É surpreendente que tenhamos sobrevivido à Guerra Fria. Ao longo da última década, surgiram inúmeras histórias de militares soviéticos e americanos que receberam ordens para disparar armas nucleares entre os anos 1960 e 1980. A consciência deles os impediu de fazer isso, apenas para descobrirem mais tarde que as ordens eram mesmo equivocadas.
Agora, temos outra história horripilante para acrescentar a essa lista crescente de possíveis futuros pós-apocalípticos.
O ex-aviador John Bordne e seus companheiros da Força Aérea quase lançaram suas armas nucleares na manhã de 28 de outubro de 1962, durante a Crise dos Mísseis de Cuba. A Força Aérea só agora deu permissão a Bordne para contar sua história de como os EUA quase começaram a 3ª Guerra Mundial.
Segundo o Bulletin of the Atomic Scientists:
Bordne diz que, no auge da crise dos mísseis de Cuba, as tripulações da Força Aérea em Okinawa foram ordenadas a lançar 32 mísseis, cada um carregando uma grande ogiva nuclear. O lançamento foi impedido apenas pelo cuidado, bom senso e ação decisiva da equipe que recebeu essas ordens, evitando a guerra nuclear que provavelmente teria se seguido.
O capitão William Bassett recebeu ordens para lançar suas quatro armas nucleares. Eles até passaram por três camadas de códigos de segurança, recebendo uma confirmação cada vez que estavam corretos.
Quando o capitão leu a lista de alvos, para a surpresa do grupo, três dos quatro alvos não estavam na Rússia. Neste momento, Bordne recorda, o telefone tocou. Era outro oficial de lançamento, relatando que sua lista tinha dois alvos não-russos. Por que atacar países não-beligerantes? Isso não parecia certo.
Além de visar países não-inimigos – cujos nomes Bordne não revela -, também não parecia certo que eles estavam apenas no nível 2 da escala DEFCON – ou seja, um estágio abaixo de uma guerra nuclear. Uma ordem de lançar ogivas faria mais sentido em DEFCON 1. Assim, o capitão ganhou tempo ligando para o Centro de Operações de Mísseis, mentindo sobre não ouvir claramente as instruções para disparar as bombas.
Os homens com os dedos no gatilho estavam prontos para lançar as bombas, segundo Bordne, mas o capitão enrolou novamente e ordenou dois aviadores armados a “atirar no [tenente] se ele tentasse fazer o lançamento sem [qualquer] autorização verbal do ‘oficial sênior em campo’ ou sem que o Centro de Operações de Mísseis declarasse DEFCON 1”.
“Se isso for uma confusão e nós não fizermos o lançamento, não teremos nenhum reconhecimento, e isso será esquecido”, disse o capitão Bassett, segundo Bordne, nos momentos angustiantes antes que eles quase iniciaram a 3ª Guerra Mundial.
De acordo com Bordne, o capitão disse ao Centro de Operações de Mísseis pelo telefone que, enquanto não ouvisse que o nível de ameaça aumentou para DEFCON 1, ele não iria cumprir a ordem. Nós não sabemos exatamente o que o Centro de Operações de Mísseis disse para o capitão Bassett, mas eles finalmente receberam a confirmação de que não deveriam lançar as armas nucleares.
Depois que a crise passou, Bassett teria dito à equipe: “nenhum de nós irá discutir qualquer coisa que aconteceu aqui esta noite – nada mesmo. Nenhuma discussão no quartel, em um bar, ou mesmo aqui no local de lançamento. Vocês nem escrevam para a família comentando isso. Estou sendo perfeitamente claro sobre este assunto?”
O capitão Bassett faleceu em 2011, e ninguém disse um pio em mais de 50 anos – até agora, claro. Pesquisadores estão pedindo que seja liberado um relato completo sobre esse incidente, e o Arquivo de Segurança Nacional entrou com uma solicitação formal para tanto.
Mas, por enquanto, podemos acrescentar outra quase-destruição do mundo aos livros de história. Você pode ler o relato completo de Bordne sobre o incidente aqui: [Bulletin of the Atomic Scientists]