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“Mudança climática subterrânea” está deformando o solo debaixo de prédios, diz estudo

Estudo feito Chicago, nos EUA, mostrou que a variação térmica sob áreas urbanas pode ser um problema para a estrutura de edifícios

Paisagem urbana em Chicago. Imagem: PxHere/Reprodução

Já ouviu falar em “mudança climática subterrânea”? Pois bem, esse fenômeno está deformando o solo das cidades — e, a longo prazo, pode ameaçar a estrutura de prédios. É o que mostra um estudo feito nos Estados Unidos pela Universidade Northwestern em Evanston.

Publicado na revista científica Communications Engineering, o artigo foi resultado de um trabalho de três anos, conduzido na cidade de Chicago (EUA). A equipe de cientistas instalou 150 sensores de temperatura pela cidade, acima e abaixo do solo, em vários pontos diferentes — como porões, túneis e garagens.

A equipe também colocou sensores no parque Grant, ao longo do Lago Michigan, para comparar as temperaturas de uma área fora do eixo urbano tradicional, sem influência do calor proveniente da construção civil ou meios de transporte.

Os dados analisaram o trecho por três anos, e apontam que o solo abaixo de Chicago estava até 10°C mais quente do que o solo sob a área verde.

“Encontramos estruturas subterrâneas, como porões, onde a temperatura do ar era muito alta. E a consequência disso é que pelo menos uma parte do calor se difundirá para o solo ao longo do tempo”, diz Alessandro Rotta Loria, professor de engenharia civil e ambiental na Universidade Northwestern que liderou o estudo, em entrevista à CNN.

O pesquisador e seu grupo usaram as informações para construir um modelo computacional dessa região de Chicago, e simular o efeito do aumento das temperaturas no solo, desde a década de 1950 até 2050. Eles descobriram que, dependendo da composição, o solo reage de maneira desigual ao aquecimento. E pode expandir e contrair em níveis preocupantes, afetando os prédios.

O efeito disso não é imediato, é verdade. Mas, a longo prazo, pode causar danos. “É importante enfatizar que a mudança climática subterrânea não ameaça a segurança das pessoas e não ameaça derrubar estruturas e edifícios”, destacou Loria.

“Isso representa um desafio potencial para a durabilidade das estruturas, porque deformações excessivas do solo podem levar a distorções, inclinações e potencialmente rachaduras”, completa. Como resultado, a água pode fluir mais facilmente em estruturas rachadas, causando corrosão em materiais como o concreto armado. Fundações de edifícios, muros de contenção de água e túneis, assim, podem acabar ameaçados.

Segundo o pesquisador, quanto mais densa a cidade, mais intensa é a mudança climática subterrânea. Edifícios mais antigos são mais propensos a problemas, já que não possuem  isolamento térmico e, por isso, costumam injetar mais calor no solo.

Como acontece o fenômeno?

Solo, rochas e materiais de construção se deformam quando submetidos a variações de temperatura. As “ilhas de calor subterrâneas” são resultado do calor liberado por edifícios e transporte subterrâneo, como redes de metrô.

Contudo, o termo “mudança climática subterrânea” não foi cunhado para o estudo em questão. Mas diversos pesquisadores têm usado essa definição, e o fenômeno é objeto de pesquisa há cerca de 25 anos.

Sabe-se que movimentos térmicos abaixo do solo podem causar problemas como a contaminação das águas subterrâneas ou problemas com as ferrovias subterrâneas, tornando os trilhos propensos a deformações, ou até causando doenças aos passageiros devido ao calor excessivo. No entanto, seus efeitos na infraestrutura civil ainda não haviam sido tão explorados, o que mostra a importância do estudo em Chicago.

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