Há quanto tempo você ouve conselhos para usar lâmpadas mais econômicas, diminuir a duração do banho ou trocar eletrodomésticos antigos para economizar energia? Há bons motivos para fazer isso: você gasta menos dinheiro na conta e ainda ajuda a salvar o planeta. Por que ninguém se compromete então? Uma empresa formada por jovens recém-formados de Colorado, nos EUA, está pegando emprestado o que a humanidade aprendeu com FarmVille e aplicando à economia de energia. E o jogo está dando resultado.
Em vários estados dos EUA, já há uma espécie de smart grid instalado, que fornece o consumo de cada residência em tempo real para a concessionária fornecedora de energia. Isso é importante tanto para que o consumidor tenha uma ideia mais detalhada do seu gasto quanto para que a empresa possa saber os horários de maior demanda, por exemplo. Essa enorme quantidade de dados vira uma espécie de API, que pode ser explorada das mais diversas formas – algumas fornecedoras de eletricidade mandam e-mails para o consumidor depois que ele ultrapassa a sua média.
Mas há bem mais potencial aí, pensou o simpático Yoav Lurie ao criar a Simple Energy na incubadora de empresas da universidade de Boulder, Colorado, ano passado. Se eles conseguissem transformar as metas de economia de energia em uma espécie de jogo, compartilhado via redes sociais, as pessoas poderiam se engajar mais. Eles criaram então um software aproveitando as APIs das companhias de eletricidade com interface bonitona (que realmente tem um jeitão de jogo de Facebook) onde apareceria o seu consumo de energia, comparado a dos seus vizinhos e dos seus amigos do Facebook (os dados públicos eram bastante limitados, por questões de privacidade). Um projeto-piloto começou em um município do Texas e logo as pessoas entraram no jogo. Em vez de “ajude-me a regar a minha plantação de tomate”, começaram a aparecer na timeline dos moradores “hey, consegui reduzir 10% do meu consumo. Tente bater o meu resultado.”
Não era necessário tanto sacrifício, tipo mandar a molecada tomar banho frio. “Cerca de 20% do nosso consumo de energia é para coisas em standby, o uso vampiro. Nós acreditamos que podemos ajudar os consumidores a reduzir esses 20% e mais 20% em cima disso se eles forem motivados.”
O mais interessante é que há um gigantesco mercado aí. Todas as fornecedoras de eletricidade dos EUA (a maioria não-estatal) tem que cumprir objetivos agressivos de diminuição de desperdício estabelecidos pela ANEEL americana. Se elas não conseguirem (e elas não tem conseguido), elas acabam pagando multas bastante pesadas. Por isso elas gastaram, de acordo com Yoav, US$ 12 bilhões só no ano passado tentando convencer seus consumidores a consumir menos do seu produto. Por essa lógica, uma empresa com o expertise da Simple Energy seria mais eficaz para promover essa mudança de hábitos de consumo, livrando as companhias elétricas de multas – além de ser bem mais barata que aquela publicidade que ninguém dá bola mais.
Mesmo que as companhias e Estados não ofereçam prêmios, há uma boa chance de a Simple Energy pegar. “Apenas 4% do ganho médio de um americano é gasto na sua conta de eletricidade. Isso é pouco, mas na verdade como pessoas nós damos muito valor à nossa imagem. E vamos querer compartilhar o sucesso com os amigos e não parecer tão ruins em comparação aos nossos vizinhos. Faz parte do jogo”, explicou Yoav. Viva o FarmVille. Ou algo assim.
* O Gizmodo Brasil foi a Nova York a convite da Ericsson para ouvir a história do Simple Energy e outras inspiradoras e inovadoras ideias contadas no 2º Social Good Summit. O evento já acabou, mas ainda vamos contar mais delas para você ficar mais otimista.