Cultura

“Napoleão”: mostrada em filme, invasão ao Egito rende estudos e apropriação cultural

Filme estrelado por Joaquin Phoenix aborda ação no país africano em 1798
Imagem: Sony Pictures Brasil/Reprodução

O antigo imperador francês Napoleão Bonaparte tinha ambição, e provou isso com tirania ao invadir territórios, como mostra “Napoleão”, filme estrelado por Joaquin Phoenix. Assim como na tela, uma das invasões foi ao Egito, em 1798, para impedir rotas comerciais inglesas com a Índia.

Mas para além da disputa com os britânicos e dos bombardeios mostrados no longa-metragem, o imperador também usou a apropriação de cultura e conhecimento egípcio na guerra. Nas cenas do filme de Ridley Scott, o militar chega a colocar seu famoso chapéu em uma múmia, além de atirar em direção às pirâmides.

Assista abaixo:

Napoleão levou consigo ao Egito cientistas para estudarem o país e documentarem descobertas. De acordo com o The New York Times, cerca de 150 cientistas, artistas e engenheiros “escolhidos a dedo” acompanharam os mais de 50 mil soldados na invasão.

Porém, em 1799, Napoleão voltou em segredo para a Europa e deixou um bilhete de aviso a Jean Baptiste Kléber, o segundo no comando da invasão. No filme, Napoleão deserda das tropas ao descobrir uma traição de Josephine (Vanessa Kirby no filme) e volta para a França, enquanto os “sábios” ficam no Egito.

Criação do Institut d’Égypte e pesquisas de campo

Sob ordens de Napoleão, os cientistas tiveram trabalho de campo e receberam um palácio em Cairo, onde fundaram o Institut d’Égypte. Foi nesse período que o químico Claude-Louis Bertholle constatou ao ocidente como as reações químicas podem ser reversíveis, ao analisar a mumificação com o natrão feita pelos egípcios, conforme o Business Insider. Ou seja, tomou o conhecimento já praticado pela sociedade egípcia

Já o artista Jules-César Savigny desenvolveu uma forma para catalogar todos os 1.500 insetos que coletou no Egito. Além disso, os estudos sobre a recém-descoberta tracoma, doença que atinge os olhos, possibilitou o surgimento de algumas bases da oftalmologia na medicina.

Segundo o NYT, o naturalista Étienne Geoffroy Saint-Hilaire também fez imagens precisas de tartarugas e morcegos. E, por fim, a tradução de hieróglifo se tornou possível com Jean-François Champollion, bem como a descoberta da Pedra de Roseta, com os inscritos que ajudaram a decodificar o sistema de escrita egípcio. Em 1801, os “sábios” franceses foram capturados pelos britânicos e ameaçaram destruir toda a pesquisa feita.

Apropriação cultural do Egito

O que vai ter no novo Grande Museu do Egito, previsto para abrir em 2023

Estátua de Ramsés 2º na entrada do Grande Museu do Egito tem 11 metros de altura e pesa 83 toneladas. Imagem: Heneghan Peng Architects/Divulgação

As pesquisas resultaram na enciclopédia “Description de l’Égypte”, com 23 volumes e publicada quase 30 anos depois do começo a invasão do Egito. Na época, Napoleão já estava morto há 10 anos.

Conforme o The New York Times, o crítico Edward Said afirmou no livro “Orientalismo: O Oriente como Invenção do Ocidente”, de 1978, que a enciclopédia dos sábios franceses era uma “grande apropriação coletiva de uma cultura por outra”. A Pedra de Rosita, por exemplo, segue no Museu Britânico, apesar das reivindicações do Egito, seu país de origem.

Pedro Ezequiel

Pedro Ezequiel

Pedro Ezequiel é jornalista pela ECA - USP. Passou pela Rádio USP, Jornal da USP, UOL e DOC Films. Não dispensa café e podcast. É fã de "Moleque Atrevido" do Jorge Aragão.

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