Michael Hart inventou o e-book, a ideia que deu ao Kindle uma razão de existir, ajudou o iPad a chegar onde está, e hoje está acabando com livrarias tradicionais. Mas antes disso tudo, Hart só queria que e-books custassem zero real.
Há uma chance grande de você usar ou conhecer o Project Gutenberg, um dos maiores tesouros da internet. Entre seus 37.000 textos gratuitos, disponíveis em diversos idiomas e de graça, estão algumas das maiores obras feitas pela humanidade. Moby Dick, A Arte da Guerra, Guerra e Paz e diversas obras em português – tudo de graça. É incrível, mesmo que sejam livros antigos.
Então imagino o que Hart, falecido aos 64 anos na terça-feira, pensava de sua criação. Os e-books hoje são uma mercadoria bastante lucrativa – lucrativos o bastante para colocar caros gadgets de plástico em nossas mãos. Mas isto parece ir em direção oposta ao ethos do Project Gutenberg, de que as palavras deveriam estar à disposição de todos sem qualquer custo. Claro, a coleção do Project Gutenberg é de domínio público, e muitas coisas do Kindle e iPad não são.
O site do Project Gutenberg, em seu obituário para Hart, parece ter uma opinião decisiva para o assunto:
A invenção dos e-books não foi simplesmente uma inovação tecnológica ou a precursora do ambiente moderno de informação. Um entendimento mais correto é que os e-books são uma forma eficiente e efetiva de distribuição gratuita e ilimitada de literatura. O acesso a e-books pode então fornecer uma oportunidade para aumentar a erudição. A erudição, e as ideias contidas na literatura, criam oportunidades.
Bem, se e-books caros eram ou não o que Hart queria, não há dúvida: o texto digitalizado se tornou muito mais que conhecimento e oportunidade. [Project Gutenberg]