O cheiro de ovo podre faz você pensar em lixo, mas no futuro esse cheiro desagradável poderá estar relacionado com trens de alta velocidade. O sulfureto de hidrogênio – o composto químico que emite o cheiro forte de ovo podre – é um supercondutor com um potencial imenso.
O composto conduz eletricidade sem resistência a temperaturas de até 70°C, explicaram físicos na Nature. Isso significa que o sulfeto de hidrogênio é o supercondutor com maior temperatura que o homem conhece, superando o antigo campeão em cerca de 40°C. E isso importa muito porque trata-se de um grande passo em direção à descoberta de um supercondutor a temperatura ambiente, o que revolucionaria eletrônicos, tornando a geração diária de eletricidade e a sua transmissão muito mais eficientes.
Supercondutores – materiais que canalizam corrente elétrica sem resistência – foram inicialmente descobertos no começo do século 20. Eles são usados em algumas das mais importantes tecnologias do mundo moderno, de aparelhos de ressonância magnética a aceleradores de partículas, passando por forno micro-ondas e telefones celulares. Mas há um problema persistente: são necessárias temperaturas extraordinariamente baixas e muita energia para formar esses materiais mágicos. E alguns dos supercondutores de temperaturas altas são substâncias incomuns e caras. Uma classe exótica de compostos com cobre chamada de “cupratos” podem superconduzir a temperaturas de -109°C se antes forem expostos a pressão muito alta.
Mas agora os cupratos podem ser substituídos por outra coisa melhor. Quando Mikhail Eremets e seus colegas do Instituto Max Planck de Química na Alemanha colocaram pequenas quantidades de sulfeto de hidrogênio a até 1,6 milhão de vezes a pressão atmosférica, o material comum se transformou. Ele se torna supercondutor a temperaturas mais comuns na superfície da Terra. É um começo, e pode significar que uma classe inteira de compostos naturais se tornarão candidatos a supercondutores de alta temperatura.
Alguns cientistas estão bastante empolgados com a notícia: Igor Mazin, do Laboratório de Pesquisa Naval, chama o sulfeto de hidrogênio de “o cálice sagrado dos supercondutores.” Outros se mantêm céticos até que a descoberta seja confirmada. De acordo com a Nature News, um grupo da Osaka University conseguiu reproduzir a eletricidade, mas não as propriedades magnéticas de um supercondutor no sulfeto de hidrogênio, enquanto outros sequer conseguiram chegar a alguma supercondutividade.
Em relação aos supercondutores de temperatura ambiente que podem propulsionar os trens de alta velocidade e melhorar consideravelmente a tecnologia de ressonância magnética? “Teoricamente eles não são proibidos,” Eremets disse à New Scientist. Vamos precisar esperar para ver o que acontece.
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