Na vida real, equipe de Oppenheimer temia destruir mundo com 1ª bomba atômica
As preocupações de que a primeira bomba atômica tinha chance de destruir o mundo poderiam ter sido inventadas para tornar a trama de “Oppenheimer” mais envolvente. Mas alguns dos cientistas que construíram uma das armas mais poderosas da história estavam, de fato, preocupados com essa possibilidade.
O novo filme de Christopher Nolan chegou aos cinemas nesta quinta-feira (20), junto com o tão aguardado “Barbie” de Greta Gerwig. Estrelada por Cillian Murphy (“Peaky Blinders”), a produção tem como foco a história do “pai da bomba atômica”. O Giz Brasil já contou por aqui suas impressões.
O filme três horas de duração, e é bem fiel à realidade. No longa, o major-general Leslie Groves (Matt Damon) pergunta a J. Robert Oppenheimer, líder do Projeto Manhattan: “Estamos dizendo que há uma chance de que, quando apertamos aquele botão, destruiremos o mundo?”.
A chance, garante Oppenheimer, é “próxima de zero”. Groves não fica totalmente satisfeito e indaga: “Perto de zero?”. Frustrado, Oppenheimer pergunta qual resposta ele queria ouvir. Então, o major afirma: “Zero seria bom!”.
Como destacou esta reportagem do Vox, a verdade é que não tinha como isso acontecer, mas existia uma grande preocupação por parte dos cientistas, já que ainda havia pouco conhecimento sobre reações nucleares.
A tensão durante o desenvolvimento da bomba atômica
Em 1942, Edward Teller, o pesquisador que mais tarde inventou a bomba de hidrogênio, fez uma apresentação na qual observou que uma explosão atômica criaria temperaturas mais altas que o calor do Sol.
Ele mostrou que isso poderia criar as condições sob as quais as reações de fusão poderiam ocorrer. Na época, esses fenômenos ainda estavam sendo estudados. Basicamente, ele defendia que havia uma chance remota de que eles pudessem literalmente incendiar a atmosfera, matando tudo e todos que dependem dela.
A revelação gerou polêmica. Alguns físicos rejeitaram enfaticamente essa possibilidade. Mas outros renomados estudiosos não estavam tão convencidos de que isso poderia ser descartado.
Mas nada disso impediu o Projeto Manhattan, programa de pesquisa que conduziu a fabricação das primeiras bombas atômicas no período da Segunda Guerra Mundial. Os responsáveis encomendaram um relatório secreto, que apontava que era “improvável” que a tragédia acontecesse.
O mundo poderia mesmo ter sido destruído?
Agora, sabemos o suficiente sobre reações de fusão para entender que as bombas nucleares não podem inflamar a atmosfera. Mas é desconcertante pensar que a equipe do Projeto Manhattan decidiu seguir adiante com a construção da bomba atômica, sabendo dos receios que dividiam a comunidade científica.
É provável que boa parte da população fosse contra o experimento de Oppenheimer, caso soubessem das preocupações e potenciais perigos envolvidos. O que explica o fato de os especialistas terem assumido esse risco, então?
Boa parte da resposta está na competição geopolítica que os cientistas do Projeto Manhattan acreditavam ter com os nazistas. A terrível lógica de construir a bomba era que, se Hitler a construísse primeiro, ele poderia manter o mundo inteiro como refém e espalhar sua ideologia destrutiva. Por isso, a única coisa que importava era chegar lá primeiro.
Apesar dessa convicção, o fato é que os nazistas nunca estiveram perto de construir uma bomba atômica. Em julho de 1945, época do fatídico teste Trinity, liderado por Oppenheimer, a Alemanha nazista já havia se rendido.