Na última quinta-feira, um avião da Malaysia Airlines caiu na Ucrânia, matando as 298 pessoas a bordo. O que causou a queda do voo MH17? Ainda não há provas conclusivas, mas há um suspeito principal: o sistema Buk de mísseis. Vamos dar uma olhada nele mais de perto.
O Buk é um sistema de defesa aérea que começou a ser desenvolvido em 1972 na União Soviética. Ele foi criado para interceptar mísseis de cruzeiro, bombas de precisão e aeronaves.
Há duas versões principais desse sistema: o Buk-M1 e o Buk-M2, chamados pela OTAN de “Gadfly SA-11” e “Grizzly SA-17”, respectivamente. Ambos conseguem disparar mísseis a até 22.000 m de altitude.
O sistema possui três componentes principais: um radar, um posto de comando, e um lançador de mísseis. Doug Richardson, editor da revista britânica Jane’s Missiles & Rockets, explica em mais detalhes:
um radar 9S18M1, usado para marcar potenciais alvos aéreos e para transmitir a sua posição e trajetória para:
– o veículo 9S470M1, que serve como posto de comando: ele contém um sistema de dados e de controle para os mísseis; e um computador digital para controle dos disparos, que atribui alvos a cada míssil e calcula a posição para impacto;
– um ou mais veículos 9A310M1S, cada um armado com quatro mísseis guiados por radar.
Uma vez acionado, o Buk leva 22 segundos para localizar o alvo e atingi-lo com um ou mais mísseis que voam a 4.300 km/h, ou 3,5 vezes a velocidade do som. O míssil de 650 kg tem um radar próprio para chegar até o alvo, e então detonar uma carga de 70 kg de explosivos.
A bomba fica em uma cápsula dupla de alumínio, e explode próximo ao alvo, a uma distância entre 30 m e 100 m. Assim, a cápsula se estilhaça em milhares de pedaços – do tamanho de moedas – e maximizam o impacto, atingindo a aeronave mesmo se ela estiver em alta velocidade.
Normalmente, utilizam-se três caminhões – um para o radar, outro para o posto de comando, e outro para o lançador de mísseis – como um sistema integrado. Mas Richardson explica que o lançador pode ser usado separadamente: ele possui um radar embutido, e pode ser programado para disparar contra alvos que estejam em seu campo de visão.
No entanto, sem o posto de comando, aumenta a chance de disparos acidentais. O lançador apenas emite um sinal que, se não for respondido, significa que a aeronave militar é inimiga – ou que o avião é civil.
Há também outros sistemas de mísseis na Ucrânia, como o MANPADS – sistema portátil que se carrega no ombro – e o russo Kub. No entanto, eles só conseguem atingir altitudes de até 4.000 m e 8.000 m, respectivamente. O avião da Malaysia Airlines estava a 10.000 m de altitude quando foi abatido.
Além disso, uma análise dos destroços do Boeing 777 mostra perfurações pequenas e uniformes na parte externa – é o tipo causado pelo míssil Buk, conforme esta análise do New York Times.
Se o culpado foi mesmo o sistema Buk, então quem o disparou? O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, diz que não foram as forças armadas do país.
Na verdade, dois aviões militares da Ucrânia foram derrubados na semana passada a grandes altitudes enquanto sobrevoavam o leste do país, atualmente dominado por separatistas. Na segunda-feira (14), foi um Antonov AN-26 a 6.400 m de altitude; na quarta-feira (16), foi um caça Sukhoi SU-25, que pode chegar a até 10.000 m de altitude.
Até o momento, há duas teorias principais:
– separatistas pró-Russia derrubaram o avião: veículos do sistema Buk foram fotografados em áreas controladas pelos rebeldes, inclusive na região em que caiu o avião da Malaysia Airlines. Há também um áudio, obtido pela espionagem da Ucrânia, que parece mostrar os separatistas dizendo aos russos que derrubaram um avião.
– russos derrubaram o avião: a Ucrânia acusa a Rússia de fornecer armamentos para os separatistas. Será que eles forneceram pessoal também? Doug Richardson lembra que operar o Buk não é tarefa fácil: ele requer uma equipe treinada, que no mínimo tenha aprendido a usá-lo enquanto serviam como recrutas.
De um jeito ou de outro, a tragédia aumentou as tensões entre Rússia e EUA/Europa. A administração Obama impôs novas sanções à economia russa porque o país estaria apoiando separatistas na Ucrânia – que só liberaram a caixa-preta do avião da Malásia há algumas horas. Ela será analisada por investigadores da Malásia e da Holanda – país que teve o maior número de vítimas – para entendermos melhor o que aconteceu.
[Vox – Exame – New York Times – Foxtrot Alpha]
Fotos por Yuriy Lapitskiy/Flickr, Vitaly V. Kuzmin e Foxtrot Alpha