Ciência

Mudanças climáticas podem reduzir distribuição de metade das espécies silvestres de mandioca no Nordeste até 2100

Extinção das espécies silvestres de mandioca pode afetar a diversidade genética que garante segurança da produção da mandioca cultivada
Foto: Antônio Carlos Pereira Góes / Embrapa

Texto: Agência Bori

Highlights

  • Estudo da UFRPE e instituições parceiras projetou efeitos de mudanças em seis variáveis ambientais, como chuva e temperatura, na distribuição de espécies de mandioca exclusivas do Nordeste
  • Redução projetada pode levar algumas espécies à extinção, e a perda de diversidade genética pode afetar a produção da mandioca cultivada
  • A expansão de áreas de conservação e a criação de políticas públicas para proteção podem ajudar a diminuir impactos para a biodiversidade, economia e alimentação

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Até 2100, as áreas de ocorrência de cerca de metade das espécies nativas de mandioca do Nordeste brasileiro podem ser reduzidas por conta das mudanças climáticas. É o que indica um artigo publicado nesta sexta (4) na revista “Anais da Academia Brasileira de Ciências”. O estudo, conduzido por pesquisadores das universidades federais Rural de Pernambuco (UFRPE) e do Recôncavo da Bahia (UFRB), além da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), destaca a urgência de medidas para a conservação da biodiversidade diante dos efeitos das mudanças climáticas.

Os cientistas reuniram dados sobre onze espécies de mandioca nativas do Nordeste a partir de registros de ocorrência, bancos de dados e herbários. As informações foram utilizadas em simulações de diferentes cenários com base em seis variáveis climáticas – como precipitação anual, chuvas nos meses mais secos e úmidos e temperatura média diária e anual. A equipe combinou esses elementos para prever o tamanho e a localização das áreas onde as espécies poderão viver no futuro, considerando as necessidades das plantas, e comparou com a realidade atual.

A pesquisa revela que, em um cenário otimista, cinco das espécies analisadas podem experimentar uma redução em sua faixa potencial de distribuição até 2100. Em um cenário pessimista, com condições mais severas, essa redução pode atingir até seis espécies, 54% da amostra. Nos dois cenários, quatro dessas espécies podem experimentar redução total de suas áreas de ocorrência.

“Isso acontece porque as condições ambientais que elas precisam para se desenvolver podem mudar, tornando algumas regiões menos adequadas”, explica Karen Yuliana Suarez-Contento, autora do estudo. A pesquisadora da UFRPE destaca que a redução pode não afetar somente as espécies de mandioca, pois a perda de plantas que servem de base para a vida selvagem desestabiliza os ecossistemas locais.

Segundo Suarez-Contento, a redução projetada pode, no futuro, levar à extinção de algumas das espécies silvestres de mandioca, além de afetar a produção de uma das principais fontes de carboidratos na alimentação brasileira: a mandioca cultivada. Ela é a matéria-prima de produtos como o polvilho, a tapioca e o tucupi. “As espécies silvestres abrigam uma diversidade genética crucial para o futuro da mandioca cultivada, fornecendo características importantes, como resistência a doenças e adaptações a diferentes condições ambientais”, ressalta.

A autora enfatiza que as mudanças climáticas podem ter um papel decisivo na distribuição de outros gêneros alimentícios. “Muitas outras culturas agrícolas dependem da diversidade genética de suas espécies silvestres para se adaptar a mudanças climáticas, novas pragas e doenças”, diz Suarez-Contento. É o caso do milho, arroz e feijão, que têm parentes silvestres e podem enfrentar desafios semelhantes ao da mandioca, segundo a especialista. Ela destaca a importância de conservar essas espécies e seus habitats para garantir a continuidade da produção desses alimentos.

Para a pesquisadora, estratégias como a criação e a expansão de áreas protegidas, o estabelecimento de corredores ecológicos e a restauração de áreas degradadas são um passo importante para melhorar o cenário previsto para 2100. “A educação ambiental e o incentivo para práticas agrícolas sustentáveis também podem engajar as comunidades locais e promover a proteção dos habitats”, acrescenta.

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