Machado de Assis vai ganhar acervo digital completo com fotos raras

Material de Machado de Assis deve acompanhar trilogia biográfica com documentos e fotos inéditas do escritor brasileiro através do tempo. Confira algumas delas
Machado de Assis vai ganhar acervo digital completo com fotos inéditas
Imagem: Marc Ferrez/ Insley Pacheco/Machado de Assis Online/Reprodução

Que Machado de Assis é um dos maiores escritores do Brasil, todos sabemos. Mas será que nosso conhecimento vai além da obra? Um projeto do analista de sistemas e editor Cláudio Soares quer provar que ainda há muito a conhecer sobre o autor que viveu entre 1839 e 1908. 

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Há pelo menos três anos ele se dedica a encontrar e reunir tudo o que pode sobre Machado. O objetivo: escrever uma trilogia sobre a vida do autor e disponibilizar documentos, fotografias e todo o acervo usado como fonte em um site aberto ao público. 

Assim surgiu o perfil do Twitter “Machado de Assis Online”. A página começou a publicar reportagens e fotografias desconhecidas do escritor em junho. Em três meses, reuniu mais de 8 mil seguidores interessados em conhecer e debater a vida e obra do criador de Dom Casmurro. 

O perfil é uma amostra da biografia de Machado de Assis. Soares planeja uma trilogia com detalhes sobre a vida do autor. A previsão é que o 1º volume seja lançado em 2023. Ao todo, a trilogia deve alcançar 1,5 mil páginas com base em mais de 2,5 mil materiais de referências sobre o escritor. 

“Tenho muita informação acumulada. Na informática, eu trabalhava com gestão da informação, lidava com a organização de dados caóticos. E é isso que estou fazendo agora”, disse em entrevista ao Gizmodo Brasil

Segundo Soares, Machado de Assis tem várias biografias, mas todas escritas sob a perspectiva acadêmica. “Quero possibilitar uma visão mais humana do autor, trazer essas informações para o grande público”, afirmou. Pesquisadores de Machado de Assis também colaboram com o projeto. 

As obras devem abordar temas que atravessam o homem por trás de Memórias Póstumas de Brás Cubas, desde a árvore genealógica até a ascensão social e discussões sobre negritude e racismo. 

“Apesar de escrever sobre um personagem que morreu há 114 anos, Machado nunca esteve tão em voga. É só ver o interesse no Twitter: temos um público amplo, muito engajamento. Machado é mais amplo que aquilo que está na comunidade científica. As pessoas têm interesse sobre ele”, pontuou Soares. 

Veja fotos raras de Machado de Assis

As fotografias foram publicadas no perfil do Twitter Machado de Assis Online (@mdassisonline).

Machado de Assis aos 30 anos. Imagem: Insley Pacheco/A Juventude de Machado de Assis

O escritor Machado de Assis aos 40 anos. Imagem: Isnley Pacheco/Machado de Assis Online/Twitter/Reprodução

O autor Machado de Assis aos 25 anos. Imagem: Insley Pacheco/Coleção particular de Ruy Souza e Silva/Machado de Assis Online/Twitter/Reprodução

Machado de Assis na Missa Campal para celebrar a Lei Áurea, em 17 de maio de 1888. Só aparece o topo da cabeça, olhos e bigode atrás de homem à frente, com barba branca. Imagem: Biblioteca Nacional/Reprodução

Machado de Assis aos 58 anos. Imagem: ABL/Reprodução

Gestão das informações

É um vasto trabalho de pesquisa – e, principalmente, de curadoria. A 1ª publicação de Machado de Assis na imprensa, por exemplo, é um poema de 1854, quando tinha 15 anos. Desde então, ele publicou de modo quase que ininterrupto em jornais até sua morte, em 1908. 

“Para juntar tudo isso precisamos aproveitar muito do que já foi feito, mas estava disperso”, explica Soares. “É claro que nem tudo vai caber no livro, que tem espaço limitado, mas essas informações não podem ser descartadas”. 

Por isso, o plano é criar um portal com informações categorizadas para que qualquer pessoa possa acessá-la – não só quem ler a biografia.

“A ideia é criar um hub como o de uma rede social, com bases de dados, infográficos, mapas. Informações fáceis de serem acessadas”, apontou. Os arquivos devem entrar na plataforma à medida que os livros da trilogia são publicados. 

Tecnologia para desvendar Machado

Até lá, a tecnologia também deve ajudar a desvendar questões inerentes a Machado de Assis, como a discussão sobre sua negritude. Fotografias antigas apontam que o escritor era o que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) classifica como “pardo”. 

“A mãe de Machado era portuguesa, branca. O pai era pardo. Então é muito provável que ele também fosse pardo. Mas quando morreu, morreu branco. Está na certidão de óbito”, contou o editor. 

Segundo Soares, os documentos mostram que o diplomata e jornalista Joaquim Nabuco, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ficou revoltado com um artigo do famoso crítico literário José Veríssimo, que chamou Machado de “mulato”. 

“Seu artigo no Jornal do Commercio está belo, mas esta frase causou-me arrepio: mulato”, escreveu Nabuco. “Eu pelo menos só vi em Machado de Assis, o grego”. Tanto Nabuco quanto Machado de Assis apoiavam a campanha abolicionista. A prova está em fotografias e documentos da época. 

A reunião de informações sobre Machado abre caminho para conhecermos uma nova perspectiva sobre o escritor brasileiro. “Temos uma ideia errada de Machado. Confundiram-o com seus personagens. Machado não era Dom Casmurro”, diz Soares. 

Os documentos mostram que Machado se arrependeu de não ter filhos – diferente do que se pensaria ao ler Memórias Póstumas de Brás Cubas, onde o personagem central orgulha-se em não ter deixado a ninguém “o legado de nossa miséria”. 

“Ele não teve filhos pois se casou com Carolina quando ela já tinha 35 anos e ele 30. Na época, estavam criando uma estrutura, não tinham uma vida fácil em termos financeiros. Documentos mostram cobranças de dívidas dele”, conta Soares. “Não era um símbolo. Era uma pessoa comum. Espero detalhar a infância e juventude, pouco conhecidas hoje”.

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Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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