Ah, o N900… Quando foi mostrado, em agosto do ano passado, ele deixou geeks pelo mundo babando. Um computador na sua mão, navegador completo, tudo aberto, megamultitarefa! Mas o tempo passou, os concorrentes foram mostrando coisas cada vez mais impressionantes e o diabo nunca era lançado aqui. Ontem, em jantar para a imprensa, a Nokia anunciou mais uma vez a chegada do último tablet com Maemo, um ano depois, ao nosso País – ainda importado, por R$ 2.000. A demora, a maneira com que foi lançado, diz um bocado sobre o estado da empresa hoje.
O Nokia N900, para quem não conhece, é um aparelho com hardware bastante decente: teclado físico bom, câmera de 5MP bastante razoável, processador de 600 Mhz, 32 GB de memória, tela touchscreen (resistiva), 3G, Wi-Fi, GPS, etc etc. Apesar de ser mais pesadinho e grosso, ele se parece com outros smartphones do mercado, como o Milestone.
O problema é que, uma vez que você liga, ele se mostra um animal diferente. Ele não é um smartphone, é um tablet, um computador de bolso, para o bem e para o mal.
A rápida demonstração do aparelho (que cansamos de ver em vídeos, vídeos e mais vídeos) foi um pouco embaraçosa até, justamente porque o apresentaram como um celular: mostraram que as conversas em SMS são agrupadas como em chat (como no iPhone, em 2007), que no campo de contatos há links para outras redes sociais (como em qualquer Android); que há multitarefa e ela é muito legal, e que há uma loja de aplicativos, a Ovi Store, que é uma maravilha para desenvolvedores e consumidores (não é).
Aí, na parte de perguntas e respostas, veio a inevitável: "quem vocês imaginam que vai comprar o N900 hoje?" A resposta: "O cara que quer ter controle total do seu aparelho, que quer desenvolver, quer explorar todas as funcionalidades, que vai mostrar para as outras pessoas as possibilidades". Em resumo, o fã da Nokia, o megageek. Não é alguém que quer algo prático, rápido, fácil. Parece ser o cara que está no fórum dos desenvolvedores do QT, que gosta de Linux, o curioso pelo sistema, que quer virar o computador do avesso e colocá-lo no bolso. Talvez alguém meio perturbado, assim:
Eu tenho a impressão que todos esses caras ou já compraram o N900 (no Mercadolivre, por R$ 1.200 a R$ 1.500) ou perderam o interesse pela plataforma Maemo. Assim como as operadoras, já que nenhuma se prontificou a lançar. Nem a fábrica da Nokia no Brasil parece interessada, já que ele será importado – o sistema roda em um meio embaraçoso português de Portugal – o que aponta para uma projeção de demanda relativamente baixa.
Eu não tenho a mínima vontade de ter um N900. Acho que há soluções que fazem mais coisas que me interessem, mais rápido, de maneira mais integrada com tudo. É verdade que, com um navegador que roda até o Google Wave (que eu bizarramente uso todo dia), ele é um micronetbook. Dá (no campo das idéias) para trabalhar nele. Mas acho que trabalhar em um celular, fora responder e-mails e ver um documento, é uma perda de tempo: você faz tudo mais rápido em um notebook ou desktop.
Mas vai, fazendo força, eu consigo ver as pessoas que a Nokia está mirando com esse lançamento: os que querem entender melhor de computação, instalar ROMs estranhas, fazer coisas que não imaginávamos ser possível, mesmo gastando horas em um tutorial encontrando em fóruns ou perdendo semanas programando, apenas pelo hobby. Essas pessoas são importantes para a indústria, para o desenvolvimento dos aparelhos e aplicativos, mas elas não são o consumidor final, as pessoas que darão dinheiro para a Nokia avançar no mercado de smartphones. É bizarro ver uma empresa orgulhando-se de lançar um celular que notadamente não foi feito para o grande público.
Quando lançaram o N97 no Brasil, a grande pergunta era quando o N900 chegaria. Ontem, perguntavam quando virá o N8 (resposta: "no segundo semestre"). Mesmo os fãs da marca, hoje, não estão satisfeitos com o que a marca traz para o mercado – muito pouco, muito atrasado. Cada vez que encontro com executivos da marca, pergunto "o que vem por aí" com alguma esperança que eu seja maravilhado de novo como quando comprei um E71, ou quando vi o N95 do meu pai. Mas isso parece cada vez mais distante.