O raciocínio parece não fazer sentido. Mas é exatamente essa pergunta que as pessoas nos EUA estavam se fazendo (em outro assunto), ao menos pelos intensos debates na TV que eu vi durante o tempo que estive lá. Nos EUA hoje há um gravíssimo problema do sistema de saúde: a maior parte não é coberta por nenhum plano, porque todos são bastante caros. O sistema público de saúde, em termos de cobertura de procedimentos, é certamente pior que o Brasil (não é exagero).
A reforma proposta pelo presidente Obama custaria uma grana bastante razoável. Mas de onde viria o dinheiro? Uma das propostas é aplicar uma taxa de 10% sobre comida fast-food que iria diretamente para um fundo de planos de saúde. Afinal, é um dos motivos pelo qual o pessoal lá tem doenças coronárias ou diabetes – há dias que o Cheeseburger do McDonald’s custa 49 CENTS. Menos de um real por uma dose de sal e gordura. E eles ganham mais que a gente, é bom lembrar.
Outra ideia é simplesmente cobrar uma taxa a mais de pessoas que já tem plano, para que outras possam ser cobertas. Faz sentido pra você? Extrapolando para a banda larga, vamos supor que cada um dos mais de 1 milhão de assinantes do Speedy na cidade de São Paulo pagassem R$ 2 por mês de uma taxa do governo. O novo imposto poderia financiar um valor máximo para a banda e faria com que os (chutando) 100 mil assinantes de banda larga em Manaus pagassem 20 reais a menos de mensalidade.
A pergunta é: se você soubesse que o dinheiro teria destino certo (num mundo ideal, ok), você concordaria em pagar mais pela sua internet para que mais pessoas tivessem acesso? Ou você acha que todo mundo no Brasil já paga demais e as operadoras lucram muito? O governo tem de subsidiar o aumento da rede, ou só dar concessão se os provedores cobrirem cidades menores? O fato é que o abismo social entre diferentes regiões e classes econômicas do País só tende a aumentar se as pessoas não tiverem igual capacidade de acesso.