Uma nova arma contra o mosquito da dengue está sendo testada no Brasil: trata-se de uma modificação genética em mosquitos Aedes aegypti, que impede o crescimento de novos insetos transmissores da dengue. Mais de 6 milhões de mosquitos modificados foram soltos esta semana em Piracicaba (SP), e testes efetuados em outras cidades comprovam que a população do mosquito diminuirá dentro de alguns meses.
O controle funciona da seguinte forma: o mosquito geneticamente modificado — popularmente conhecido como ‘Aedes aegypti amigável’ — é sempre macho. Quando uma fêmea da espécie, a responsável pela transmissão de doenças, cruza com um dos mosquitos mutantes, os genes do macho impedem que as larvas geradas pelo cruzamento se desenvolvam até a fase adulta, impedindo o crescimento da população mosquito, resultando em menos pessoas picadas e em menos doentes.
A modificação genética também “pinta” as larvas do mosquito: a versão mutante da larva do inseto fica vermelha quando exposta a luzes ultravioleta, tornando fácil saber se a modificação está dando resultados.
O inseto modificado foi criado pela Oxitec, uma empresa britânica de controle de insetos e doenças, e são produzidos em massa numa fábrica em Campinas (SP). A firma tem autorização para liberar os mosquitos mutantes em qualquer lugar do Brasil, e busca autorização para liberá-los na Flórida, nos EUA, como uma medida de prevenção da doença.
Mais de seis milhões dos mosquitos mutantes foram liberados em Piracicaba desde abril, mas ela não foi a primeira: a cidade de Juazeiro (BA) testou os mosquitos mutantes por seis meses e teve um resultado impressionante: a população dos insetos foi reduzida em mais de 90%, o que, de acordo com estatísticas matemáticas, não poderia mais causar epidemias da doença.
“Em teoria, se você tem menos mosquitos, você tem menos transmissão, mas, na realidade, isso é algo que ainda precisamos investigar”, diz Margareth Capurro, pesquisadora da USP responsável em lançar o projeto em Juazeiro, à New Scientist. “É possível ter muitos mosquitos e poucos infectados ou poucos mosquitos todos infectados – você suprime a população, mas não afeta a transmissão da dengue”.
A estratégia já foi usada nas Ilhas Cayman, em 2010 — na época, três milhões de mosquitos modificados foram soltos no país e, em seis meses, 80% da população de Aedes aegypti foi erradicada. A mesma técnica também foi utilizada na Malásia em 2011.
É um resultado impressionante e mais do que bem-vindo ao território brasileiro: de acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, até 13 de junho, mais de 1.125.955 prováveis casos de dengue e febre de chikungunya ocorreram no Brasil, com 434 destes resultando em morte (42% a mais que o mesmo período no ano anterior).
Mas mesmo que impressionante, a boa notícia pode uma solução meramente temporária, já que os resultados podem se reverter — mosquitos fogem e se multiplicam em locais distantes de onde venenos para conter as epidemias são espalhados, então é necessário planejamento de onde e quando liberar os mosquitos mutantes para conter a evolução dessa população.
Além disso, o grupo GeneWatch diz que a próxima geração de mosquitos mutantes podem sobreviver, causando epidemias ainda mais graves de doenças. [New Scientist via Engadget; Oxitec]
Foto de capa: Ian Jacobs/Flickr