Algumas semanas depois de uma equipe de cientistas começar a usar novas técnicas de varredura para analisar as maiores pirâmides do Egito, eles descobriram anomalias estranhas de temperatura – e ainda não conseguem explicar o que está causando isso.
No fim de outubro, o Ministério das Antiguidades do Egito lançou um projeto chamado Scan Pyramids, que vai usar tecnologias não-invasivas para entender melhor as maiores pirâmides do país. A primeira fase do projeto era uma simples varredura infravermelha nas estruturas para verificar quaisquer esquisitices térmicas que poderiam estar ocultas dentro delas.
Nesta semana, o ministério confirmou a abundância dessas esquisitices.
Em uma entrevista dada em frente à Grande Pirâmide de Gizé, uma equipe de cientistas da Universidade do Cairo, Universidade de Nagoya, Universidade Laval e do Instituto Francês de Preservação de Patrimônio anunciou o que eles descobriram durante a curta primeira etapa do projeto. Usando varredura infravermelha relativamente simples, eles gravaram a imagem da superfície da pirâmide em diferentes horas do dia, tanto durante as frias noites quanto nos dias quentes.
Essas varreduras mostraram uma coisa interessante: a primeira fileira de pedras em uma das faces da pirâmide tinha a mesma temperatura, exceto por três que eram significativamente mais quentes: até seis graus, em alguns casos. Em um comunicado, a equipe relata:
Entre as diversas anomalias térmicas identificadas, a equipe observou uma particularmente impressionante localizada no lado leste da Pirâmide Khufu no nível do solo; é interessante observar que enquanto algumas vezes diferenças de temperaturas de .1 a .5 graus são detectadas entre duas pedras adjacentes de calcário de diferentes qualidades, a equipe do #ScanPyramids detectou nessa zona uma área de alguns blocos tendo uma diferença de até 6 graus para os blocos vizinhos.
A equipe está trabalhando com algumas teorias para saber o que pode ter causado esses pontos quentes, com o Ministro das Antiguidades do Egito dizendo que os pontos quentes sugerem “espaços vazios, fissuras ou passagens” que podem nos levar a tumbas escondidas, segundo o The New York Times. No geral, áreas quentes ou frias indicam fluxo de ar, o que certamente pode significar uma passagem secreta.
A explicação menos dramática
Enquanto isso, ideias do que poderiam ser essas áreas mais quentes invadiram a internet (Algo está aquecendo as pirâmides antigas do Egito por dentro, diz o The New York Post). Mas também há explicações menos glamourosas para esses pontos quentes do que o Post está sugerindo.
Por Exemplo, Nevine El-Aref do Ahram Online, a versão em inglês do jornal egípcio Al-Ahram, falou com um especialista independente que sugeriu que a diferença de calor é devido a algo completamente diferente:
Um egiptólogo egípcio, que falou com o Ahram Online na condição de anonimato, disse que nada foi encontrado atrás dos blocos exceto por fraturas, considerando que essa é a “rocha matriz” do planalto.
Ele disse que quando os egípcios antigos construíram as pirâmides, eles inseriram os blocos e o revestimento das duas primeiras colunas das pirâmides na área da rocha matriz.
Um comentarista no post de El-Aref, que se identificou como o egiptólogo Frank Müller-Römmer, tem outra teoria:
Pedras para a criação da estrutura interna da pirâmide de Khufu foram usadas de diferentes pedreiras do planalto de Gizé. Nas declarações feitas durante a conferência para a imprensa no dia 9 de novembro detalhes de uma análise das pedras com temperatura mais alta em comparação com as pedras ao seu redor estão ausentes. As diferenças nas temperaturas também podem ser explicadas por diferenças de material.
A tal da “rocha matriz” mencionada pelo arqueólogo anônimo? Pense nela sendo o alicerce – o fundamento que serve como base para o resto da pirâmide. Está debaixo de uma imensa quantidade de pressão, e rachaduras e fissuras podem significar mais fluxo de ar e temperaturas diferentes.
Sem deixar rastros?
Essa não é a primeira vez que a rocha matriz das Grandes Pirâmides entra na conversa dos arqueólogos.
Em 1995, um engenheiro francês queria furar a rocha matriz para “conferir rachaduras que podem estar aumentando a umidade dentro do monumento,” possivelmente “dissolvendo as rochas de calcário e a argamassa de gesso que prende ele,” relatou o Christian Science Monitor naquele ano. Não está claro se ele foi bem sucedido, mas ele conseguiu perfurar outras partes da pirâmide.
De qualquer forma, o projeto enfureceu muitos arqueólogos que argumentavam que o trabalho causava mais danos do que poderia ajudar em reparos – e até acusaram esse trabalho de “conservação” de ser apenas uma desculpa para busca por passagens e câmaras secretas. O projeto ScanPyramids é, de certa forma, uma resposta a esses esforços invasivos.
No momento, não sabemos exatamente o que são esses pontos quentes. O próximo passo do projeto é investigar essas anomalias com outra tecnologia – como tomografia múon – e, se tivermos sorte, em breve estaremos dentro das pirâmides por conta própria, sem precisar de furadeiras. [Ahram Online]
Imagens: AP Photo/Nariman El-Mofty