Algo importante mudou no projeto de smartphone modular do Google
Durante a conferência I/O na semana passada, o Google demonstrou a geração mais recente do Project Ara, um smartphone modular que vem sendo preparado – e adiado – há anos. Antes, ele era descrito como “o último smartphone que você precisará comprar“. Agora, não é bem assim.
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O Project Ara não deixará que você troque o processador, nem a RAM, nem o armazenamento, nem a tela – tudo isso fará parte da estrutura básica do smartphone. Agora, o foco está em outros componentes, como a câmera, a bateria e os alto-falantes.
O espanhol Rafa Camargo, engenheiro-chefe do Project Ara, explica porque a visão do smartphone modular mudou: basicamente, os usuários em geral não se preocupam tanto – ou não querem se preocupar – com o processador. Eles só querem um aparelho com boas especificações que faça o básico e possa ser expandido.
“Quando fizemos os nossos estudos de usuário, descobrimos que a maioria dos usuários não se preocupa com a modularização das funções essenciais. Eles esperam que tudo esteja lá, que tudo funcione sempre, e que seja consistente. Nosso protótipo inicial modularizava tudo… apenas para a gente descobrir que os usuários não se importam”, diz Camargo à CNET.
Mudanças
Em 2014, trocar o processador e a RAM era um dos principais objetivos do Project Ara. Na época, o Tested explicou como isso funcionaria:
O cérebro do Project Ara – o processador e a memória – vivem em um módulo primário que ocupa um espaço de 2×2. (No protótipo, esse módulo tinha um sistema-em-um-chip TI OMAP 4460.) Será possível adicionar armazenamento com módulos separados, mas você não será capaz de dividir o módulo do processador – CPU, memória, slot para cartão SD e outros componentes operacionais de hardware caminham lado a lado.
No final de 2014, o Google trabalhava para modularizar processadores Nvidia Tegra K1, Marvell PXA1928 e um da Rockchip – este último prometia estar pronto no início de 2015.
Desde então, o comando do Project Ara mudou. Ele era tocado por Paul Eremenko, que deixou o Google no ano passado para a divisão de inovação da Airbus. E Regina Dugan, então chefe do laboratório de pesquisas avançadas Google ATAP – onde surgiu o Ara – foi para o Facebook.
O projeto sofreu diversos atrasos. A ideia inicial era lançá-lo no início de 2015 custando a partir de US$ 50, o que não aconteceu. Ele então seria testado em um projeto piloto em Porto Rico, o que foi cancelado devido à crise econômica na região. Depois, ele foi adiado para 2016, porque as peças do smartphone estavam se soltando muito fácil.
Agora, o Google promete enviar as primeiras unidades de teste para desenvolvedores durante o quarto trimestre. Para os consumidores finais, o lançamento está previsto para 2017.
Detalhes
O Ara Developer Edition será um dispositivo high-end com tela de 5,3 polegadas. Na parte traseira, ficam os módulos, como a câmera, a bateria e o alto-falante.
São seis conectores para módulos, e cada um consegue transferir dados a até 11,9 gigabits por segundo nas duas direções. É mais rápido que o USB 3, consumindo apenas um terço da energia. Os conectores Greybus são proprietários, porém baseados em um padrão aberto chamado UniPro.
O Google tem algumas ideias para módulos, como “lanternas, botões de pânico, monitores fitness, projetores, botões para abrir um app e kickstands”, segundo a Wired. Camargo vem testando o protótipo de uma chave eletrônica para o carro embutida no smartphone; e a BACtrack, empresa especializada em bafômetros, também está explorando uma ideia semelhante.
Há outras ideias mais questionáveis, como uma caixinha para guardar remédio e até blocos que apenas estão lá para serem bonitos. Mas Camargo diz que o Project Ara pode, no futuro, se tornar tão modular quanto um PC: eles sabem como trocar processadores e rádios, “então as coisas vão evoluir”.