O Google I/O 2017, grande conferência de desenvolvedores/festival de codificação a céu aberto da companhia se encerra nesta sexta-feira (19), em Mountain View. Milhares de desenvolvedores têm absorvido conhecimento enquanto o Google flerta com eles com Google Homes de graça, saladas veganas cruas e uma apresentação ao vivo do LCD Soundsystem.
Normalmente, o momento imperdível da conferência é a apresentação principal do primeiro dia, quando o Google anuncia grandes mudanças para o Android, o Daydream e outros softwares e serviços. Porém, nesse ano, a maior notícia sobre o Android foi anunciada quatro dias antes da conferência. Então falemos do Project Treble, o plano do Google para levar as atualizações do Android mais rápido para seus usuários.
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Para decifrar a publicação de blog do Google sobre o assunto parece ser necessária uma formação em Ciência da Computação, mas, resumindo, parece que o Google está mudando como o framework principal do Android funciona para que possa impulsionar grandes atualizações futuras, como a próxima versão do Android, o Android O, para telefones sem ter que esperar que as operadores e os fabricantes de dispositivos móveis o façam. Isso é potencialmente ótimo para os consumidores. A maioria de nós já se entendiou com as atualizações do Android exatamente porque nunca se sabe quando ou mesmo se os nossos smartphones receberão essas atualizações.
O Android atualmente está em dois bilhões de dispositivos ativos todo mês, mas, de acordo com seus próprios números, apenas 7,1% desses dispositivos têm o último sistema operacional do Android (Nougat) instalado. Mesmo telefones relativamente novos, como o Samsung Galaxy S7, demoraram para receber o Nougat, com a chegada acontecendo a sério nos Estados Unidos apenas no mês passado, sete meses depois do Nougat ser lançado. Isso significa que muitos S7s ainda não conseguem rodar aplicativos lado a lado, controlar notificações ou se aproveitar dos 72 emojis que o Nougat adicionou.
“Isso mudaria tudo”, contou-me o desenvolvedor móvel Brandon John-Freso, depois que ele e seus amigos procuraram no Google o projeto pouco alardeado. “Isso é enorme.” De fato, o Project Treble, e o que ele poderia significar, pode ser tão bom que é meio alarmante que ele não tenha sido mais discutido durante a apresentação principal do primeiro dia (o Google até nos contou que não tinha nenhum funcionário na convenção do I/O que tivesse sido instruído para falar sobre o projeto).
“Fiquei bastante surpreso”, disse Glenn Gruber, analista da Lopez Research presente na conferência, em entrevista ao Gizmodo. “Considerando o quão grande o Project Treble era, eu tinha certeza de que teríamos maiores notícias durante o I/O.” Só que, como notou Gruber, isso não aconteceu. Em vez disso, ganhamos o Fotos e um Google Assistant “mais inteligente”.
O que é maluco! O Project Treble tem o potencial de resolver uma das maiores reclamações de desenvolvedores e consumidores: a fragmentação. Em vez de fingir empolgação com muitas das atualizações simples em que o Google resolveu focar, nós, pessoas normais, poderíamos estar animadas com a nova versão do ecossistema do Android.
Considere que, de acordo com a Apple, 79% dos aplicativos do iOS estão em sua versão mais recente, o iOS 10. Desenvolvedores sabem que podem desfrutar das funções mais legais do iOS porque a maioria dos usuários vai ter acesso a elas. Como quando o Swiftkey e outros aplicativos de teclado de terceiros foram lançados juntos com o iOS 8, a versão que permitiu esse tipo de aplicativo. Fabricantes de apps de teclados conseguiram imediatamente se aproveitar da função do iOS 8 porque sabiam que tinha um público enorme garantido.
Hoje, isso simplesmente não seria possível com o Google. Porém, quando o Project Treble chegar com o Android O ainda nesse ano, será possível. O maior concorrente do iOS está fechando uma grande distância entre dois. Que pena que ninguém no Google I/O sabia disso.
Imagem do topo: Alex Cranz/Gizmodo