Um dispositivo intrauterino (DIU) deixado em uma mulher por mais de 20 anos pode ter contribuído para uma infecção desagradável que a levou ao pronto-socorro, relataram médicos no Japão esta semana. O dispositivo anticoncepcional foi encontrado cercado por bactérias que causaram febre e dores abdominais durante meses. Depois que a mulher teve o DIU removido, ela foi medicada com antibióticos e os sintomas desapareceram.
DIUs são dispositivos em forma de T que são inseridos no útero e usados como controle de natalidade de longo prazo. Isso geralmente acontece por meio da liberação de hormônios do dispositivo ou do cobre ou de outros materiais com os quais alguns produtos são feitos (o cobre torna o útero inóspito aos espermatozoides).
Os DIUs são altamente eficientes sendo 99% eficazes na prevenção da gravidez, mas como todo método há desvantagens. O processo de inserção inicial pode ser muito doloroso e algumas pessoas podem apresentar sintomas como aumento de sangramento e/ou cólicas. Os dispositivos também eram provavelmente menos seguros quando foram lançados na década de 1970 do que são agora.
Uma outra limitação, dependendo de como você olha para isso, é que eles não foram feitos para durar para sempre. Marcas diferentes têm datas de validade diferentes, mas todos os DIUs devem ser substituídos ou removidos após alguns anos. Para um DIU de cobre, aquele com o tempo de substituição mais longo, os usuários ainda são aconselhados a retirá-lo entre 10 a 12 anos. Infelizmente, a mulher neste estudo de caso, publicado no New England Journal of Medicine na quarta-feira (02), não o fez.
De acordo com o relatório, a mulher de 54 anos foi ao pronto-socorro depois de algum tempo apresentando sintomas. Há dois meses vinha tendo febre e perdendo peso, além de dores abdominais e dificuldade para caminhar há três semanas. No exame, os médicos notaram uma massa sensível em seu abdômen esquerdo inferior, enquanto os exames de sangue revelaram uma contagem elevada de leucócitos, um sinal comum de infecção. Quando a mulher passou por uma tomografia computadorizada da área afetada, os médicos localizaram o DIU, junto com vários abscessos (bolsas cheias de pus de tecido morto, glóbulos brancos e germes que são um sinal de infecção) em toda a pelve se estendendo até a articulação do quadril esquerdo. Os médicos realizaram uma operação para drenar os abscessos e lavar o fluido de seu quadril para limpar fisicamente o máximo de infecção possível.
O longo dispositivo embutido foi revestido com grânulos “cor de enxofre” distintos, frequentemente associados a um grupo de bactérias em forma de bastonete conhecidas como actinomices (os grânulos são massas semelhantes a bolas de bactérias agrupadas com pus). E com certeza, quando eles testaram amostras de fluido da mulher, foram capazes de isolar a bactéria Actinomyces israelii. Esse tipo de infecção é conhecido como actinomicose.
Embora A. israelii seja um passageiro comum e geralmente inofensivo na vagina, no cólon e na boca, às vezes pode causar infecções oportunistas. A autora do estudo, Noriko Arakaki, disse ao Gizmodo US em um e-mail que o DIU provavelmente desempenhou um papel na provação da mulher, visto que essas infecções foram associadas a DIUs deixados dentro por muito tempo (sem mencionar que o dispositivo estava coberto pela bactéria). Nesse caso, o DIU da mulher era de plástico não hormonal que deveria ser trocado depois de cinco anos, no máximo, enquanto check-ups anuais também são recomendados. Embora os autores não tenham perguntado por que a mulher optou por não substituí-lo como esperado, Arakaki observou que ela não gostava de hospitais.
“A actinomicose pélvica ocorre em mais de 85% dos casos em que o DIU foi usado por mais de 3 anos e é mais comum em usuários de DIU de plástico do que de cobre”, disse Arakaki. “Consideramos que o uso de DIU a longo prazo é um fator importante neste caso.”
A mulher foi tratada com o uso de antibióticos intravenoso, seguido por antibióticos orais. Embora ela ainda esteja tomando os antibióticos orais, ela está com “boa saúde geral, sem recorrência de abscessos e sem complicações graves”, disse Arakaki.
Os autores esperam que seu estudo lembre outros médicos de considerar a possibilidade de actinomicose em casos semelhantes em que são encontrados abscessos pélvicos, e de examinar o histórico de DIU de seus pacientes também. “Em segundo lugar, é importante que o paciente entenda que o DIU deve ser usado de maneira adequada, que consultas regulares são necessárias e que deve ser substituído no momento adequado”, acrescentou.