Micróbio terrestre pode sobreviver em Marte por milhões de anos
Conhecido como o micróbio mais resistente da Terra, a bactéria Deinococcus radiodurans poderia muito bem sobreviver em Marte. E por um bom tempo: até 280 milhões de anos.
A estimativa está em artigo da Uniformed Services University of the Health Sciences, a academia federal de cursos de saúde dos EUA, publicado na revista Astrobiology na última terça-feira (25).
A bactéria é um dos microrganismos mais resistentes do mundo. Ela sobrevive sob intensidades de radiação que matariam qualquer outra forma de vida conhecida.
Agora, experimentos mostram que a resistência extraordinária também se aplica à Marte, mais especificamente ao subsolo do planeta vermelho. Segundo os cientistas, a bactéria poderia sobreviver por 280 milhões de anos mesmo a 10 metros abaixo da superfície congelada.
No estudo, os cientistas testaram a resistência de cinco micróbios e fungos, todos da classe extremófilos – ou seja, que vivem em ambientes que pertenceram a outros organismos já mortos.
O objetivo era identificar quanto tempo eles poderiam viver nas latitudes médias de Marte. Para isso, o experimento colocou os microrganismos sob baixíssimas temperaturas (até 63ºC negativos), exposição à luz ultravioleta, raios gama e prótons de alta energia.
As condições imitam o cenário de Marte, que é bombardeado pela luz ultravioleta do Sol e radiação cósmica com frequência.
Como se mede a resistência
Depois da exposição, a equipe mediu a quantidade de antioxidantes de manganês acumulados nas células dos micróbios. O mineral se forma a partir da exposição à radiação. Quanto maior o volume, maior a resistência à radiação dos microrganismos.
No teste, a bactéria Deinococcus apresentou um resultado superior a qualquer outro. Segundo os pesquisadores, o micróbio pode absorver até 28 mil vezes mais radiação do que qualquer ser humano pode suportar. Esse dado permitiu que os cientistas estimassem o tempo que o ser vivo pode sobreviver em diferentes profundidades de Marte.
Experimentos anteriores apontaram que a bactéria poderia viver até 1,2 milhão de anos quando submetida à água líquida e radiação parecida com a encontrada no planeta vermelho.
Em outro teste, o micróbio foi enterrado a apenas 10 centímetros abaixo da superfície. Nesse caso, sua vida útil caiu para 1,5 milhão de anos.
Por que a bactéria é tão resistente à radiação?
Os cientistas descobriram que cromossomos e plasmídeos – genes que carregam informações genéticas – nas células da bactéria estão ligados. Isso mantém as estruturas alinhadas e impede que a radiação desfaça as células até que passem por reparos.
A durabilidade do micróbio abre caminho para que missões futuras em Marte cavem o solo em busca de vida microbiana. Uma expectativa é encontrar um primo extraterrestre da bactéria Deinococcus – caso exista.
Essas missões podem trazer essas vidas microscópicas de volta à Terra. Mas é preciso ter muita atenção ao contaminar a superfície terrestre com micróbios marcianos, e vice-versa.
“Nossos organismos servem como proxies tanto para a contaminação direta de Marte quanto para a contaminação reversa da Terras – e ambas devem ser evitadas”, disse Michael Daily, o autor principal do estudo, ao site Scientific American.