Ciência

Mais de 100 botos morrem na 2ª maior seca da Amazônia; saiba mais

Seca e aumento da temperatura das águas do Lago Tefé podem ser as causas; força tarefa busca compreender o cenário e evitar novas mortes
Imagem: Miguel Monteiro / Instituto Mamirauá/ Reprodução

Na última semana, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá registrou a morte de mais de 110 mamíferos aquáticos. Entre eles, estão representantes do boto vermelho e do tucuxi que viviam no Lago Tefé.

As duas espécies estão na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, de forma que estão em risco de extinção. Segundo dados da última contagem do Instituto Mamirauá, feita anos atrás, havia em torno de 800 e 900 botos e 500 tucuxis na região.

O Lago Tefé se encontra no município amazonense de mesmo nome, que fica a pouco mais de 500 quilômetros de distância da capital, Manaus. Dali, são apenas oito quilômetros até o rio Solimões. No entanto, a água do Tefé está em níveis tão baixos que é possível caminhar pelo leito do rio.

Segundo o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), esta é a segunda maior seca na região desde 2010. Em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia, a coordenadora do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Mamirauá, Miriam Marmontel, disse que a situação é muito crítica e inusitada.

“Nunca tínhamos visto algo semelhante, embora já tenhamos passado por várias secas grandes aqui grandes na Amazônia”, afirmou. 

Possíveis causas

Por enquanto, não se pode afirmar qual a causa. Ainda há necessidade de mais estudos para compreender melhor o cenário. 

No entanto, a seca é a principal causa suspeita para a morte dos mamíferos aquáticos. Com a estiagem, há o aumento de morte de peixes, o que acaba com o alimento dos botos, por exemplo. 

Além disso, o lago está cerca de 8ºC acima do comum. Até agora, a temperatura máxima registrada das águas do Tefé era de 32ºC. Nas novas medições, pesquisadores encontraram temperaturas entre 39ºC e 40ºC.

Isso pode causar hipertermia nos botos e outros animais. Mas também há a suspeita de que agentes infecciosos estão se proliferando no local. 

“No meu entendimento, acho que é algo exacerbado pela temperatura. Pode ter sido algum organismo ou alguma toxina presente na água que anteriormente não causava nada nos animais mas que pela concentração física e pelo aumento da temperatura acabou sendo potencializado e está causando esses problemas”, explicou Marmontel.

Em geral, a seca e o aumento da temperatura das águas amazônicas acontecem por influência do El Niño e também pelo aquecimento do Atlântico Norte. Embora a estação de chuvas na Amazônia comece em outubro, a tendência é que este período de estiagem se estenda por mais um mês.

Ações emergenciais

Além do Instituto Mamirauá, que é vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia e Informações (MCTI), o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e a Defesa Civil também estão realizando ações para resgatar os corpos de animais, descobrir as causas e evitar novas mortes.

No final de semana, pesquisadores começaram a retirar animais ainda vivos. A ideia é analisar a saúde dos botos para entender o que está acontecendo. 

Enquanto isso, eles também estão monitorando as águas do Lago Tefé, recolhendo amostras para análise de doenças e retirando as carcaças.

Assine a newsletter do Giz Brasil

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas