Luzio, esqueleto de 10 mil anos encontrado em SP, é antepassado de indígenas atuais
Pesquisadores da USP extraíram amostras de DNA do esqueleto humano mais antigo já encontrado no estado de São Paulo, batizado Luzio. O grupo descobriu que ele era descendente da população que se estabeleceu nas Américas há pelo menos 16 mil anos, e deu origem aos povos indígenas atuais.
A equipe trabalhou em conjunto com a Universidade de Tübingen, na Alemanha. As descobertas, baseadas no maior conjunto de dados genômicos arqueológicos brasileiros, foram publicadas nesta segunda (31), na revista Nature Ecology & Evolution.
Mas quem, afinal é Luzio? E por que raios ele tem um nome tão estranho? O grupo, liderado por Levy Figuti, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, encontrou esqueleto do descendente humano no vale do Ribeira de Iguape, próximo à divisa com o Paraná.
O crânio do esqueleto é bastante semelhante ao crânio de outro esqueleto antigo: o de Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado até hoje na América do Sul, na região de Lagoa Santa (MG) em 1974. Daí o nome do esqueleto masculino. Luzia viveu há cerca de 13 mil anos atrás. Luzio, por volta de 10 mil.
Os pesquisadores brasileiros e alemães analisaram os genomas de 34 amostras de quatro áreas diferentes da costa brasileira. Os fósseis tinham pelo menos 10 mil anos de idade e vieram de sítios arqueológicos diversos como os sambaquis – grandes montes de areia, terra e conchas deixados por populações antigas de pescadores e coletores pelo Brasil.
“Depois das civilizações andinas, os construtores de sambaquis da costa atlântica foram o fenômeno humano de maior densidade demográfica da América do Sul pré-colonial”, disse André Strauss, arqueólogo do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, em comunicado. “Eles desapareceram repentinamente há cerca de 2.000 anos.”
Descobertas sobre Luzio e outros fósseis
A análise genética de Luzio mostrou que ele era um indígena como os que vivem hoje na América do Sul – e reforça a ideia de que todos derivam de uma única onda migratória que chegou às Américas há não mais de 16 mil anos.
O estudo também revelou diferenças biológicas entre comunidades heterogêneas com semelhanças culturais, principalmente entre grupos que viveram próximos às costas das regiões sudeste e sul do Brasil.
Strauss explicou em comunicado que a análise genética confirmou uma sutil diferença entre essas comunidades, já indicada por estudos de morfologia craniana realizados nos anos 2000. “Essas populações costeiras não estavam isoladas, mas ‘trocavam genes’ com comunidades do interior” – e isso gera diferenças regionais ao longo de milhares de anos.