Você quer comprar um iPhone e nunca usar um serviço de dados de uma operadora? Compre um iPod Touch da última geração, de 32 GB por R$ 825 (ou um antigo por R$ 500) e fique com um celular vagabundo com chip da Oi para fazer ligações – a bateria durará mais tempo e a qualidade das ligações será possivelmente melhor. Isso é a coisa mais racional a se fazer. No post anterior houve uma polêmica que eu não esperava. Porque há mais de um ano escrevo neste blog e quando informo o preço do celular (sem subsídios), sempre, SEMPRE várias pessoas dizem que pagar R$ 1.500 ou qualquer coisa perto disso por um celular é maluquice. "Só no Brasil", é o comentário mais comum. Aí escrevemos que não faz sentido pagar R$ 2.000 num iPhone (dificilmente ele sairá menos que isso pela Oi), até porque você não vai usar o máximo dele, e todo mundo diz que o que escrevemos é absurdo. Alguns sem-noção vão além e dizem que o post é pago. Quem está louco aqui?
O serviço de dados do Brasil é um lixo? É. É caro? Sem dúvida alguma. Usar o Wi-Fi na rua é alternativa? Não. Comparativamente com o resto do mundo, há pouquíssimos lugares no Brasil com Wi-Fi público gratuito. Onde tem, são lugares caros para se comer – eu sou rato de Wi-Fi, conheço bem onde os hotspots se encontram. Na maior parte dos lugares, você é refém da Vex e seus R$ 25 por um dia de navegação em aeroportos, shoppings ou no Starbucks. Se você só usa o iPhone na sua casa e no trabalho, onde tem Wi-Fi o tempo inteiro, você não precisa de um iPhone: é melhor comprar o iPhone que não tem 3G, que atende pelo nome de iPod Touch e é significativamente mais barato.
Se você foi um dos sortudos que conseguiu comprar o aparelho desbloqueado nos EUA, bem mais barato, parabéns. De verdade, é um ótimo negócio: note que não somos contra aparelhos desbloqueados, absolutamente pelo contrário. O problema é que para comprá-lo desbloqueado normalmente você está comprando um aparelho pré-pago. Aí você vai pagar bastante caro. Pagar mais de R$ 1.000 em um celular não faz sentido em basicamente qualquer país do mundo. Menos ainda no Brasil, onde a renda média é baixíssima.
Em todos os outros lugares do planeta, os consumidores já entenderam que o celular é um bicho legal e tudo, mas ele é um meio. Você está pagando basicamente pelo serviço de executar chamadas e acessar a rede de dados. Alguns fazem isso melhor, outros têm meia dúzia de funções extras como uma câmera boa, mas as operadoras sabem que você vai gastar dinheiro com o serviço e basicamente te dão o aparelho. Ou literalmente ou a preços baixíssimos.
Então é natural que as operadoras subsidiem. Em qualquer lugar do mundo se acha uma troca justa ficar "preso" em uma operadora por um ou dois anos para ter o melhor celular por um preço mais justo. Um dos motivos pra Nokia não fazer sucesso nos EUA é o fato de os melhores telefones desbloqueados deles custarem cerca de US$ 500. Para o poder de compra dos americanos, isso é bem menos que R$ 500. Mas eles acham o fim da picada pagar isso. Para eles, a diferença de US$ 100 entre um aparelho e outro é bem grande. Eles são mãos-de-vaca? Não. Apenas mais conscientes. Aqui no Brasil não. Todos somos riquíssimos, não nos importamos com o preço.
Se você acha ok pagar R$ 2.000 num iPhone mas acha o fim da picada pagar R$ 150 ou R$ 200 por mês para ligar bastante e usar a internet onde quiser, pode ser meio triste dizer isso, porque o celular é ótimo, mas você não tem condições de comprar um iPhone no Brasil, ou não deveria, ou deveria guardar o dinheiro para algo mais importante.
E esse tipo de mentalidade é comum no Brasil, onde as pessoas compram carros de R$ 50 mil mas economizam na trave elétrica ou seguro; onde se compra videogames mas não se reserva dinheiro para comprar jogos; onde a loja da Louis Vuitton vende loucamente – mas parcelado, com direito a cheques sem fundo. É o país onde se dá passos maiores que as pernas, e a taxa de endividamente e nomes sujos do Serasa não me deixam mentir.
E minha função como jornalista é largamente educar o público. Seja para ensinar a comprar no exterior, mais barato, ou aqui neste post, tentando explicar como comprar celular de maneira consciente, sem compremeter seu rim para isso. Então, repetindo: comprar um iPhone pré-pago, por causa do preço dele no Brasil, é uma burrice.
Note que não estamos malhando a Oi. Até poderíamos, já que ela tem a pior qualidade de ligações (ao menos aqui em São Paulo) e nem oferecem planos de dados para celulares. Mas ela tem tarifas agressivas em termos de preços de ligações, e isso é fundamental no Brasil, onde mais de 80% dos telefones são pré-pagos. O público-alvo da operadora é justamente o pessoal que aparentemente quer gastar menos com ligações. O público que quer gastar pouco quer pagar R$ 2.000 num aparelho. Não faz sentido pra mim. Talvez eu esteja deixando de perceber alguma coisa. E, honestamente, adoraria estar totalmente enganado e ver a Oi lançar o seu iPhone 3GS por menos de R$ 1.500. Seria fantástico.