A organização sem fins lucrativos Mães da Sé lançou um aplicativo para auxiliar na busca por pessoas desaparecidas no Brasil. A ferramenta é fruto de uma parceria entre a ONG, a Microsoft e a Mult-Connect, e faz uso de recursos de inteligência artificial do Microsoft IA for Humanitarian Action em conjunto com reconhecimento facial.
O aplicativo se chama Family Faces, e o usuário pode navegar de duas formas: informando características físicas da pessoa (cor de pele, olhos, cabelo, altura) em um campo dedicado a isso, ou tirando uma foto que será comparada ao banco de imagens cadastrado em uma plataforma armazenada na nuvem do Microsoft Azure. O Family Faces é gratuito está disponível para Android e iOS.
A plataforma utiliza um algoritmo de reconhecimento facial que apresenta imagens de pessoas desaparecidas com fisionomias semelhantes à da pessoa fotografada, para que então o usuário verifique se a pessoa que ele encontrou pode ser alguém declarado como desaparecido. Todas as imagens enviadas no app não são armazenadas na nuvem ou em servidores — elas são processadas para comparação com as demais fotos e logo depois descartadas para sempre.
Se o usuário acreditar que a pessoa que ele enviou à busca no aplicativo possa ser uma das pessoas desaparecidas, pode enviar um alerta à organização. O app pedirá uma forma de contato para que a Mães da Sé possa se comunicar com ele.
Ao receber o alerta, que é enviado junto com a geolocalização de onde o usuário o disparou, a ONG faz um processo de checagem. Se houver probabilidade de as informações serem corretas, a organização entra em contato com a família para compartilhar os detalhes, caso a pessoa esteja em São Paulo, onde fica sua sede.
Para desaparecidos de outros estados, a ONG acionará a Polícia Civil do local para continuar a investigação. Em casos de crianças e adolescentes, o procedimento é conduzido pelo Conselho Tutelar da região da denúncia.
A organização Mães da Sé foi fundada por Ivanise Esperidião, que atua há mais de 20 anos na causa após sua própria filha ter desaparecido. Em todos esses anos de trabalho, a ONG cadastrou mais de 10 mil pessoas em situação de desaparecimento e ajudou a encontrar 5.016 delas.
Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, só em 2018 foram registrados 82.094 casos de pessoas desaparecidas no Brasil. Considerando os números por Estado, São Paulo aparece no topo com 24.366 desaparecimentos, seguido por Rio Grande do Sul (9.090), Minas Gerais (8.594), Paraná (6.952) e Rio de Janeiro (4.619). Em termos relativos, considerando a taxa de desaparecimento por 100 mil habitantes, os maiores índices são do Distrito Federal (84,5), Rio Grande do Sul (80,2), Rondônia (75,2), Roraima (70,4) e Paraná (61,3).
Ainda segundo o levantamento, de 2007 a 2018, as estatísticas somam 858.871 casos. Considerando esse período, a média é de 71,5 mil registros de pessoas desaparecidas por ano.