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Novos resultados acabam com teoria da “megaestrutura alienígena” sobre a Estrela de Tabby

Os resultados chegaram, depois de uma investigação de um ano de duração, financiada por meio de crowdfunding, sobre a estrela KIC 8462852. E para a surpresa de quase ninguém, a estranha diminuição de brilho produzida por essa estrela não parece ser causada por uma megaestrutura alienígena. Dito isso, os astrônomos agora estão significativamente mais perto de […]

Os resultados chegaram, depois de uma investigação de um ano de duração, financiada por meio de crowdfunding, sobre a estrela KIC 8462852. E para a surpresa de quase ninguém, a estranha diminuição de brilho produzida por essa estrela não parece ser causada por uma megaestrutura alienígena. Dito isso, os astrônomos agora estão significativamente mais perto de saber as verdadeiras razões por trás do estranho comportamento da estrela.

• Aquela “megaestrutura alienígena” está agindo de forma estranha de novo
• Esta é provavelmente a melhor explicação para aquela “megaestrutura alienígena”

A estrela variável KIC 8462852, também conhecida como Estrela de Tabby, está localizada a mais de mil anos-luz da Terra. Ela é cerca de 50% maior do que nosso Sol e aproximadamente 537 graus celsius mais quente. Mas graças a observações feitas pelo Telescópio Espacial Kepler, de 2009 a 2013, sabemos que essa estrela, normal em todos seus outros aspectos, passa por diminuições de brilho esporádicas e intermitentes (pelo menos a partir de nosso ponto de vantagem na Terra). Essas quedas misteriosas de luminosidade são de até 22%, às vezes durando dias. Uma análise histórica recente da Estrela de Tabby mostrou que mudanças no brilho geral do objeto acontecem em intervalos de tempo que vão de anos a séculos.

Os astrônomos não haviam visto nada semelhante a isso anteriormente, o que levou a uma série de teorias. As explicações incluíam: um “enxame de cometas“, um planeta recém-aniquilado, uma estrela distorcida, escurecimento de gravidade e até mesmo megaestruturas alienígenas.

Em maio de 2016, o astrônomo da Universidade Estadual da Louisiana Tabby Boyajian, montou uma vaquinha online no Kickstarter na esperança de conseguir financiamento para pesquisas futuras, e entusiastas do espaço doaram mais de US$ 100 mil. Esses fundos foram usados para dar apoio a uma pesquisa de telescópio terrestre dedicada sobre a Estrela de Tabby no Observatório Las Cumbres, em Goleta, na Califórnia, que funcionou em conjunto com uma rede de telescópios profissionais e amadores de todo o mundo. Ao todo, cerca de duas mil pessoas estiveram envolvidas na pesquisa, cujos resultados agora foram publicados no periódico The Astrophysical Journal Letters.

O comportamento da estrela foi monitorado de perto de março de 2016 a dezembro de 2017. Começando em maio de 2017, os astrônomos conseguiram registrar quatro episódios de escurecimento distintos, chamados de Elsie, Celeste, Scara Brae e Angkor, nomes escolhidos pelos apoiadores do Kickstarter por meio de votações. A diminuição de brilho persistiu por vários dias e semanas. Depois de quatro quedas de luminosidade (coletivamente chamadas de Elsie, em referência ao “LC” do Observatório Las Cumbres, maior apoiador no Kickstarter), a estrela exibiu um brilho inesperado por dois meses.

A recorrência desses episódios de diminuição de brilho foi muito importante, por, entre outras coisas, finalmente descartar efeitos instrumentais de Kepler (o que já era considerado improvável, de qualquer forma). Também foi a primeira vez que cientistas puderam observar as quedas de luminosidade em tempo real.

Observando dados fotométricos e espectroscópicos, os pesquisadores conseguiram descartar também a presença de uma megaestrutura alienígena (como uma Esfera de Dyson envelopando o Sol), ao mesmo tempo em que afirmavam uma teoria propondo que a estrela está cercada de poeira espacial comum.

Versão de um artista para uma Esfera de Dyson. Para ter uma ideia de escala, a casca exterior estaria localizada a aproximadamente uma unidade astronômica (distância entre a Terra e o Sol) da estrela envelopada, ou aproximadamente 150 milhões de quilômetros, dependendo da configuração. (Crédito: Slawek Wojtowicz)

Tyler Ellis, estudante de pós-graduação em astronomia na Universidade Estadual da Louisiana e coautor do novo estudo, diz que os dados coletados pelo Observatório Las Cumbres e outros observatórios descarta, efetivamente, uma megaestrutura alienígena, mas admite que é uma questão complicada, porque não sabemos exatamente como uma civilização alienígena poderia construir uma megaestrutura ou quais os tipos de materiais que ela usaria.

“Se pudéssemos presumir que a construção fosse feita de materiais de construção normais, então seria de se esperar que fosse opaca e absorvesse luz monocromaticamente”, Ellis contou ao Gizmodo. “Isso resultaria em uma diminuição de brilho geral da estrela sem a absorção seletiva de cores específicas. Isso é exatamente o oposto do que estamos relatando. As observações do Las Cumbres mostram que o material oculto, seja lá o que estiver bloqueando a luz da estrela, preferencialmente absorve luz azul. Isso tem o efeito de avermelhar o espectro da estrela.”

Além disso, como aponta Ellis, um objeto semelhante a uma Esfera de Dyson absorveria a luz da estrela, fazendo com que a estrutura se aquecesse e, posteriormente, emitisse radiação infravermelha que seria detectável da Terra.

“Essa luz radiada pela estrutura criaria um excesso infravermelho”, disse Ellis. “Esse excesso é observado em estrelas jovens com grandes quantidades de gás e poeiras coalescentes. Não observamos qualquer excesso infravermelho. No entanto, precisamos buscar em comprimentos de onda maiores para restringir melhor isso.”

Também é importante apontar que, se a diminuição de luz fosse realmente causada por uma megaestrutura alienígena, a natureza intermitente da cintilação provavelmente aconteceria por causa de uma Esfera de Dyson parcial, ou uma sob construção. Neste último caso, as chances de observarmos esse evento passageiro seriam incrivelmente implausíveis (uma civilização alienígena avançada não levaria muito tempo para construir algo assim).

Astrônomo da Universidade Penn State e coautor do estudo, Jason Wright, primeiro a especular uma potencial megaestrutura alienígena, diz que é improvável que objetos grandes e sólidos estejam bloqueando nossa vista da luz da estrela.

“Se houvesse objetos opacos bloqueando nossa vista da luz, a estrela deveria apresentar queda de brilho igual em todos comprimentos de onda”, escreveu em seu blog. “Em vez disso, [descobrimos que] as quedas de luminosidade azuis são muito mais profundas — cerca de duas vezes mais profundas — do que quando observamos comprimentos de onda infravermelhos… as diminuições de luminosidade não são causadas por objetos macroscópicos opacos (como megaestruturas, planetas ou estrelas), mas por nuvens de partículas muito pequenas de poeira (de menos de 1 mícron de tamanho). Também podemos dizer que essas nuvens são, em sua maioria, transparentes (‘opticamente finas’ em termos astrofísicos).”

Análises mais aprofundadas descartaram gás acompanhante (o que favoreceu a teoria cometária), ou um objeto de companhia em órbita em torno da estrela.

Mas esse mistério está longe de ser desvendado. Wright gosta da hipótese da “poeira espacial”, mas existem várias explicações, que vão de plausíveis a seriamente improváveis (como um disco de buraco negro em órbita), que ainda precisam ser descartadas. A estrela mais misteriosa de nossa galáxia ainda vai passar por muita pesquisa.

Conforme a equipe se prepara para essa próxima fase, Ellis é contundente ao apontar que esse trabalho só foi possível por causa da “confiança e generosidade” dos apoiadores do Kickstarter e pelas contribuições de astrônomos amadores e cientistas cidadãos.

“O alvo foi descoberto por pessoas comuns com tempo livre e o trabalho de acompanhamento financiado por pessoas comuns com alguns trocados sobrando”, Ellis contou ao Gizmodo. “Esse alvo poderia muito bem ter passado despercebido no arquivo de dados do Kepler. Esse projeto não teria chance alguma diante de uma agência de financiamento padrão ou um comitê de alocação (de recursos) de telescópio; os cientistas não podem simplesmente solicitar alguns minutos todas as noites em um telescópio ou pedir financiamento para o que é, basicamente, uma expedição de pesca. Espero que tenhamos mostrado que é possível fazer ciência valiosa com plataformas de financiamento coletivo.”

[The Astrophysical Journal Letters]

Imagem do topo: NASA/JPL-Caltech/T.Pyle

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