Esta semana, tivemos uma surpresa no setor de telecomunicações no Brasil: a GVT, que leva internet ultrarrápida a preço acessível para várias cidades do Brasil, pode ser comprada pela Telefônica, alvo de críticas e ações da Anatel devido à qualidade do seu serviço Speedy de banda larga que tenta a todo custo melhorar sua imagem. Não está claro se a própria Telefônica sai ganhando com esta aquisição, e ela promete não comer a alma inovadora da GVT. Mas eu, por morar em São Paulo, provavelmente sairei perdendo.
O grupo francês Vivendi — dono, entre outros, de World of Warcraft e do Universal Music Group — já tinha oferecido R$5,4 bilhões pela GVT. Mas a Telefônica paga 15% a mais: R$ 6,5 bilhões (ou R$ 48 por ação), a fim de ampliar sua presença fora de São Paulo, nos outros 13 Estados (mais DF) onde a GVT atua.
Não está claro se a Telefônica sairá ganhando com essa compra: os acionistas da empresa podem se decepcionar porque esperavam levar bons dividendos este trimestre — que podem nem chegar porque a empresa vai gastar bilhões comprando outra empresa. E não faz mal tratar bem os acionistas, principalmente nesta época de crise.
De qualquer forma, a Vivendi está praticamente fora do jogo: eles já deixaram de comprar outras empresas no passado porque ficaram muito caras; fora que o maior grupo de entretenimento da Europa não está morrendo de vontade de se expandir no Brasil. Talvez eles conversem com a GVT no dia 14 pra continuar as negociações — talvez.
Em nota, a Telefônica disse que sua intenção é “ampliar [su]a presença (…) para outros Estados do país, assumindo as operações que a GVT mantém na região Sul, Centro-Oeste, Nordeste e outros Estados do Sudeste que não São Paulo”. Por aí, imagino que a tecnologia de minicentrais que possibilita à GVT fornecer internet banda larga superrápida não será trazida ao estado que mais consome banda larga no Brasil: por aqui, tudo ficará na mesma. Se a Vivendi comprasse a empresa, talvez isso acontecesse, já que ela não tem vícios locais.
Mas será que a GVT viria mesmo para São Paulo fornecer serviço a clientes residenciais? Para analistas de mercado, sim:
A entrada da GVT no segmento de varejo nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro era considerada um risco para os negócios de internet por banda larga da NET. No entanto, com a aquisição da Telefônica, este risco se limita somente ao Rio.
A compra da GVT ainda não foi fechada: os sócios da empresa precisam aprovar o negócio, que precisa do OK de autoridades regulatórias, pra garantir que não haja concentração excessiva de mercado. Mas não deve haver complicações: afinal, a fusão da Oi/Telemar com a Brasil Telecom abriu um precedente, e no caso da empresa curitibana é mais fácil, pelo porte.
Se o negócio for adiante, a Teleônica (vulgo Telesp) já adiantou que quer manter a "estratégia", do grego estrategia. E no dia seguinte à oferta soltou essa nota para tentar tranquilizar os temerosos:
A Telesp entende que a conjugação das suas operações e da GVT apresenta uma lógica estratégica bastante atraente para ambas as companhias. A GVT é provedora de serviços de telecomunicações com forte presença na Região II do Plano Geral de Outorgas e tem sido muito bem sucedida na sua estratégia de conquistar consumidores de serviços de alta tecnologia com produtos inovadores e especialmente desenvolvidos.
As operações da GVT apresentam um encaixe geográfico perfeito com as operações da Telesp e a complementaridade dos seus negócios não apenas permitirá que a Telesp tenha uma presença efetiva na Região II do PGO, como também propiciará a ampliação da concorrência no mercado de telecomunicações em âmbito nacional. A alta administração da GVT é um exemplo comprovado de capacidade de criação de uma empresa líder de telecomunicações no Brasil e a Telesp tem muito interesse em manter essas habilidades, experiência e motivação no grupo resultante.
Aguaremos as cenas dos próximos episódios.
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