Um aplicativo para profissionais de saúde para dispositivos móveis, como celulares e tablets, pode tornar o diagnóstico de hipertensão e diabetes mais eficiente, preciso e rápido. Desenvolvida e testada em um estudo do Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e o Instituto de Avaliação de Tecnologias em Saúde (IATS), do Rio Grande do Sul, a tecnologia promete contribuir para investigações clínicas mais acessíveis e assertivas dessas doenças. Seu teste está descrito em artigo publicado na segunda (12), na revista científica “International Journal of Cardiovascular Sciences”.
Chamada de Sistema de Suporte à Decisão Computadorizado para Triagem de Hipertensão e Diabetes, a tecnologia tem a capacidade de personalizar o atendimento a pacientes suspeitos de hipertensão ou diabetes. Ela monta um fluxograma de rastreamento dessas doenças a partir de dados do paciente, como peso, estatura e pressão arterial, coletados pelo médico ou enfermeiro. A partir disso, o aplicativo indica se o paciente deve ou não continuar a ser monitorado nas etapas seguintes.
Isso pode facilitar o diagnóstico e o acompanhamento de pacientes em áreas remotas. Hoje, segundo observam os pesquisadores, muitos deles acabam desassistidos por dificuldade de acesso às unidades ou baixa adesão aos cuidados de saúde.
O sistema foi criado por uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde e de tecnologia da informação, que identificou que a população do Vale do Mucuri, no nordeste de Minas Gerais, tinha pouco acesso a serviços especializados e tratamentos de saúde. Entre abril de 2017 e outubro de 2018, mais de 18 mil pacientes foram avaliados com o auxílio do aplicativo, em 34 unidades de saúde primária de dez municípios dessa região, resultando no diagnóstico de 225 casos de hipertensão ou diabetes.
A facilidade de uso do aplicativo foi um dos pontos positivos apontados pelos testes. Entre 258 profissionais de saúde que usaram o programa, 85% concordaram que o software é fácil de usar, enquanto 78% recomendariam a plataforma para seus colegas.
Para Laura Defensor Ribeiro de Melo, autora do estudo, uma das vantagens do sistema é a mobilidade. “O fato de ser um software disponível para dispositivos móveis favorece o acesso a pacientes que, por algum motivo, não podem se deslocar às unidades assistenciais”, comenta. Durante os testes, o aplicativo foi eficaz nas unidades de saúde e, também, em feiras de saúde e visitas domiciliares — mesmo sem conexão de internet.
A pesquisadora também ressalta a integração de dados como um diferencial. “O sistema é capaz de integrar informações inseridas em dispositivos distintos, facilitando o resgate de dados por diferentes profissionais durante toda a etapa do rastreamento”, explica.
De acordo com Melo, ao apoiar a tomada de decisão de profissionais em relação ao diagnóstico de hipertensão ou diabetes, o aplicativo pode colaborar para melhorar a qualidade de vida desses pacientes. “O diagnóstico precoce dessas doenças, crônicas e silenciosas, permite o manejo clínico antecipado e a prevenção de complicações a longo prazo”, diz. Ela salienta que tanto a hipertensão como a diabetes são fatores de risco para doenças cardiovasculares, principal causa de morte no Brasil e no mundo.
O trabalho indica que o sistema visa aprimorar a prevenção e tratamento dessas doenças na rede pública de saúde, principalmente, em áreas remotas. Ainda falta, no entanto, avaliar os benefícios financeiros da tecnologia, o que já está programado como próximo passo da pesquisa. “Para sustentar a possibilidade de agregação da plataforma aos sistemas de saúde, é crucial medir a economia orçamentária potencial decorrente do rastreamento precoce, manejo assertivo, mitigação de complicações e melhoria da qualidade de vida dos pacientes”, finaliza Melo.