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Molécula encontrada em peixe pode combater Alzheimer, mostra estudo do Butantan

Proteína do peixe merluza foi descoberta por pesquisadores em 2019 e agora é usado para desenvolver o tratamento contra o Alzheimer

Nova técnica pode ajudar no diagnóstico precoce de Alzheimer

Mal que acomete cerca de 30% da população acima dos 85 anos, o Alzheimer pode estar perto de receber um novo tratamento graças ao peixe merluza. O Instituto Butantan e a Universidade São Francisco (USF) modificaram em laboratório uma proteína que pode mudar a forma como a doença é tratada.

Conforme estudo publicado na Frontiers in Pharmacology, a molécula modificada a partir do peixe inibiu a principal enzima que causa a doença, a BACE-1.

Um dos diferenciais das cadeias de aminoácidos testadas é que elas foram capaz de chegar ao cérebro de modelos animais. Nos testes in vitro com neurônios afetados pelo Alzheimer, a substância bloqueou a atividade da enzima BACE-1.

“Com isso, o peptídeo reduziu a quantidade de beta-amiloides, proteínas tóxicas responsáveis pela doença. Mostrando-se um bom candidato para tratamento”, afirmou em um comunicado a bióloga Juliana Mozer Sciani, do Instituto Butantan e pesquisadora da Universidade São Francisco.

Juliana, que trabalha com substâncias de animais marinhos há mais de 10 anos, coordenou o trabalho. Ela foi responsável por fazer diversas modificações na sequência do peptídeo e simulações, utilizando ferramentas de bioinformática.

A proteína original do peixe foi descoberta por pesquisadores da Ásia em 2019 e sua sequência foi disponibilizada em banco de dados.

Principais benefícios no tratamento contra o Alzheimer

O novo peptídeo desenvolvido demonstrou alta estabilidade e possibilidade de chegar ao alvo. Também se mostrou seguro e sem toxicidade, de acordo com ensaios em animais saudáveis feitos no Butantan pelos pesquisadores Bianca Cestari Zychar e Luís Roberto Gonçalves.

Nos modelos animais, duas horas após sua administração, o composto chegou ao cérebro. Ele passou pelo pulmão, pâncreas, baço e fígado (onde foi metabolizado), mas não se acumulou em nenhum órgão.

O peixe merluza. Imagem: Wikimedia/Reprodução

Depois de seis horas, se concentrou no rim para ser eliminado pela urina. Todos os órgãos ficaram intactos e sem sinal de inflamação ou danos nas células.

“Esse estudo, chamado de farmacocinética, mostra como a substância se desloca no organismo. Por que tomamos alguns remédios de 6 em 6 horas, e outros de 12 em 12, por exemplo? Porque foi feita uma análise de como o fármaco se distribui no corpo, para saber quanto tempo leva para ter a ação e quanto tempo ele demora para sair”, explica Bianca.

Próximos passos

Conhecendo o comportamento do peptídeo em um organismo vivo e sua ação nos neurônios, os cientistas agora irão testá-lo como um tratamento em modelos animais com a doença de Alzheimer para avaliar a sua eficácia.

Ainda há um longo caminho até que o composto possa ser testado em pacientes e transformado em um produto, mas o peptídeo possui uma série de vantagens em relação a outros semelhantes já descritos. Além de ser estável e conseguir agir durante horas, ele é um inibidor reversível.

“Isso significa que ele ‘liga e desliga’ a enzima, enquanto outros a bloqueiam completamente. A inibição total pode causar efeitos adversos, já que essa enzima também tem um papel fisiológico na neuromodulação”, destaca Juliana.

Hoje, existem dois grupos de medicamentos aprovados para tratar o Alzheimer, que ajudam a aumentar a expectativa de vida e amenizar sintomas, mas não curam. Eles provocam uma série de efeitos adversos, como náuseas, diarreia, alergia, perda de apetite, dor de cabeça, confusão, tontura e quedas, segundo o Instituto Nacional do Envelhecimento (NIA) dos Estados Unidos.

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