuidadosa das características físicas dos indivíduos sugeriu que esta espécie era distinta dos seus parentes próximos. Rivera e um colega apresentaram a criatura – batizada de Carrikerella simpira – à ciência pela primeira vez em um artigo publicado no mês passado na revista Neotropical Entomology.

Essa espécie do louva-a-deus é esguia e minúscula, com cerca de metade do comprimento do um polegar. Malhado em cinza e verde, o inseto imita muito bem o líquen que cresce no tronco da árvore em que habita na floresta tropical, onde espera pacientemente sua presa.

Uma Carrikerella simpira bebê comendo um pulgão. Foto: Yony Callohuari

Mas enquanto observava um dos pequenos predadores caçando em seu kokedama, Rivera percebeu que esta criatura despretensiosa não caçava como os outros louva-a-deus.

“O que eu realmente vi foi um louva-a-deus que não conseguia pegar uma mosca”, conta Rivera. “O louva-a-deus perdeu a presa e depois furou o tecido da planta, e ficou preso.”

Com algum esforço, diz Rivera, o louva-a-deus conseguiu soltar sua pata dianteira espinhosa da planta. Não demorou muito para que o pesquisador visse os louva-a-deus terem sucesso, atacando e prendendo sua presa numa fila de espinhos.

Um olhar mais atento para aqueles espinhos revelou suas bordas forradas com farpas, perfeitas para agarrar as vítimas empaladas.

Uma renderização 3D do segmento das patas dianteiras da nova espécie. Ilustração: Yony Callohuari

Insetos carnívoros apanham as suas presas usando uma vasta gama de truques, mas até agora, essa técnica nunca tinha sido documentada. O Carrikerella simpira parece ser o primeiro inseto conhecido a empalar a sua presa com as patas, e entre todos os artrópodes, essa é uma estratégia vista apenas em algumas lacraias-do-mar, que são crustáceos sem parentesco direto.

Usar as patas dianteiras dessa forma parece ser uma adaptação para conseguir sobreviver entre o musgo e o líquen da floresta tropical. O habitat está repleto de invertebrados de corpo mole (e rápido), como colêmbolos e ácaros. Para o Carrikerella simpira, o mundo é um supermercado, e as amostras grátis sempre estão disponíveis.

Uma fêmea da espécie recém-descrita de louva-a-deus. Foto: Yony Callohuari

Mas como os louva-a-deus conseguem atingir essas presas minúsculas é algo impressionante, exigindo uma precisão difícil de entender. Alguns dos ácaros que os louva-a-deus capturaram tinham apenas 0,5mm de comprimento.

“Imagine que você quer pegar um M&M com um palito que seja cumprido o suficiente para alcançá-lo do chão”, disse Rivera. “E você tem que fazer isso de uma só vez. Sem erro.”

“É uma abordagem mais fina e refinada ao golpe dos louva-a-deus”, observou Rivera.

Em retrospecto, ele disse, observar o ataque de nocaute e agarramento dos louva-a-deus mais típicos parece “grosseiro” e “brutal”, em comparação com a técnica dessa espécie.

Esses louva-a-deus, segundo Rivera, estão “basicamente atirando num alvo de longa distância”, um feito ainda mais impressionante, dado o seu cérebro pequeno e aparentemente simples. Mais pesquisas sobre como esses louva-a-deus conseguem atingir seus alvos podem ter aplicações tecnológicas, como melhorar os sistemas de navegação de longa distância, sugeriu Rivera.

“Esse artigo é um bom exemplo da taxonomia moderna: uma nova espécie é descrita não apenas como um espécime seco com uma forma estranha, preso em uma caixa, mas como uma fascinante peça da evolução”, disse Roberto Battiston, entomologista do Musei del Canal di Brenta, na Itália, que não estava envolvido neste estudo, em um e-mail ao Gizmodo.

“Quando você estuda louva-a-deus, você nunca se entedia; eles estão sempre te surpreendendo”, disse Battiston, observando que a família à qual a nova espécie pertence – Thespida – é particularmente misteriosa. “Eles são alienígenas entre alienígenas.”

Na esquerda: uma pata dianteira “padrão” do Pseudopogonogonogaster kanjaris. Na direita: a pata dianteira modificada do Carrikerella simpira. Foto: Yony Callohuari

Por mais estranha que seja o Carrikerella Simpira, não é o único. Rivera disse que existem definitivamente outros louva-a-deus na mesma família que estão caçando com a mesma técnica, bem como algumas espécies não relacionadas de louva-a-deus que vivem no líquen do sudeste asiático que evoluíram de forma independente com patas dianteiras notavelmente semelhantes.

Há também alguns louva-a-deus que, quando jovens, têm espinhos dianteiros muito parecidos com os do Carrikerella simpira, mas que acabam por se tornar adultos com patas mais convencionais. Portanto, é possível que exista um pequeno exército de louva-a-deus secretos, apenas à espera de serem plenamente reconhecidos.

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